100º aniversário do seu nascimento Realizou-se no sábado, dia 29 de Abril, a prevista homenagem ao que foi primeiro Bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende. Natural da freguesia de Milheirós de Poiares, pertencente ao Concelho de Santa Maria da Feira, onde nasceu a 14 de Junho de 1906, sendo baptizado “aos oito dias do mês de Julho de 1906”, conforme reza o seu assento de Baptismo. D. Sebastião foi figura distinta do clero da diocese do Porto. Tendo sido em 1943 nomeado Bispo da Beira, uma das dioceses criadas em Moçambique a partir do Acordo Missionário de 1940 (as outras foram Lourenço Marques (Maputo) e Nampula, logo iniciou uma actividade que se revelaria cheia de dinamismo de futuro. Escreve D. Eurico Dias Nogueira (que bem o conheceu ao tornar-se Bispo de Vila Cabral (1964): “Impulsionou o ensino de base – especialmente para os autóctones – e abriu escolas para o secundário, quase inexistente na região. Criou paróquias e missões e fundou o Diário de Moçambique. Logo caracterizado pela independência política e capacidade de intervenção. Publicou duas dezenas de Cartas Pastorais, de índole social, sempre de grande actualidade e não pouca audácia. Por isso passou a ser olhado com desconfiança e vigiado pelo poder constituído que lhe fez uma guerra sem quartel. Consta que este impediu a sua promoção a Arcebispo metropolita – quando faleceu o Cardeal Arcebispo de D. Teodósio de Gouveia (1962), como parecia ser desejo da Santa Sé – e procurou mesmo afastá-lo de Moçambique”. D. Sebastião participou no II Concílio do Vaticano (1962 a 1965), onde teve participação activa. Tendo-se declarado uma enfermidade cancerosa, que se revelou ao longo do ano de 1966, após tratamentos na Europa, D. Sebastião quis regressar à sua Diocese da Beira, onde faleceu em 25 de Janeiro de 1967, aos 61 anos de idade. Testemunha D. Eurico Nogueira: “O impressionante cortejo [fúnebre] demorou uma hora até ao cemitério. Nunca supus que atingisse tal grandiosidade e emoção: talvez mais de 30 mil pessoas”. “Sobre a sua humilde campa rasa, apenas se vê uma singela legenda, que ele mesmo escolheu, ao redigir o seu testamento que é, com o emocionante diário íntimo, o espelho fiel da sua alma cristalina: Sebastião, primeiro Bispo da Beira” – escreve D. Eurico no seu “singelo depoimento” na memória publicada pela Liga dos Amigos da Feira Dom Sebastião Soares de Resende, 1.º Bispo da Beira. A figura de D. Sebastião foi recordada e homenageada em Milheirós, numa celebração eucarística presidida pelo Bispo Auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo, com a participação do pároco, P. Fernando Gonçalves e de Monsenhor Sebastião Martins Luís Brás, sobrinho de D. Sebastião Resende. Seguiu-se uma sessão de evocação, que contou com a presença, além de D. Carlos Azevedo, e do pároco local, do Presidente da Câmara, Alfredo Henriques, do Presidente da Liga dos Amigos da Feira, Celestino Portela, também Director da Revista Amigos da Feira (que publica a separata sobre D. Sebastião), de David Simões Rodrigues (autor do principal texto dessa homenagem, intitulado “D. Sebastião Soares de Resende – Percurso de uma vida”, do Presidente da Junta de Freguesia, de sacerdotes do concelho e vizinhos, de membros da família, entre os quais José Soares Martins, também sobrinho de D. Sebastião e seu antigo secretário, e que promoveu a doação do seu espólio ao Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras do Porto. Das palavras ditas, importa reter a memória do seu trabalho pastoral, social e cultural, com a fundação de missões, escolas, paróquias, instituições de assistência aos mais carenciados, numa verdadeira “missão civilizadora”, como disse o orador David Simões Rodrigues, que considerou as 400 folhas do seu processo na Polícia Política, as Suas Cartas, o seu Diário e toda a sua obra como “um património moral” da Igreja e da sociedade. O Presidente da Câmara saudou o papel dos estudiosos e investigadores, entre os quais de Carlos Azevedo, no trabalho cultural que desenvolvem para valorização da terra e das gentes. Carlos Azevedo afirmou significativamente que D. Sebastião foi um profeta da Igreja em Moçambique, uma personalidade ímpar e rara, felicitando os presentes pelo facto da terra se lembrar dos seus filhos. Mas, disse, esta homenagem não devia ser da terra: devia ser uma homenagem nacional, afirmando que referira isso na recente reunião da Conferência Episcopal. (No comunicado final desta reunião faz-se uma referência aos centenários de D. António Ferreira Gomes e de D. Sebastião, curiosamente nascidos no mesmo ano, com poucos dias de diferença). O volume agora publicado, para além do historial atrás referido, apresenta textos de Cardoso da Costa (Presidente da Assembleia Municipal), Alfredo Henriques (Presidente da Câmara), D. Jaime Pedro Gonçalves (actual Arcebispo da Beira), D. Carlos Azevedo, Manuel Leão (sacerdote natural de Milheirós), D. Eurico Nogueira, Adriano Moreira, António de Almeida Santos, Sebasdtião Brás e José Soares Martins (sobrinhos do D. Sebastião) e Roberto Carlos (sobre as referências ao Bispo no Correio da Feira). E conclui com o texto do seu testamento ESte volume não é muito extenso (apenas 83 páginas) mas é muito significativo, ilustrado com vários documentos e imagens que recordam a vida, o trabalho e o ensinamento de D. Sebastião. Recorda-se que existe uma compilação das suas Cartas Pastorais (de que se destacam temas como a Educação em África, as responsabilidades dos cristãos, os problemas de Moçambique, os problemas do comunismo, a missão do padre e do missionário), com o título Profeta em Moçambique, organizado e prefaciado por Adriano Moreira – do qual fez uma oferta a João Paulo II. (“Algumas medidas da minha responsabilidade governativa tiveram apoio nas intervenções corajosas e lúcidas que lhe ficamos a dever – escreve Adriano Moreira no seu depoimento”). Preparação de uma homenagem Conforme anunciou D. Carlos Azevedo, no dia 17 de Junho prepara-se uma homenagem mais completa a D. Sebastião Soares de Resende, com uma celebração presidida pelo Bispo do Porto, uma sessão solene e a inauguração de uma estátua de D. Sebastião que ficará no adro da Igreja Paroquial de Milheirós de Poiares. A estátua é da autoria da escultora Irene Vilar. Do programa previsto constam: Apresentação do colóquio, por Carlos Azevedo; Ser o primeiro Bispo de uma Diocese missionária, por D. Augusto César Ferreira da Silva, Bispo emérito de Portalegre e Castelo Branco; O carácter inovador da doutrinação missionária do primeiro Bispo da Beira, por Adriano Moreira, da Universidade Católica; D. Sebastião como investigador, por David Simões Rodrigues, investigador; A permanência viva da acção de D. Sebastião, por D. Jaime Gonçalves, Bispo da Beira. Segue-se a inauguração da estátua e uma solene concelebração a que preside o Bispo do Porto. Tendo sido nomeado Bispo da Beira com apenas 37 anos de idade e tendo exercido esse múnus pastoral missionário da forma que expressou ao pretender morrer e ficar sepultado na terra onde o exerceu talvez como símbolo de doação sem limites a uma mátria assumida, terá D. Sebastião, com tal gesto enobrecido sobremaneira a terra que fora sua pátria. (José Soares Martins e Sebastião Brás).