Cada pessoa tem uma vocação

Bispo do Funchal na 43ª Jornada Mundial de Oração pelas Vocações Hoje rezamos por todos os baptizados, chamados a dar sinais de esperança na ressurreição de Jesus, para que sigam a voz interior que os chama ao serviço da caridade nos diversos campos da vocação cristã. Oramos de uma forma especial pelos jovens e menos jovens chamados ao radicalismo cristão na vida sacerdotal, religiosa, monástica e consagrada, vivendo nas estruturas do mundo. 1.Durante a semana que terminou as comunidades cristãs de todo o mundo oraram e reflectiram sobre a sua vocação, principalmente a vocação à vida consagrada. O quarto domingo da Páscoa apresenta-nos todos os anos Cristo como «pedra angular» da Igreja que se constrói com «pedras vivas», com Cristo como «Bom Pastor» das suas ovelhas. Nas duas imagens, Cristo é o primeiro dos Vivos, o Ressuscitado, e, pelo envio do Espírito Santo sobre os apóstolos, Ele funda a sua Igreja para prosseguir a obra de salvação, sem excluir ninguém. O quarto domingo da Páscoa é conhecido por «Jornada Mundial de Oração pelas Vocações». Orar pelas vocações significa que cada um deve descobrir as consequências do baptismo na sua vida, na Igreja e no serviço à humanidade. Quando a oração é sincera, o Espírito Santo torna o coração generoso e disponível para dar à Igreja o que ela precisa para o seu crescimento. A vocação está unida ao mistério pascal de Jesus Cristo, ou seja, ao anúncio do Evangelho a todas as criaturas. O Papa Bento XVI, continuando a tradição dos seus antecessores, enviou uma Mensagem para a 43ª Jornada Mundial de Oração pelas Vocações. «No quadro deste chamamento universal, escreve o Papa, Cristo, Sumo Sacerdote na sua solicitude pela Igreja, chama, portanto, em cada geração, diversas pessoas para cuidar do seu povo. Em particular, chama ao ministério sacerdotal homens que exerçam uma função fraterna, cuja fonte reside na mesma paternidade de Deus» (cf. Ef. 3, 14). «Outra vocação especial que ocupa lugar de honra na Igreja é o chamamento à vida consagrada… Advertimos vivamente para a necessidade de rezar pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Não surpreende que, onde se reza com fervor as vocações floresçam». Os lugares da esperança cristã 2 – O povo de Deus nascido na cruz e fecundado pelo Espírito Santo no Pentecostes, não se cresce como se fabrica qualquer estrutura humana, com pedras, cimento e metais. Este povo está unido a uma «pedra» fundamental que é Cristo, única esperança da humanidade. A esperança torna presente hoje, na história dos homens e das mulheres, a mensagem das bem-aventuranças, do seguimento de Cristo, do seu anúncio e do seu testemunho. Os lugares da esperança cristã encontram-se: na vida sacerdotal, consagrada e monástica, nas vocações missionárias, nos matrimónios cristãos vividos santamente, no serviço aos pobres e doentes, na educação da fé das novas gerações, no empenhamento socio-político, no trabalho vivido como colaboração com o Deus criador, nos lugares do sofrimento, da doença e da morte. Hoje rezamos por todos os baptizados, chamados a dar sinais de esperança na ressurreição de Jesus, para que sigam a voz interior que os chama ao serviço da caridade nos diversos campos da vocação cristã. Oramos de uma forma especial pelos jovens e menos jovens chamados ao radicalismo cristão na vida sacerdotal, religiosa, monástica e consagrada, vivendo nas estruturas do mundo. Nós oramos para que o Senhor nos conceda uma Igreja radiante da luz e força de um novo Pentecostes, onde cada baptizado realize no quotidiano da sua vida o encontro com Deus e um serviço humilde e generoso a todas as pobrezas, em nome do Evangelho, seguindo Cristo Bom Pastor. Comunicar na era da globalização 3 – A Jornada Mundial de Oração pelas Vocações orienta-nos a reflectir na situação da vida consagrada nesta pequena Diocese colocada por Deus nas águas revoltas do Atlântico. Desde a origem do povoamento da Madeira, floresceram vocações de consagração na Diocese, e, nalguns séculos, até com números surpreendentes. As vocações de consagração, sendo um dom gratuito de Deus, são concedidas a pessoas, principalmente a jovens, que vivem numa sociedade concreta, sujeitas à cultura dominante e influenciadas pelo ambiente social, político e secularizante. As famílias têm menos filhos, e os Estados na Europa pedem aos pais para enriquecerem a sociedade com mais crianças. A diminuição reflecte-se também no campo eclesial. Não são raros os casos de sacerdotes e religiosas filhos únicos de um casal cristão. Apesar das dificuldades do momento presente, a Diocese do Funchal tem dado à Igreja um número de sacerdotes e religiosas que julgamos elevado e que têm permitido atender com serviço religioso dominical e semanal a todas as paróquias e até a pedidos de outras dioceses, principalmente no campo missionário. Embora o número de vocações religiosas femininas não seja tão confortante no momento presente, a mulher madeirense encontra-se espalhada em todos os continentes em diversos serviços e casas religiosas, algumas das quais nem sequer tem sede na Madeira. A evolução dos tempos obriga-nos a descobrir novas formas de apresentação do radicalismo cristão e acolhimento dos jovens, sem angústia nem auto flagelação, confiando em Cristo Ressuscitado, Bom Pastor. Na era da globalização é preciso comunicar e evangelizar com todos os instrumentos fundamentais e imprescindíveis da nossa sociedade. Hoje vivemos na era da Internet que abriu novos caminhos, ligando-nos imediatamente com todo o mundo, o que significa uma oportunidade para propor a verdade sobre Jesus Cristo, a evangelização e o chamamento a um serviço eclesial. A escola e a universidade são também lugares abertos ao testemunho cristão. Algumas das vocações ao presbiterado, vida religiosa e consagrada provêm de estudantes universitários que já terminaram os seus cursos. Isto significa que o testemunho da Igreja da esperança requer nova aprendizagem de um percurso educativo e sinergético de todas as componentes eclesiais. E, para o bem, de toda a sociedade humana. Cancelar a presença cristã, com os seus símbolos e pessoas do contexto público, é esvaziar o nosso ambiente social e cultural. Georges Bernanos escrevia em 1944 num seu estudo: «Uma civilização não desaba como um edifício, dir-se-ia mais exactamente que se esvazia a pouco e pouco da sua substância até que não fica nada para além da casca». O grande poeta Thomas S. Eliot recorda-nos que: «sem o cristianismo não existiria sequer um Voltaire e um Nietzche. Se o cristianismo desaparece, desaparece a nossa própria cultura». Oremos pelas vocações sacerdotais e religiosas, a Igreja para renovar-se precisa de consagrados a Deus. Funchal, 7 de Maio de 2006 † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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Agência ECCLESIA

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