Cinema Policial no Século XXI

Ao longo do Século XX, de forma especial no cinema americano, o cinema policial teve sempre uma aceitação elevada. Pouco a pouco evoluiu para o thriller, em que o mistério passou a ser ultrapassado ou esmagado pela acção e pela violência, mas sempre com um ponto comum herdeiro do Código Hayes: o criminoso era sempre descoberto e condenado. Recentemente os cineastas parece terem retomado o gosto pela linha do mistério, sem necessidade de preencher as sequências com explosões arriscadas e perseguições de automóvel. Apela-se, de novo, à inteligência, para o espectador tentar ter, antes do final, uma ideia do que lhe vai ser revelado. Spike Lee, cineasta afro-americano de grande prestígio, alargou a actividade para além dos filmes de crítica social ao racismo, entrando, também ele, nesta linha lúdica que não deixa de lhe dar oportunidade a dizer muita coisa. Recorre a uma excelente equipa de actores, capitaneados por Denzel Washington mas, sobretudo, concretiza em imagens um argumento inteligente e com uma grande surpresa final, mesmo que sejam muitas as pistas deixadas (evidentes, mas só depois de conhecida a solução). Spike Lee não abandonou as suas permanentes intenções de crítica social. Com o cansaço revelado em algumas das obras mais recentes era urgente tentar novas vias, aplicar o seu grande talento numa área em que não corresse o risco de repetição. Ganhou-se um filme bem realizado, com uma dose de humor discreto, subtil, que sublinha da melhor maneira muitas das situações e que não deixa de nos dar um retrato curioso de algumas figuras características do povo americano, ou de certas áreas limitadas desse mesmo povo. Um filme inteligente é algo que se deve ver, para avaliar a capacidade de dedução de cada um, mas, sobretudo, como divertimento. E quando “ladrão rouba ladrão” há muitas interrogações éticas que ficam por responder. Francisco Perestrello

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