A também conhecida como «festa da lagartixa» une a devoção e a natureza
Santarém, 22 julho 2020 (Ecclesia) – O historiador António Matias Coelho explicou à Agência ECCLESIA que a Romaria a Tamazim é uma festa organizada pelas jovens da aldeia do Semideiro, na diocese de Santarém, num momento de união entre a devoção e a natureza.
“Esta é uma manifestação religiosa e festiva da tradição popular de uma das mais pequenas aldeias da Chamusca, que é o Semideiro e uma festa tão particular e única talvez no país, e a juventude da aldeia, participativa e que gosta da sua terra, tem mantido a festa viva e prometedora”, explica o entrevistado.
A aldeia do Semideiro fica na ponta leste do concelho da Chamusca, sendo “pouco habitada, com um crescente envelhecimento, vive da agricultura e da exploração da floresta” mas com muitos jovens que têm organizado esta festa.
“Quando a juventude pega nas festas temos a certeza que têm futuro”, aponta António Matias Coelho nas Conversas na ECCLESIA, sobre “O Sagrado e as Gentes”.
O historiador e conhecedor dos costumes e tradições da Chamusca revelou que esta romaria se trata de uma devoção à Nossa Senhora da Luz , “ou como o povo gosta de identificar a Santa da Luz”, e consiste numa procissão em maio.
“É uma imagem da devoção das pessoas do Semideiro, que estava na capela da Herdade de Tamazim, quando estava habitada, a capela está todo o ano sozinha e vazia, não vive nem trabalha ali ninguém”, explica.
Numa manhã de maio “as raparigas da aldeia, universitárias muitas delas”, tratam do arranjo do andor e as pessoas vão-se juntando para ir até Tamazim, onde está a capela do século XVII.
“A procissão, que decorre do Casal de Cascalheira por um caminho de terra, demora cerca de meia hora a fazer, não é para fazer figura é uma questão de fé genuína, segue em silêncio e a rezar o terço, sinais de sentido religioso autêntico”, refere.
António Matias Coelho destaca ainda que o caminho de charneca por onde passa a procissão é literalmente “pelo meio do mato, onde há sobreiros, azinheiras e alguns eucaliptos, e mato giestas, estevas, rosmaninho e alecrim bem vivos na borda do caminho por onde segue a procissão, numa relação íntima por um lado com a Santa da Luz mas com a natureza, a charneca, o espaço natural”.
“É também conhecida pela festa da lagartixa porque estes animais, quando sentem o território invadido vêm ver o que se passa, estão sozinhas o ano inteiro e naquele dia do ano vem tanta gente, e muitas vão aparecendo e cruzam o caminho na frente e no meio da procissão”, conta.
Atualmente a festa tem ainda uma “componente lúdica e festiva, de comes e bebes e de convívio entre as pessoas, que se tem intensificado nos últimos tempos”.
Ao longo do mês de julho, de segunda a sexta-feira, a Agência ECCLESIA divulga um lugar onde “O Sagrado e as Gentes” se cruza, seja vivência de festas e romarias, na preservação do património ou na divulgação de tradições e culturas religiosas, nomeadamente as que se encontram entre as finalistas às 7 maravilhas da cultura popular.
SN