Sérgio Tréfaut, Documentarista

Autor de mais de meia dúzia de documentários, quase todos de curta ou média metragem, Sérgio Tréfaut tem com “Lisboetas” a sua estreia no circuito comercial em sala. Os seus filmes anteriores são conhecidos de sessões na área cultural, especialmente na Cinemateca Portuguesa, sendo o mais marcante “Fleurette”, interessante biografia de sua mãe, Fleurette Rossi, em que intervêm também seu pai e seu irmão, respectivamente Miguel Urbano Rodrigues e Miguel Tréfaut Rodrigues. O filme, produzido em Betacam, foi apresentado em 2002 no DocLisboa – Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa. Em 2003 nasceu a curta metragem “Novos Lisboetas”, que viria a inspirar a longa, realizada um ano mais tarde, com o título simplificado para “Lisboetas”. Trata-se de um retrato bem vivo da cidade de Lisboa e dos seus habitantes, mais no sentido do espírito de quem aí vive e da sua relação com o meio, do que a simples descrição das zonas históricas da Capital. A linha dorsal deste mesmo retrato é a imigração e a análise da inversão por esta sofrida nas últimas décadas. Já longe de “O Salto”, em que Christian de Chalonge estudava a fuga clandestina de portugueses para França, está agora em causa o movimento inverso, em que da Europa de Leste nos chegam os clandestinos que procuram aqui melhores condições de vida. O filme leva-nos a pensar no passado e no cuidado que merece um tema desta natureza, com as mais diversas componentes humanas que determinam a vida de quem chega, mas também de quem os recebe. Faz-nos também pensar no futuro, em que a progressiva abertura de fronteira inevitavelmente trará uma maior mistura de povos e a necessidade de acolhimento aos que chegam sem prejuízo da protecção da cultura de cada povo. Um tema que merece uma análise cuidada e objectiva, que “Lisboetas” aflora de uma forma ao mesmo tempo correcta e um tanto fria. Francisco Perestrello

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