Mártires do Japão lembrados nos Açores A Comissão Diocesana para a Canonização do Beato João Baptista Machado vai realizar uma Memória Comemorativa do Martírio do Beato, 21 de Maio, no Palácio dos Capitães Generais (véspera da solenidade do padroeiro da Diocese de Angra). Natália Correia Guedes, docente universitária, Comissária Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, será a oradora desta sessão comemorativa. Durante a cerimónia será apresentado o livro “Mártires do Japão”, do arq. Eduardo Kol de Carvalho (durante doze anos Conselheiro Cultural de Portugal no Japão e actualmente Professor de Estudos Portugueses na Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto). “Um trabalho sério, levado a cabo por uma pessoa que conhece a fundo, não só a cultura japonesa como também as relações luso-nipónicas” – considerou Natália Correia Guedes, na apresentação do livro “Mártires do Japão”, em Lisboa. Em declarações à Agência ECCLESIA, o Pe. João Caniço, vice-postulador da causa de canonização dos mártires do Japão, realça que este processo está em renovação porque eles foram “beatificados há 150 anos”. E acrescenta: “mas, rigorosamente, eles não precisam de milagres porque são mártires”. Para que este passo se concretize “é necessário que exista devoção”. As pessoas têm uma grande devoção em Francisco Pacheco (Ponte Lima) e Domingos Jorge (Vermoim da Maia) mas os outros parece que “depois do 25 de Abril” caíram no esquecimento – sublinhou este sacerdote da Companhia de Jesus. João Baptista Machado (natural dos Açores) é muito conhecido mas “as pessoas não têm devoção. Existem ruas, escolas e uma igreja com o nome dele mas não há devoção” – contou o Pe. João Caniço. Os sete beatos portugueses – João Baptista Machado (Angra), Ambrósio Fernandes (Porto), Francisco Pacheco (Ponte de Lima), Diogo de Carvalho (Coimbra), Miguel de Carvalho (Braga), Vicente de Carvalho e Domingos Jorge – “poderão agora ser mais conhecidos e a sua protecção mais invocada”. “Oxalá a confiança na sua intercessão possa atrair as bênçãos de Deus, concedendo-nos a graça de um milagre, que possa fundamentar para breve a sua canonização – refere o padre Hélder Fonseca, no Boletim Paroquial de São Salvador da Sé. A evangelização do Japão, iniciada por S. Francisco Xavier e continuada, durante décadas, por centenas de membros da Companhia de Jesus, foi brutalmente interrompida pela perseguição das autoridades japonesas, que levou milhares de cristãos japoneses e europeus ao martírio. De entre eles, o Autor recorda, com riqueza de pormenores, os beatos mártires portugueses. Ao mesmo tempo, faz a história desse encontro entre as culturas do Japão e de Portugal que, iniciado de forma auspiciosa, viria a terminar de modo trágico e brutal.
Quem são os “Mártires do Japão”?
Sob a designação de “Beatos Mártires do Japão” estão englobados 205 mártires, que deram a vida pela fé, entre 1617 e 1632, na terrível perseguição movida por Hidetada e Iemitsu, em Nagasáki e Tóquio, que durou 15 anos. Foram beatificados por Pio IX, a 7 de Julho de 1867. No Martirológio Romano, são conhecidos sob o nome de “Beato Carlos Spínola e Companheiros Mártires no Japão”, com comemoração a 8 de Junho. Ao todo, são 166 cristãos leigos (quase todos japoneses) e 39 sacerdotes. De entre os sacerdotes, treze são jesuítas, doze são dominicanos, oito franciscanos, cinco agostinhos e um sacerdote diocesano japonês. Dos treze jesuítas, cinco eram portugueses. São conhecidos os seus nomes, a quem a Santa Sé concedeu celebração própria.
Que fazer para a canonização do Beato João Baptista Machado?
“O Beato João Baptista Machado merece a memória e devoção, a imitação e a homenagem dos seus conterrâneos, que, por sua vez, se devem sentir orgulhosos do seu glorioso antepassado, reconhecido pela Igreja Universal, e conhecido a nível mundial. Assim, devem empenhar-se na promoção da sua devoção a começar pela sua terra”. Destacam-se algumas iniciativas já tomadas: Declarado Padroeiro principal da Diocese de Angra (Açores). Declarado Patrono do Ex-Distrito de Angra do Heroísmo. Patrono dos Emigrantes. Há uma igreja dedicada ao Beato João Baptista Machado, na ilha Terceira. A sua imagem está exposta em várias igrejas da diocese e na diáspora açoriana, em esculturas e vitrais. Dá nome a uma rua na cidade de Angra e a uma «canada» na freguesia da Ribeirinha. Empresta o seu nome a um Jardim-de-infância, a uma Escola do 1º Ciclo, um Centro Residencial Juvenil e uma Cooperativa de Consumo. Festa anual na diocese açoriana com a categoria litúrgica de solenidade, a 22 de Maio. Tem um monumento — estátua numa praça pública da cidade de Angra. A sua vida está representada em peça de teatro e em dança de espada. Há uma comissão diocesana para a Causa da canonização. Estão publicados dois livros sobre a sua vida, obra e martírio, para além de variados artigos dispersos. Foi entregue um pedido de canonização ao Papa João Paulo II, aquando da sua visita aos Açores.