Presidente da Associação ZERO considera que as «mudanças foram poucas», em cinco anos da «Laudato Si»
Lisboa, 24 jun 2020 (Ecclesia) – O presidente da Associação ambientalista ZERO afirmou que “se poderia e deveria ter ido mais longe naquilo que a ‘Laudato Si’ procura alertar”, no contexto do novo “manual” de aplicação da encíclica ecológica e social do Vaticano.
“As questões ainda estão mais prementes. Temos um novo contexto em que não apenas a pandemia serviu de alerta para a necessidade de revermos aquilo que o próprio Papa já tinha dito em 2015, em termos do nosso modelo económico, social, ambiental, mas também porque as mudanças foram poucas”, assinalou Francisco Ferreira, em declarações à Agência ECCLESIA.
O Vaticano lançou a 18 de junho um “manual” de aplicação da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’, que o Papa Francisco publicou em 2015, com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana e o presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável considera que “há toda a oportunidade de agora relançar um conjunto de ideias” de forma ainda mais sistematizada, que se conhecem há alguns anos.
“Quer em termos gerais, quer em termos da própria Igreja, sinto que se poderia e deveria ter ido mais longe naquilo que a Laudato Si procura alertar como educação, como conversão ecológica”, assinalou o professor na área de ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL).
Segundo Francisco Ferreira, os temas relacionados com o cuidado da casa comum estão todos presentes no documento, “desde a alimentação, à água, à energia, aos ecossistemas, a biodiversidade, o mar, os oceanos”, que são “extremamente atuais” e com uma linguagem próxima da que é usada pelos políticos, “por exemplo, não se fala de resíduos, fala-se da economia circular”.
“Obviamente, termina com a questão do clima que é sem dúvida um dos temas mais importantes, sem desprimor por outros áreas que estão diretamente relacionadas com o cuidar da casa comum, não apenas em termos de ambiente mas em termos de desenvolvimento”, realça o presidente da Associação ambientalista ZERO, em declarações transmitidas hoje programa ECCLESIA (RTP2).
Na mesma emissão, Patrícia Fonseca, coordenadora do Departamento de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social da Fundação Fé e Cooperação (FEC), e a realizadora Patrícia Pedrosa apresentam ‘VI(R)AGENS’, o novo documentário da organização católica realizado em Portugal e Moçambique.
“O que nos levou a realizar e produzir este documentário é poder através de soluções de esperança inspirar outras pessoas e provocar processos de viragem interior, de conversão ecológica”, explicou Patrícia Fonseca.
A coordenadora do Departamento de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social da FEC contextualiza que o documentário “nasce muito naturalmente” do trabalho que têm realizado nos últimos anos na temática do “combate às alterações climáticas” e retratam “histórias de vida de pessoas comuns” que, “na simplicidade e na normalidade da sua vida”, conscientes das alterações climáticas “procuram soluções locais para este problema que é global”.
A realizadora Patrícia Pedrosa disse que a “maior preocupação” foi encontrar “aquilo que movia cada uma destas pessoas” que são apresentadas no documentário ‘VI(R)AGENS’ e foram “ao lugar onde habitualmente estão” numa tentativa de “mostrar esse tal lado em que eles atuam no coletivo”.
“A partir dai, penso que se torna muito mais fácil descobrirmos que também valorizamos alguma coisa no nosso interior, neste caso relativamente às alterações climáticas e defesa do meio ambiente”, desenvolveu.
Patrícia Fonseca salientou que o novo documentário da organização católica FEC serve também “muito o propósito” de poderem “começar um diálogo com diferentes interlocutores, até com perspetivas diferentes”, “que crie pensamento e gere ação, que gere viragens”.
‘VI(R)AGENS’ é acompanhado de um estudo de caso com a história de cada uma das sete pessoas e “todos os dados científicos que fundamentam” a sua ação concreta e a exposição artística ‘not for sale’, porque “a casa comum não está à venda”.
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