Sameiro, protagonismo para a beleza da Igreja

Nota do Arcebispo de Braga A peregrinação diocesana ao Santuário do Sameiro acontece, este ano, num dia litúrgico que deveríamos acolher como graça. O dia do Pentecostes é o Dia da Igreja porque é o Espírito Santo que a edifica. Isto acontecerá de duas maneiras: rezando para que a vida da Arquidiocese seja, sempre e só, segundo os desígnios do Espírito Santo e assumindo a responsabilidade que nos é confiada como verdadeiros “Templos do Espírito Santo”, ou seja, não meros repositórios duma realidade estática e muda mas como mediadores que oferecem ao mundo e à Igreja a variedade dos dons do mesmo Espírito, através dum dinamismo renovador das comunidades e criador dum mundo novo. 1 – Maria como exemplo do compromisso Ao olharmos para Maria, que no Sameiro veneramos como Imaculada, estamos a reconhecer que o Espírito Santo a encheu e a tornou colaboradora activa do Seu Filho. “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra” (Lc. 1, 35). Isto aplica-se a cada um de nós: simples homens ou mulheres onde, deixando-se conduzir pelo Espírito, o “poder” do Altíssimo realiza maravilhas para uma Igreja nova e uma sociedade mais justa. 2 – O Apostolado organizado na pastoral hodierna Pensando na Arquidiocese de Braga e aceitando o Pentecostes como o Dia do Apostolado, ou seja, dos movimentos – quer nós celebramos no dia de Cristo Rei –, quero dar graças a Deus pelos movimentos que temos – em número e qualidade dos seus membros. Não posso, porém, alhear-me a um certo medo do compromisso com a consequente diminuição de movimentos nas nossas paróquias. Seria ingrato se não os visse mas a verdade obriga-me a afirmar – e como seria bom que as comunidades se examinassem neste sector – que as Visitas Pastorais manifestam a reduzida existência desta vitalidade do Espírito nas mesmas. Será medo do compromisso, consequência duma vida desorganizada nos horários e das exigências do trabalho, ou pouco interesse no seu acompanhamento por parte dos responsáveis? 3 – As Confrarias com novos desafios Com os movimentos encontramos as Confrarias que também devem ser sinal desta presença do Espírito que, através de homens e mulheres, prossegue determinadas finalidades de harmonia com os Estatutos. Muitas estão adormecidas, outras perderam a vitalidade e muitas outras procuram o mínimo, quando não se limitam à realização de festas muitas vezes sem grande dimensão cristã. Teremos de reflectir, em comum, sobre este pormenor manifestador da riqueza espiritual das cerca de 1.500 confrarias existentes na Arquidiocese. Este ano teremos um encontro com as Confrarias com peregrinações de índole arciprestal. Reflectiremos, em comum, e partiremos para desafios que manifestem esta maravilha dum apostolado organizado que também passa por aqui. A peregrinação carrega um ambiente que pode interpelar para uma vida cristã séria e comprometida. Os Santuários são lugares procurados por multidões que, muitas vezes, pretendem encontrar um sentido para a vida. Os tempos mudaram e necessitamos de colocar as Confrarias perante novos desafios. 4 – O apelo da hora actual Ontem, por sugestão do Papa Bento XVI e repetindo o Pentecostes de 1998, reuniram-se em Roma cerca de 300.000 pessoas pertencentes a mais de 100 movimentos ou novas comunidades eclesiais. Este encontro foi precedido por um Congresso dos seus representantes que abordou a temática: “A beleza de ser cristão e a alegria de comunicá-lo”. Junto da imagem de Nossa Senhora do Sameiro quero pedir para muitos cristãos das nossas comunidades estes dois sentimentos: a beleza de ser cristão e a alegria de o comunicar. Necessitamos de homens e mulheres, rapazes e raparigas, que experimentem que o cristianismo é a maior beleza do mundo. Não precisamos de condenar as outras experiências nem aceitar as depreciações que são formuladas. Só quem experimenta se pode sentir cristão. Depois desta experiência impõe-se a responsabilidade da alegria colocada em anunciar Deus como beleza e a vida como festa decorrente dessa certeza. Como nos recordava a segunda leitura haverá algo de mais belo e maravilhoso – que devemos anunciar – que a caridade, a paz, a alegria, a paciência, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, a esperança? Terão beleza verdadeiramente humana a luxúria, a imoralidade, a libertinagem, a feitiçaria, a idolatria, as inimizades, os cinismos, as discórdias, a ira, as rivalidades, as dissenções, os faccionismos, as invejas, a embriaguez, as orgias? Teremos hipótese para hesitar ou colocar dúvidas sobre o que dá alegria e torna a vida bela? Que Maria nos conceda o dom de reconhecer o cristianismo como beleza e nunca como rostos sombrios e que a alegria seja a divisa que apresentamos em todos os ambientes, qual apostolado convincente! 5 – Anunciar, com alegria, a beleza da família cristã Se esta beleza e alegria se conseguem com trabalho pessoal, é na família que as coisas acontecem. Estamos a trabalhar a Família. Que resultados estamos a conseguir? Não poderei ter o direito de esperar das nossas comunidades que experimentem a beleza – em confronto com tantas alternativas – de lares cristãos fieis, unos, indissolúveis, conscientes da sua vocação à santidade crescendo no amor e na doação à vida? Não poderei esperar mais alegria oferecida por casais bons e maravilhosos mas que se fecham e não querem comunicar felicidade de ser um lar cristão? Surgem muitas desculpas de tempo, de incapacidades. Quando nos deixamos conduzir pelo Espírito, o tempo aparece e todos temos alguma coisa para dar. Fico triste quando vejo os cristãos e os casais a restringirem os horizontes da sua vida cristã à interioridade duma religião compensadora. O Espírito Santo interpela-nos e a Sua força é coragem que nenhum obstáculo consegue vencer. A história testemunha que quando existe vontade, o resto acontece. Neste dia de concentração diocesana, sentado no colo da mãe, pergunto aos nossos cristãos e famílias: estamos contentes com o mundo que nos rodeia? Não vemos que outros o constróem alheando-se dos nossos valores culturais? Maria, Mãe de Família e Senhora do Sameiro, concedei-nos um protagonismo mais eloquente nos nossos cristãos através dos movimentos e em todos os ambientes e particularmente na família. Dai-nos a alegria de mostrar a beleza de Deus através dum protagonismo laical e familiar. + Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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