Um génio humilde

Bento XVI, um ano depois D. Amândio Tomás é, porventura, o português que mais conviveu com o actual Papa, Bento XVI. Após um Pontificado, considera que o mundo já aprendeu a compreender este “génio humilde”. “Este Papa é um professor, um génio humilde – como foi definido por um ilustre Cardeal – que parece frágil, retraído, mas tem uma grande clareza e profundidade de pensamento, mesmo quando fala de improviso”, explica. Em declarações à Agência ECCLESIA, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Évora precisa que estas características têm conseguido cativar as pessoas, conquistando as multidões e, sobretudo, o coração dos jovens “levando-os a ver no mundo a caligrafia do Criador”. “Creio que o entusiasmo pelo Papa não diminuiu, pelo contrário, tem crescido sistematicamente”, refere. O prelado considera que a actuação de Bento XVI tem sido muito marcada pela continuidade com o pontificado de João Paulo II, no que considera ser “uma renovação na continuidade”. “Este ano de pontificado mostra uma perfeita colagem da figura do Papa a João Paulo II, cuja grandeza é sempre referida, de forma a conquistar o apoio dos que nutrem uma grande devoção ao Papa polaco”, aponta. Esta continuidade ficou patente, segundo D. Amândio Tomás, na JMJ de Colónia, em Agosto de 2005, e no Sínodo dos Bispos, no passado mês de Outubro, “onde foi evidente a sua intenção de centrar tudo em Jesus Cristo”. “A Igreja não é mais do que a anunciadora de Jesus Cristo e deve, por isso, encontrá-lo e proclamá-lo ao mundo”, prossegue. Os 40 anos do II Concílio do Vaticano foram uma oportunidade para que Bento XVI avaliasse aquilo que foi feito e o que importa fazer. “Tendo sido perito conciliar e o grande professor que todos reconhecemos, o grande mestre da fé, explicou as maneiras de ver o Concílio”, lembra o Bispo Auxiliar de Évora, explicando que os padres conciliares “não eram uma assembleia constituinte, pois Jesus Cristo é que constituiu a Igreja”. Sem surpresa A maneira como Bento XVI tem sido acolhido pela Igreja, ao longo deste ano, pode parecer uma surpresa para quem esperava um Papa intransigente, na linha do “duro” Joseph Ratzinger. Para D. Amândio Tomás, contudo, não há aqui nenhuma surpresa, porque o Papa continua a ser o mesmo, numa linha de pensamento e actuação que “leva ao essencial”. “Nós, na multiplicidade de actos do pontificado de João Paulo II, podemos ter esquecido que ele centralizou tudo em Jesus Cristo. Esse grande magistério, que importa redescobrir, teve em Joseph Ratzinger um braço direito”, relata. A primeira encíclica de Bento XVI nasce neste contexto e é, segundo o Bispo Auxiliar de Évora “um texto maravilhoso” sobre uma temática que “muita gente talvez não esperasse” ver tratada por este Papa. “É preciso voltar ao fundamental: a Igreja não se prega a si mesma, mas anuncia Jesus Cristo”, observa o prelado. D. Amândio Tomás acredita que esta dinâmica irá continuar e apresenta como exemplo a temática do V Encontro Mundial das Famílias, em Valência, que será precisamente a transmissão da fé. “O Papa insiste muito na evangelização através da formação das pessoas e não da pastoral de Cristandade, hoje ultrapassada”, conclui.

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