Renovação cristã passa necessariamente pelo sacramento da Reconciliação

32º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica “A reconciliação na vida e na missão da Igreja” é o tema do 32.º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, que este ano se propõe a reflectir sobre o sacramento que, nas suas várias designações – sacramento da conversão, da Penitência, da confissão, do perdão e da Reconciliação, chama o cristão à reconciliação com Deus, pela renovação da graça. Em mais uma organização do Secretariado Nacional de Liturgia, o 32.º Encontro terá lugar em Fátima, no Centro Pastoral Paulo VI, de 24 a 28 de Julho próximo, e incluirá celebrações religiosas na Basílica e na Capelinha das Aparições. Em breve entrevista à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o P. Pedro Lourenço Ferreira, OCD, director do Secretariado Nacional de Liturgia, fala sobre o Encontro e reflecte sobre o Sacramento pelo qual acredita que passa a renovação cristã. Porquê este ano a escolha do tema da Reconciliação, apresentado em jeito de apelo, de convite: “Deixai-vos reconciliar com Deus”? P. Pedro Ferreira – O tema do Encontro é a Reconciliação na Vida e na Missão da Igreja. A apresentação e divulgação desta actividade de pastoral litúrgica é feita com as palavras de S. Paulo aos Coríntios: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20). Este assunto aguardava há anos a oportunidade de ser apresentado. A celebração dos 90 anos das Aparições de Fátima, e por proposta do Santuário de Fátima, escolhemos este tema para o propor à pastoral litúrgica em plano nacional, já que o Encontro de Fátima é normalmente retomado e desenvolvido pelas dioceses. A apresentação do tema em forma de convite é já uma definição do sacramento da Reconciliação: «Tudo vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e confiando-nos a palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 18-20). Concorda que o Sacramento da Reconciliação está “em desuso”? P. Pedro Ferreira – Não penso que o Sacramento da Reconciliação esteja em desuso, apesar dos indicadores estatísticos, que entretanto carecem de uma leitura interpretativa da realidade. Creio firmemente que a Reconciliação é um dos sacramentos da renovação cristã. Depois do Baptismo, este é o sacramento que predispõe o homem para todo e qualquer encontro com Deus. A renovação cristã passa necessariamente por este sacramento. A ineficácia das celebrações cristãs deve-se em parte à falta de reconciliação com Deus: não escutamos nem nos atrevemos a falar a Deus porque isso compromete a nossa vida e influencia as relações humanas e os comportamentos sociais. A fraqueza do cristianismo encontra-se na falta de reconciliação com Deus pela resistência humana à obra da graça e pelas implicações que a conversão tem na vida social. A reconciliação é obra de Deus que pelo ministério da Igreja chama à conversão. Este ministério precisa de ser mais explícito e daí a proposta de aprofundamento e vivência do Sacramento da Reconciliação. Nos três ciclos da mensagem – Anjo, Nossa Senhora, Cordis Mariano – um dos apelos constantes é o apelo à penitência, revelando o sentido do perdão e da misericórdia de Deus. Actualmente a Igreja ainda deve valorizar a noção de pecado? P. Pedro Ferreira – O pecado é a realidade que separa o homem de Deus pelo uso indevido da liberdade humana quando esta se afasta dos desígnios do Criador. À graça original de Deus seguiu-se o pecado do homem. A Deus opôs-se o Diabo. Só a revelação de Deus pode iluminar esta realidade humana de modo que o homem possa tomar consciência da sua situação de pecado e falta de graça. Foi assim com os nossos primeiros pais no Paraíso e assim continua a ser. Nem Cristo se isentou desta realidade: aceitou ser tentado para nos ensinar a vencer a tentação. Ignorar a existência do pecado é a maior e a mais terrível tentação a que o homem pode ser submetido. A consciência da falta de pecado procede da ausência de Deus por ignorância ou por opção de vida. E onde Deus não tem lugar reinam o pecado e as suas consequências humanas e sociais. A mensagem de Fátima situa-se no contexto da frequente intervenção divina na história dos homens com apelos de conversão. O sentido da conversão é por o pecado ser contra Deus, e por as consequências do pecado constituírem grandes males para a humanidade. O ciclo histórico em que a mensagem de Fátima se situa e se realiza constitui, à luz da fé, uma catequese preciosa sobre o pecado como o grande mal e a causa de todos os males. A conversão e a penitência, sinais de retorno a Deus, alcançam o perdão e a misericórdia de Deus para toda a humanidade. Esta revelação de Cristo, verdadeiro ministro da reconciliação, é objecto da pastoral da Igreja que denuncia o pecado e proclama a graça do perdão e da misericórdia de Deus, tão importantes na mensagem de Fátima.

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