Na sua primeira mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, Bento XVI entende que “os média podem configurar-se como uma rede capaz de facilitar a comunicação, a comunhão e a cooperação”. A vida dos cristãos, em Igreja, ambiciona a comunhão, para que sejam ícones da comunhão trinitária de Deus. Não se chega à comunhão sem comunicação, inclusive a que se processa hoje na galáxia digital. Se é verdade, como também previne o Papa, que “a rapidez da comunicação nem sempre consegue criar um espírito de colaboração e de comunhão no âmbito da sociedade”, não é menos verdade que “os meios de comunicação podem contribuir construtivamente para a difusão de tudo o que é bom e verdadeiro”. E isto tem uma inegável dimensão pastoral. Em Igreja, estamos longe de outro conselho oportuno de Bento XVI: “A formação para um uso responsável e crítico dos média ajuda a pessoa a servir-se dela de modo inteligente e apropriado”. Mais do que exigir responsabilidades aos promotores de informação, suspeitando da sua idoneidade profissional e ética, como é frequente em Igreja, seria bem mais pedagógico saber quanto se tem ou não progredido no uso responsável e crítico dos média. Ainda para passar da suspeita ao diálogo e à compreensão do estilo da comunicação social, seria bom saber até que ponto os média de inspiração cristã são modelos de rigor cultural e deontológico, sob pena de fraude pastoral. Hoje, a natureza e os objectivos dos média alterou-se significativamente. Já não é tão acentuada a divisão entre promotores e receptores dos conteúdos de polarização da comunicação social. Muitos dos receptores tornaram, simultaneamente, promotores. E a galáxia digital ainda está em expansão! Felizmente não falta quem, em Igreja, use e com inteligência as imensas possibilidades da Internet, dos “blogs” e do correio electrónico. Uma aliciante surpresa pastoral a explorar. O jesuíta Antonio Spadaro é redactor da revista italiana “La Civiltà Cattólica” e acaba de publicar o livro “Connessioni, Nuove Forme della cultura al tempo di internet” (Conexões, novas formas da cultura em tempos de Internet). Em entrevista à agência Zenit, explica a influência que a rede e em particular os “blogs” exercem no modo de viver hoje a religião. Confirma que, na Internet, nota-se um aumento de necessidades religiosas, embora algumas sob os riscos das “cyber-religiões” e das seitas. Esses novos desafios, porém, devem ser olhados “com optimismo e discernimento”, em ordem a “respostas às necessidades religiosas mais autênticas”. Lembra que há cerca de 130 milhões de sites nos quais aparece Deus. Os “blogs” religiosos na Web aumentam a ponto de haver quem fale em “revolução teoblógica” e “blogsfera cristã”. Como mais vale prevenir do que remediar, diga-se que a rede compara-se a um supermercado do religioso. Os “integrados” dirão que a proliferação do religioso na rede pode revelar a necessidade profunda de Deus que agita o coração humano. Ainda na expressão de Umberto Eco, que dirão os “apocalípticos”, que em tudo ou quase, sobretudo na vasta área da comunicação, só vêem perigosos riscos? Para alcançar a comunhão, não esqueçam, é necessária a comunicação. Façam o favor de comunicar! Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro – Porto