Episcopados de todo o mundo procuram desmistificar teorias de Dan Brown Um pouco por todo o mundo, os meios de comunicação social têm passado a ideia de que a Igreja estaria a promover uma “campanha” contra “O Código Da Vinci”, mas as reacções dos episcopados católicos de vários países mostram, sobretudo, a intenção de procurar aproveitar o mediatismo do livro e, agora, do filme, para apresentar e discutir as verdades fundamentais do catolicismo. O filme, apresentado terça-feira à noite a cerca de dois mil jornalistas em Cannes, foi recebido com frieza pela crítica e, em alguns momentos, com gargalhadas da plateia perante cenas supostamente sérias – quando Tom Hanks, que desempenha o papel do professor de semiologia Robert Langdon, revela a Audrey Tautou, que encarna a jovem francesa Sophie Neveu, que é a descendente de Jesus Cristo. A ideia de que o filme poderia ajudar a perceber melhor as teorias de Dan Brown como uma pura ficção pode, de facto, vir a confirmar-se. Para os Bispos da Bélgica, os cristãos não têm “nada a temer” em relação à obra, com um argumento claramente hostil para a Igreja Católica, dado que não tem “nenhum fundamento histórico sério”. A Conferência Episcopal belga espera mesmo que os espectadores fiquem com vontade de “informar-se sobre a história do Cristianismo” e lembra que o desafio que se coloca à Igreja é “enfrentar a falta de cultura religiosa de tantos dos nossos contemporâneos”. Nos EUA, uma campanha de comunicação dos Bispos católicos do país procura, desde há alguns meses, oferecer chaves de leitura para este “Código”. Os recursos disponíveis incluem uma página na Internet (www.jesusdecoded.com), um documentário televisivo e um opúsculo de 16 páginas, intitulado “O verdadeiro Jesus”, com os quais se procura oferecer informação sobre Jesus, o ensinamento da Igreja e vários aspectos explorados pelo romance de Dan Brown. Para a Conferência Episcopal Italiana (CEI), a estreia do filme pode ser uma grande oportunidade para empreender um “trabalho pedagógico sobre a história do Cristianismo e da fé”. O presidente do organismo episcopal, Cardeal Camillo Ruini, considera que este tipo de obras têm um objectivo “claramente comercial”, mas podem constituir “uma contestação radical e infundada ao próprio coração da fé”, pelo que é preciso valorizar a herança cristã e apresentar “a verdade, que no fim ganha sempre”. A Conferência Episcopal Mexicana (CEM) publicou, por seu turno, um documento em que analisa as possíveis consequências do sucesso da obra, que poderia chegar até cerca de 800 milhões de pessoas. Os Bispos deste país acreditam que esta “é uma oportunidade para falar de Cristo, desde o ponto de vista da verdade”, criticando o modo “odioso” como as personagens da Igreja são apresentadas por Dan Brown. “Podemos aproveitar para levar os católicos em determinadas situações (intelectuais, jornalistas, empresários, etc.) a assumirem com mais responsabilidade a sua fé e a actuarem mais”, aponta a CEM. Também a Conferência Episcopal de El Salvador emitiu um comunicado no qual adverte que o perigo de “O Código Da Vinci” está em que “pretende transformar mentiras em verdades”, pelo que pode confundir as pessoas. A história, explicam, “contém enganos que há quase dois mil anos as seitas gnósticas propagam e que atentam gravemente contra as verdades mais sagradas para nós, os cristãos”. Na Inglaterra e País de Gales, a Agência Católica para a Ajuda à Evangelização (www.caseresources.org), constituída pelo episcopado católico, tem procurado oferecer respostas a pessoas “espiritualmente inquietas” e aos apoiantes de “O Código Da Vinci”. Em Portugal, as temáticas relacionadas com “o Código Da Vinci” estarão no centro do diálogo entre D. Manuel Clemente e D. Carlos Azevedo com a comunicação social, no encontro da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações sociais com jornalistas e profissionais dos media na próxima terça-feira, às 16h30, na sede da Conferência Episcopal. Preocupação e indignação Vários responsáveis da Santa Sé manifestaram a sua preocupação perante a popularidade da obra de Dan Brown. O Cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, assegura que este sucesso constitui um indicativo “chocante” tanto da ignorância das pessoas quanto do “prazer voluptuoso” que os media sentem em “promover obras que não têm base na verdade”. O Cardeal francês disse à rádio “Europe 1” que não faz objecções a que as pessoas assistam ao filme, desde que compreendam que se trata de uma obra de ficção. A obra de Dan Brown foi definida como “um conjunto de ofensas, calúnias, erros históricos e teológicos” pelo secretário da Congregação para a doutrina da fé, D. Angelo Amato. O Cardeal Francis Arinze, prefeito da Congregação para os Sacramentos e o Culto Divino, sugeriu, em entrevista à televisão católica RomeReports, que os cristãos recorram aos tribunais. “Os cristãos não podem permanecer de braços cruzados”, disse. A maior preocupação da Igreja, contudo, são as pessoas que não estão preparadas para entender o limite “entre fantasia e pesquisa histórica”, como refere o Reitor da Universidade Pontifícia Lateranense, Rino Fisichella. A burla do Priorado de Sião Bernardo Motta, que é hoje entrevistado no programa ECCLESIA (:2, 18h30), escreveu no início de 2005, um livro intitulado “Do Enigma de Rennes-le-Château ao Priorado de Sião, editado pela Ésquilo”. Este livro contém o resultado de alguns anos de trabalho, e é uma tentativa de síntese desta fantástica história do Priorado de Sião. Segundo o autor, os protagonistas do Priorado de Sião são três franceses, companheiros na criação de uma burla histórica incrível. Pierre Plantard, desenhador industrial, pessoa de origens humildes, era amigo de longa data do intelectual Phillipe de Chérisey, marquês falido e actor de teatro e televisão. Estes dois amigos, profundamente cultos e sabedores da história do seu país e da cultura europeia, decidiram criar uma farsa com o objectivo de tentar provar que Plantard era o legítimo herdeiro à coroa de França. Plantard queria provar que descendia da primeira dinastia dos Francos, a dinastia dos Merovíngios. Ele inventara o Priorado de Sião, fingindo tratar-se de uma organização secreta e poderosa, dizendo que a sua função sempre fora proteger uma linhagem merovíngia secreta, da qual Plantard afirmava que era o actual representante directo. Ele dizia que o Priorado estivera sempre por detrás de todas as heresias e que esta organização era a maior inimiga da Igreja Católica. Porquê? Porque, segundo Plantard, a Igreja Católica traíra o pacto estabelecido com o fundador da dinastia dos Merovíngios a partir do momento em que reconhecera e legitimara o primeiro rei da dinastia seguinte, a dos Carolíngios. Segundo Plantard, a suposta dinastia merovíngia oculta, representada por ele, estaria pronta, no século XX, para se vingar da traição da Igreja Católica, e para repor os merovíngios no trono de França. Durante anos, Plantard criou grupos e publicações de reduzida dimensão, ensaiando tácticas de desinformação e falsificação de documentos históricos, tentando ser visto como alguém politicamente relevante e tentando convencer o máximo possível de pessoas de que ele era o legítimo herdeiro da coroa. O caso ganha maior amplitude quando, nos anos sessenta, por intermédio do terceiro elemento, o jornalista e trotskista Gérard de Sède, os dois amigos descobrem as lendas de Rennes-le-Château, uma aldeia pequena nos Pirinéus franceses… Nesta aldeia, no final do século XIX, vivera o padre Saunière, um sacerdote cuja vida polémica fez correr rios de tinta. Saltando muitos detalhes que podem ser lidos na parte principal deste site, o padre Saunière foi culpado de décadas de desvio de donativos que pertenciam à Igreja Católica. Com esse dinheiro, Saunière construiu propriedades e viveu uma vida relativamente abastada, aproveitando para também beneficiar os habitantes da pequena e pobre aldeia de Rennes-le-Château. Por isso, era um padre amado pelo povo de Rennes. Mas as suas actividades não eram lícitas, em termos de Direito Canónico. Os últimos anos da sua vida foram bem tristes: Saunière foi alvo de um processo eclesiástico por parte do seu superior, o bispo de Carcassonne. Saunière era justamente acusado de desvio de fundos. Foi-lhe retirada a dignidade sacerdotal e morreu na miséria, falido, com inúmeras dívidas relativas às suas obras e às despesas elevadas que tinha tido com o processo em tribunal. Após a morte de Saunière, a sua governanta, a jovem Marie Dénarnaud, decide limpar o bom nome do seu antigo patrão, inventando a história de que a fortuna do padre se devera à descoberta de um fabuloso tesouro. É assim que nasce a lenda do tesouro de Rennes-le-Château. Mais desenvolvimentos sobre este e outros temas ligados a “O Código da Vinci” estão disponíveis em http://bmotta.planetaclix.pt/