A Associação Patriótica Católica (APC) da China, autorizada e controlada pelo regime de Pequim, procedeu hoje à segunda ordenação episcopal sem autorização do Papa. O Pe. Liu Xinhong foi ordenado Bispo da diocese de Anhui, contrariando as indicações da Santa Sé e poucos dias depois de uma outra ordenação, no dia 30 de Abril (o padre Ma Yinglin foi ordenado Bispo em Kunming, na província de Yunnan, sudoeste do país). As últimas ordenações sem o aval do Papa tinham acontecido em 2000, com 5 novos Bispos da APC, e levaram a um congelamento das negociações entre a China e a Santa Sé para o restabelecimento de relações diplomáticas. Segundo a agência católica AsiaNews, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, o Vaticano teria ainda feito uma última tentativa, ao longo do dia de ontem, para impedir a ordenação de Liu Xinhong, tendo mesmo enviado uma mensagem pessoal ao novo Bispo, na qual lhe pedia que se afastasse deste processo de ordenação gerido pela APC. A AsiaNews adianta que outras 20 ordenações sem a autorização do Papa terão lugar num futuro próximo, fruto da política de confronto do todo-poderoso Liu Bainian, vice-presidente da APC, que tem como objectivo a construção de uma Igreja nacionalista, totalmente separada de Roma. Esta decisão é um rude golpe nas negociações que vinham a ser levadas a cabo desde o início do pontificado de Bento XVI. Nos últimos anos, por outro lado, Pequim e a Santa Sé tinham um acordo de cavalheiros, que dava ao Papa a última palavra sobre qualquer candidato à ordenação episcopal e que agora é quebrado de forma clara. A reacção pública mais veemente foi a do Cardeal Joseph Zen, de Hong Kong, para quem o diálogo entre a China e a Santa Sé deveria ser suspenso por causa das decisões de Pequim. No Vaticano, apesar de não haver nenhuma reacção oficial, a opção do regime chinês em favor da APC é vista como uma decisão muito grave – sacrificando de forma evidente o restabelecimento das relações diplomáticas com a Santa Sé a questões de política interna. O Pe. Gianni Criveller, missionário PIME em Hong Kong, refere à AsiaNews que esta situação “é um filme já visto em 2000, quando também se discutiam as relações diplomáticas: a APC quis as ordenações ilegais para destruir qualquer sinal de diálogo entre a China e a Santa Sé”. A APC, de facto, sente-se marginalizada perante a aproximação oficial ao Vaticano e quis, com esta série de ordenações não autorizadas, dar um claro sinal de força. A AsiaNews escreve, contudo, que o próprio regime de Pequim pretende afastar-se da mentalidade “estalinista e sufocante” da Associação Patriótica, que tem gerado tensões entre os próprios fiéis da Igreja “oficial”. Estas ordenações sem o apoio do Vaticano mostram que estamos na presença de uma “igreja de Estado”, típica de regimes ditatoriais. Notícias relacionadas • Relações entre a China e o Vaticano sofrem duro golpe