Intenção Geral do Santo Padre, confiada ao Apostolado da Oração, para Maio Que a riqueza dos dons que o Espírito Santo oferece à Igreja contribua para fazer crescer a justiça e a paz no mundo. 1. Acreditar na Santíssima Trindade. Anda longe do quotidiano, mesmo da maioria dos cristãos, a consciência vívida desta verdade essencial da sua fé: na unidade de Um, Deus é Trindade de Pessoas – e cada Pessoa é capaz de relação própria com cada ser humano, bem como com a Igreja e a humanidade inteira. Importa, por isso, insistir na necessidade de uma fé mais «trabalhada» nesta originalidade cristã: Deus-Trindade, fonte divina de onde brota tudo quanto existe, por exclusiva iniciativa amorosa dos Três. Se esta verdade não se tornar vida a dar vida à fé dos crentes, esta não deixará de ser superficial – talvez muito emotiva e festiva, mas pouco enraizada no essencial e, por isso, facilmente substituível por outras «crenças» mais sedutoras e de acordo com os ares do tempo. 2. O Espírito Santo, fonte de dons à Igreja e ao mundo. Na tradição, o Espírito Santo, depois do Pentecostes, aparece como a Pessoa divina por meio da qual cada cristão, a Igreja e a humanidade recebem todas as graças – são «agraciadas» com os dons divinos. Na verdade, depois da Ascensão de Jesus, deixando Este de estar corporalmente presente no quotidiano dos seus discípulos – sendo a presença eucarística verdadeira presença do Senhor Jesus mas de ordem sacramental – tudo o que acontece na vida dos cristãos e da Igreja entende-se como acção particular do Espírito Santo, por meio dos seus «dons» – que a tradição eclesial fixou em «sete», simbolizando deste modo a plenitude dos dons divinos. É, pois, necessário ajudar os cristãos e as comunidades a viverem com particular intensidade a sua relação com esta Pessoa divina, invocando-a como dadora das graças divinas e força capaz de as fazer frutificar em obras de evangelização e caridade. Sem esta relação intensa, vivida na fé, a Igreja corre sempre o risco de perder o vigor e de se tornar mais uma instituição, notável certamente pela antiguidade e pela acção social, mas apenas isso – e, em muitos casos, a caminho de se tornar um espaço museológico onde se encontram coisas e pessoas objecto de curiosidade porque impossíveis de encontrar noutro lado. 3. Violências e injustiças. A atenção ao Espírito e aos seus dons torna a Igreja, pelo contrário, presença activa e transformadora do mundo, abrindo as portas à esperança. De modo nenhum ingénua, porém! Na verdade, a situação internacional não se compadece com ingenuidades. Há nuvens densas, ameaçando um futuro que se esperava mais pacífico. Falando apenas dos sintomas mais evidentes: no Médio Oriente não se vislumbram sinais de apaziguamento, antes as ameaças à paz surgem cada dia mais evidentes: terrorismo no Iraque, corrida às armas nucleares por parte do Irão, que ameaça Israel com a destruição nuclear, ameaças veladas de ataques preventivos contra o mesmo Irão…; na África, guerras civis, religiosas e tribais infindáveis…; na Europa balcânica, paz imposta pela presença de militares estrangeiros…; na América Latina, guerrilhas alimentadas por ideologias ou pelo tráfico de drogas… E quanto à justiça, continuando nos sintomas mais evidentes: desigualdades enormes entre países e dentro dos próprios países…; exploração irracional dos recursos naturais…; destruição de áreas consideráveis do planeta, pondo em causa a sobrevivência das gerações futuras…; tráfico de seres humanos…; exploração dos mais pobres, sobretudo dos emigrantes…; prisões arbitrárias e torturas…; negação dos direitos mais elementares, entre os quais, o direito à liberdade religiosa… 4. A paz e a justiça como dons de Deus. Embora a paz e a justiça não se incluam entre os sete dons tradicionalmente ditos «do Espírito Santo», se entendermos o número sete como símbolo de plenitude dos dons de Deus, quer a paz quer a justiça são, certamente, dons do Espírito Santo à Igreja e ao Mundo. Dons particularmente necessários, sempre – e hoje não menos do que ontem. Importa, por isso, que a Igreja – cada cristão, cada comunidade, a Igreja universal – continue a trabalhar sem desfalecimento para fazer da riqueza de dons que recebe do Espírito Santo uma riqueza partilhada com o mundo, sobretudo em obras de paz e justiça. Mesmo se – e acontece tantas vezes – por culpa dos pecados próprios ou por rejeição do mundo, este acaba não querendo receber a palavra e as obras da Igreja. Pois mesmo então – ou, talvez, sobretudo então – o Espírito não deixará de agir no mundo, através da Igreja, vivificando-o com os seus dons. E a paz, obra da justiça, poderá descer como bênção sobre os mais atribulados. Elias Couto