Família Sacerdotal com Projecto de Santidade

Homilia do Arcebispo de Braga na Missa Crismal No dia 20 de Janeiro, o Santo Padre delineou, em encontro com sacerdotes, diáconos e seminaristas que estudam no Colégio Caprânica, seminário da Diocese de Roma, o perfil dos sacerdotes que a Igreja e o mundo de hoje necessitam e esperam. Há sínteses que podem tornar-se um verdadeiro programa. Mergulhados num mundo de hostilidade e indiferença, ao qual somos enviados para “agir em Seu nome”, necessitamos de aliar “uma maturidade humana e uma adesão diligente à verdade revelada, que o magistério da Igreja propõe fielmente, a um sério compromisso na santificação pessoal e no exercício das virtudes, especialmente da humildade e da caridade” (Bento XVI). Permiti que, em atitude de meditação e revisão de vida, percorra, com pensamentos breves, o texto que referi. 1 – Maturidade humana como testemunho: A grande crise da actualidade consiste num deficit de humanismo integral onde se aliem as exigências humanas às espirituais. Estas terão de se alicerçarem numa maturidade humana que quotidianamente nos empenhe através dum processo dinâmico. Para a possuir e, particularmente, testemunhar, não bastam os anos. É fácil, qual canas agitadas pelo vento, adaptar-se e esquecer os conteúdos duma personalidade rica em valores. (Estar no mundo nunca pode ser sinónimo de se identificar com o corrente.) A crise de valores ameaça-nos e corremos o risco de cair em atitudes denunciadoras de pouca maturidade. Não valerá a pena colocar-se em questão, diariamente, através duma oração que escuta e dum exame de consciência que denuncia atitudes frívolas, primárias, talvez inconscientes? 2 – Permanente procura da verdade: Esta maturidade humana abre-se à procura da verdade. O Santo Padre recordava, na mensagem do Ano Novo, que “na verdade está a paz”. A verdade não é um dado adquirido. Procura-se permanentemente no silêncio, nos espaços de reflexão pessoal, na participação nas iniciativas que, incessantemente, nos são propostas. Outrora, num tempo dum dogmatismo hermético, limitávamo-nos a repetir o que aprendemos ou deveríamos ter aprendido. A evolução rápida das coisas não muda a verdade só que lhe apresenta fundamentações diferentes e coloca-a perante desafios muito mais exigentes. Um sacerdote que não reserva tempo para procurar a verdade dum modo diligente e como adesão sincera à revelação que o Magistério da Igreja propõe não pode ter a consciência tranquila. Ninguém ignora que é mais cómodo considerar-se possuidor da verdade ou interpretar a doutrina a seu bel-prazer. Somos eternos procuradores da verdade para apresentar razões credíveis de esperança. Precisamos de nos questionar a propósito daquilo em que acreditamos, das razões verdadeiras da nossa fé e, dum modo muito mais próximo, da maneira como aderimos às orientações da Igreja nas mais variadas áreas do saber. Não é com opiniões pessoais e interpretações meramente subjectivas que construímos a Igreja de Jesus. Num mundo plural e multicultural a unidade é a mensagem e doutrina que os sacerdotes, na sua riqueza pessoal, terão de professar e viver. Sem unidade não há Igreja e quem não a vive dispersa em vez de edificar. 3 – A santidade pessoal como ministério: Como atingiremos a verdade e testemunharemos uma verdadeira maturidade humana? Com uma aposta séria na santificação pessoal, delineada num programa de vida a cumprir escrupulosamente e na vivência de todas as virtudes e particularmente da humildade e caridade. Cada um de nós necessita de ter um programa de vida onde são consideradas todas as vertentes. Sabemos que a meta está em “ser Santo como Deus é Santo” e estruturamos uma caminhada de harmonia com a tradição da Igreja, os nossos gostos pessoais e a maravilhosa riqueza que hoje nos é oferecida pelos movimentos de espiritualidade. Ninguém ignora quanto a Igreja determina sobre a vida de piedade do sacerdote. Como vai esta piedade? Ao núcleo de compromissos sacerdotais ditados pela sabedoria de 20 séculos de história da Igreja, sempre foi extremamente útil acrescentar a originalidade pessoal na afinidade de alguns mais próximos nas mesmas exigências. Isto poderá conduzir ao encontro com as diversas espiritualidades que, como tais, são meios e instrumentos que facilitam o encontro com Cristo desde que não depreciem ou destruam a unidade presbiteral local. Não aceito a expressão “crise da Igreja”; se a admito, é pela pouca aposta na santidade de vida por parte dos seus membros. 4 – A humildade e a caridade como sinais da santidade: A santidade é um projecto global mas que se realiza através das virtudes. O Santo Padre fala de duas absolutamente necessárias para o sacerdote dos dias de hoje. A humildade não diminui o prestígio nem a consideração. Quanto mais a testemunhamos, mais nos apreciam e isto diante dum mundo da auto-suficiência e do orgulho. Importa vivê-la com os sacerdotes reconhecendo-os como companheiros da mesma aventura e, particularmente, com os leigos que nem sempre são impertinentes e inoportunos. Há muita verdade no seu pensar. Basta esvaziar-se do autoritarismo escondido para os ouvir em profundidade. Por vezes parecem não querer aceitar as determinações da Igreja; encontrando um amigo acolhem e compreendem mesmo o que não queriam. A caridade é, para nós, exigência do Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas e que hoje, em nome de Cristo, exige que estejamos “dispostos a inclinarmo-nos perante os sofrimentos humanos, fazendo experimentar o consolo do amor de Deus e o calor da família eclesial a todos especialmente aos pobres e a todos aqueles que atravessam dificuldades”. Amor é dar a vida por todos numa universalidade que contrasta com o facciosismo hodierno e se expressa numa generosidade aberta a todos sem grupos nem partidos. É um projecto audacioso? 5 – Projecto realizável em comunhão presbiteral: A comunhão em Igreja é força e com os sacerdotes é capacidade de ser mártires pelo anúncio da verdade e pelo amor à humanidade. Daí que recordamos os sacerdotes que faleceram e os que se ordenaram ou irão celebrar as Bodas de Ouro e de Prata. 6 – Conclusão: Trabalhemos a pastoral presbiteral: Caríssimos sacerdotes, se estamos centrados pastoralmente na evangelização da família, sejamos família entre nós e para o ser, trabalhemos a pastoral presbiteral. A causa da comunhão presbiteral exige muita entrega e gostaria que interpretássemos uma verdadeira pastoral presbiteral onde cada um é agente para oferecer a todos a alegria de ser padre hoje. Sinto orgulho no presbitério que temos e somos. Se algum pensa que poderia ser melhor, comprometa-se e trabalhe para que isso aconteça. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz

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