Construir a sociedade escutando e intervindo

Homilia do Cardeal-Patriarca na Bênção de finalistas em Lisboa Meus caros Finalistas, Começo por vos saudar por terdes terminado os vossos cursos. É uma etapa importante nas nossas vidas. Até agora preparaste-vos para a vossa intervenção adulta na construção da sociedade, que enquadrará a vossa realização pessoal e a conquista da felicidade. Iniciais a vossa vida profissional num momento difícil da nossa sociedade portuguesa, em que ventos de pessimismo e desânimo começam a toldar a esperança. Alguns de vós ireis sentir, porventura, as consequências desse espírito de crise, logo na incerteza de um primeiro trabalho. Mas os jovens não podem ser protagonistas do pessimismo e do desânimo. Transformai a sociedade com a ousadia da vossa criatividade, a coragem da vossa luta, o sentido generoso da busca do bem comum. Frequentemente por detrás do desânimo está o egoísmo com que se construiu o sentido da própria vida. Quisestes vir receber a Bênção de Deus, nesta fase importante da vossa vida. Assumi corajosamente o sentido e as consequências deste vosso gesto. Viver como se Deus não existisse está na moda, é característica facilitante da cultura vigente e, temos de o admitir, é à primeira vista mais fácil do que aceitar viver a vida com Deus, perscrutando o seu desígnio e escutando a Sua Palavra. Mas se é mais fácil, não é certamente o melhor caminho para viver a vida com sentido, lutando por uma sociedade à altura da grandeza e da dignidade da pessoa humana. Deus existe e ama-vos. Não é Deus que precisa de nós; somos nós que precisamos de Deus. Admiti-lo é o princípio da sabedoria, de que nos falava a primeira Leitura da Sagrada Escritura (Sir. 6,18-19,26-28,33.37). Nessa Leitura há uma afirmação que pode ser a mensagem a não esquecer, a transformar em “palavra de ordem” da vossa vida: “Se souberes escutar aprenderás”. Saber escutar é a atitude fundamental para chegar à sabedoria, isto é, à maturidade do discernimento que nos levará às atitudes mais exactas e aos caminhos mais adequados, na realização da nossa liberdade. Dar prioridade à atitude de escuta é reconhecer que a verdade nos é comunicada, que não a encontramos apenas vasculhando os recônditos do nosso eu, mas a recebemos de outros, a aprendemos, interiorizando-a, depois, na nossa liberdade e na nossa consciência. Aprendei isto: não sois, na vossa individualidade, a única, nem a principal fonte da verdade que vos há-de guiar. Esta aprende-se escutando, amando, dando-se as mãos para as grandes causas comuns. Escutai, antes de mais, o Senhor. Ele fala-nos continuamente, quer através da Sagrada escritura e da palavra da Igreja, quer revelando-Se ao mais íntimo do nosso coração. Escutar o Senhor, pode ser sinónimo de escutar o mais íntimo do nosso coração, tantas vezes abafado pelo boliço do imediatismo. Para escutar a profundidade é preciso fazer silêncio em relação ao exterior imediato dos nossos sentimentos, ideias e convicções. Fazei silêncio para escutar e talvez descubrais a arte de rezar. É preciso, depois, aprender a escutar os outros. Vivemos num tempo em que, aparentemente, todos têm coisas a dizer e ninguém escuta ninguém. Deixar de escutar é cair em autismo intelectual e espiritual, que corrói por dentro o ambiente solidário de comunhão e co-responsabilidade com que queremos construir a nossa cidade. Tantas vezes a verdade dos outros explicita e dá forma às nossas intuições de verdade. Escutai os mestres, os sábios, os experientes, as pessoas que convosco partilham a vida. Escutai sobretudo aqueles que vos amam, porque o amor é o campo onde germina e brota a verdade. Escutai a história de que sois protagonistas, escutai o clamor silencioso do povo a que pertenceis, para poderdes ler os “sinais dos tempos”. Mas esta atitude de escuta não significa passivismo. Quem escutar, aprende a intervir. E a nossa sociedade precisa, cada vez mais, de iniciativa dinâmica e esclarecida. O discernimento a que a escuta nos conduz leva-nos, em primeiro lugar, a assumir que o progresso da sociedade depende da intervenção responsável de todos os portugueses. Portugal será o que os portugueses quiserem, na generosidade com que se empenham na solução de problemas e realização de objectivos. E neste aspecto é cada vez mais decisiva a mobilização da chamada “sociedade civil”. Compete ao Estado apoiar e enquadrar, num projecto nacional, a criatividade da iniciativa de todos os portugueses. Esperar que do Estado venham todas as soluções é a mais séria manifestação de passivismo. Parti com coragem, juntai-vos a quantos contribuem generosamente e com ideal para o bem comum. Considerai-vos sempre protagonistas da história. E Deus vos iluminará e vos abençoa. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca Saudação ao Patriarca Senhor Patriarca: É envolvidos num mar de cor e alegria que nós, finalistas das escolas superiores de Lisboa, estamos aqui hoje reunidos para agradecer a Deus tudo o que recebemos ao longo do nosso curso, agora prestes a terminar e ao mesmo tempo a comprometermo-nos no serviço activo na sociedade. Para esta nova etapa da nossa vida pedimos a Bênção de Deus. Queremos dar uma especial atenção aos nossos pais, professores e amigos que nos acompanharam e apoiaram de uma forma que nos marca com alegria e agradecimento. Senhor Patriarca, muito obrigada por ter querido estar connosco. É nossa vontade, neste momento, estar no mundo ao jeito de Jesus Cristo; ser um sinal de entrega ao outro, sobretudo aos mais fracos. Ser um sinal de Serviço. Muitos serão os obstáculos que vamos encontrar, mas queremos encarar cada dificuldade como um novo desafio que enfrentamos com garra e força. Por vezes, surgirá a tentação para o comodismo, para o individualismo, a tendência para a rotina… serão por vezes mais apetecíveis. Mas a nossa missão leva-nos a comprometermo-nos a ser cidadãos activos, construtores de um mundo mais justo, mais solidário, mais próspero, um mundo mais feliz. Trazemos os nossos sonhos, as nossas preocupações, as nossas alegrias, os nossos projectos e os nossos talentos. Agora que chegamos ao fim de uma etapa tão importante da nossa vida e iniciamos outra tanto ou mais importante, estamos conscientes dos dons e talentos que nos foram concedidos e não queremos, nem podemos, enterrá-los, nem pô-los a render apenas em benefício próprio. Vamos antes continuar a cultivá-los e colocá-los ao serviço dos homens e mulheres nossos irmãos e irmãs. Serviço é uma palavra que ressoa nas nossas vidas, não queremos parar, queremos ser sal e fermento neste nosso mundo. “Um passado, um presente, uma esperança no futuro” – queremos ser uma esperança para a sociedade, um sinal de mudança, ser o futuro deste presente. Entregamos a Deus, com o nosso jeito de ser, esta esperança com que encaramos a vida. Senhor Patriarca, estamos pois conscientes da responsabilidade que assumimos e tendo Cristo como nosso companheiro vamos apostar e arriscar a viver a nossa missão. Queremos comprometermo-nos com a vida! Cátia Pereira, Psicologia

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top