A vocação no mistério da Igreja

D. António Francisco dos Santos, presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios 1. Vamos celebrar, no próximo dia 7 de Maio, IV Domingo da Páscoa, a XLIII Jornada Mundial de Oração pelas Vocações. Na Mensagem para esta Jornada, o Papa Bento XVI convida-nos a viver “a vocação no mistério da Igreja”. Lembra-nos o Santo Padre que “a verdadeira fé abre as mentes e os corações ao inesgotável mistério de Deus” e é este “amor do Pai que se revela na pessoa de Jesus Cristo que nos interpela e nos chama”. Compreendemos, assim, que Cristo, Sumo Sacerdote chame, em todas as gerações, pessoas que cuidem do Povo. Os sacerdotes e os consagrados são chamados a serem contemplativos deste mistério do amor de Deus que nos deu o espírito de adopção filial e “servidores de Cristo, presente na Igreja mistério, comunhão e missão”. Surge esta Mensagem, a primeira do Santo Padre Bento XVI para uma Jornada Mundial de Oração pelas Vocações, a pouca distância da sua também primeira Encíclica Deus Caritas est. Compreendemos, assim, melhor que o amor de Deus seja a raiz de toda a vocação. Aqui se funda, também, o mistério da Igreja. 2. A poucos anos do Grande Jubileu e em pleno limiar do terceiro milénio, vivemos um tempo em que a Igreja se confronta com certos sintomas de crise de comunicação, comunhão e de identidade a provocar uma recorrente crise de vocação. Mas, percebem-se já, também, com o alvoroço da esperança, um pouco por todo o lado, sinais onde a beleza e o encanto deste “mistério fascinante da filiação divina” se exprimem no modo como se vive “a alegria de ser chamado e a coragem de chamar”. Este foi o tema do Fórum Nacional das Vocações, realizado em Fátima em Outubro de 2005, e que felizmente algumas Dioceses e Institutos de Vida Consagrada assumiram com iniciativas e programas pastorais criativos a imprimir um dinamismo novo e a oferecer uma confiança maior em todos quantos trabalham na Pastoral Vocacional e em muitas Comunidades cristãs. Depreende-se, já, no horizonte Pastoral que vai surgindo não apenas uma pedagogia vocacional mas também, de forma lenta mas progressiva e sustentada, uma verdadeira cultura vocacional, que começa a delinear-se nas nossas Comunidades. 3. Nesse sentido e convictos de que a Pastoral Vocacional pode e deve ser o motor da mudança cultural e da renovação pastoral das Paróquias, vamos realizar, em Fátima, em 27 e 28 de Outubro de 2006 o III Fórum Nacional das Vocações, sob o tema: “Uma Pastoral Vocacional na Comunidade Paroquial”. O processo de desvalorização cultural e eclesial das vocações empobrecem as Paróquias e os Movimentos Apostólicos. Urge reencontrar esta natural correlação entre o dinamismo vocacional de uma Comunidade e o seu crescimento na fé. Dizia Paul Claudel: “Sobe ao campanário da tua Paróquia e olha a partir daí o mundo”. Façamo-lo todos, mas principalmente os sacerdotes e os consagrados numa perspectiva aberta e dinâmica, com alegria e encanto, oferecendo a este mundo que é o nosso, as razões da nossa esperança e a abundância de carismas e ministérios que o Espírito concede à Igreja, para o bem de todos, para a edificação comum e para o crescimento da Comunidade. Sonhamos com um tempo em que o mais normal seja a “paróquia que faz surgir vocações a todos os níveis e não a paróquia onde só o pároco tem vocação”, porque as famílias cristãs e as comunidades devem ser verdadeiros lugares vocacionais. 4. Mas não bastam as famílias e as paróquias como lugares vocacionais. Urge dinamizarmos a pedagogia vocacional e fazer delas escolas de vocação. A vocação também se educa. Com o testemunho dos chamados, com o ambiente vocacional, com a presença orante de todos, com o acompanhamento pessoal e espiritual e com os itinerários formativos dos nossos Seminários e dos Institutos de Vida Consagrada. Hoje, como sempre, são necessários educadores vocacionais, que o façam com alegria, com verdade e com coragem. Lembramos o que Paulo VI nos dizia noutro contexto mas que, também, aqui se aplica: “O mundo contemporâneo precisa mais de testemunhas do que de mestres, e se agradece aos mestres é porque eles testemunham na vida a coerência do que ensinam”. Tudo isto exige de cada um de nós uma identidade vocacional assumida, uma autenticidade de vida centrada no essencial e uma alegria consistente na escolha feita e da felicidade com que se vive o ministério ou a consagração. Quando nos transformarmos todos em pessoas chamadas que chamam, daremos outro rosto às nossas comunidades e outro encanto à pastoral vocacional, abrindo-nos a Deus, ao sentido crente da vida, à novidade fascinante da vocação e à santidade do ministério. Esta é, também, a missão da Igreja: ser mediadora da vocação, estabelecendo pontes, promovendo diálogo e abrindo itinerários entre Deus que chama, como o fez a Samuel, ou entre Jesus que interpela como outrora a Pedro, Tiago, João, Mateus ou Saulo e hoje àqueles que são igualmente chamados pelo seu nome. O Santo Padre, Bento XVI, conclui a sua Mensagem com uma insistente oração, depois de nos lembrar a necessidade e a urgência de rezar pelas vocações e de nos advertir que não devemos estranhar que “floresçam as vocações onde se reza com fervor”. “Imitemos Maria, Mãe de Jesus”, pede-nos o Santo Padre, porque Ela “guardava no Seu coração os divinos mistérios e meditava-os assiduamente” (Lc 2, 20). Coincide esta Jornada Mundial de Oração pelas Vocações com o Dia da Mãe. As nossas mães foram para muitos de nós berço, escola e santuário de vocação e são hoje, bênção, graça e ânimo de fidelidade, de alegria e de generosidade. A santidade do nosso ministério, a radicalidade da nossa consagração e o modo feliz de vivermos a nossa vocação no mistério da Igreja constituem, hoje e sempre, a melhor homenagem que prestamos às nossas mães. + António Francisco dos Santos, presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

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