Revelações e curiosidades nos processos de Canonização, pelo Cardeal Saraiva Martins A relação de amizade pessoal entre João Paulo II e Madre Teresa terá influenciado a decisão do, então Papa dispensar o arcebispo de Calcutá dos cinco anos de espera para o início do processo de beatificação. No entanto, há uma normativa da Congregação para as Causas dos Santos que “prevê que se facilite, na medida do possível, o estudo de causas pertencentes a dioceses que ainda não possuem um beato ou um santo”. A revelação é feita pelo próprio Prefeito da Congregação, o Cardeal José Saraiva Martins, no livro «Como se faz um Santo», uma obra recentemente publicada em Itália, e cuja edição em português será apresentada na próxima segunda feira, em Lisboa. «Com se faz um Santo» é o resultado de uma entrevista do jornalista Saverio Gaeta, chefe de redacção da revista italiana Famiglia Cristiana, onde em cerca de 100 páginas, são descritos os aspectos mais secretos e desconhecidos dos processos de canonização, mostrando porque é que, nas causas, se presta sempre grande atenção aos aspectos “obscuros” dos candidatos, e porque motivo até agora poucos leigos foram feitos santos. Curiosidades Nesta obra, o Cardeal português, revela que o custo de um processo de canonização ronda os cerca de 14 mil euros, explicando que “os emolumentos da Santa Sé não vão além dos 6000 euros, e o total dos honorários para médicos, teólogos e bispos que estudam e julgam as causas anda à volta de 8000 euros”. Desde há 7 anos Prefeito da Congregação as Causas dos Santos, o Cardeal Saraiva Martins manifesta nesta obra ser dono de uma personalidade muito bem disposta, e recorrendo a recordações pessoais, episódios e curiosidades, revela o como e o porquê de um cristão ser elevado aos altares. No Dicastério a que preside existem cerca de 2200 causas, e entre elas encontram-se as “silenciosas” que são “as que foram iniciadas há alguns séculos e que ao longo do tempo – por ausência de milagres, pelo arrefecimento de interesse por parte de quem dera início à causa, ou por outro motivos – não avançaram”, explica. O Cardeal refere ainda que até à Páscoa de 2005, e só no pontificado de João Paulo II, “terminaram definitivamente as respectivas etapas as causas de 483 santos e de 1345 beatos”, e para além de não deixar de se referir aos Pastorinhos de Fátima, beatificados por João Paulo II, revela que há uma dezena de crianças com causa de beatificação aberta”. Porém faz questão de frisar que “modelos como os Pastorinhos de Fátima são raros”. Sobre outros processos de portugueses abertos, o D. José Saraiva Martins enumera alguns nomes, uns mais conhecidos do que outros, e recorda a beatificação da madre Rita Amada de Jesus, que o próprio virá beatificar, em Viseu, no próximo dia 28 de Maio. «Quero ser padre!» Do início deste livro extraem-se alguns dados que permitem elaborar o seu perfil. Nascido “numa família profundamente cristã e educado de acordo com os princípios da Igreja”. Tem oito irmãos e refere que quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande, respondia: «Quero ser padre.» Entrou, então, no Seminário aos 11 anos. Já em Roma e depois de ordenado sacerdote e bispo da Igreja, o Papa João Paulo II fê-lo Cardeal da mesma igreja romana onde foi ordenado: a de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Praça Navona. Considera-se um académico e um pastor, não deixando de sublinhar que “o professor deve ser ao mesmo tempo pastor”. Embora tenha o seu tempo muito ocupado diz que, quando as outras actividades o permitem, dedica-se ao ministério pastoral. E os Domingos que são livres de compromissos da Congregação, passa-os em comunidades paroquiais porque, acentua, “nós bispos e cardeais somos sobretudo sacerdotes”. Na sua oração dirige-se com maior frequência à Virgem Santíssima, até porque cultiva uma devoção mariana desde a infância, infundida pela sua mãe. Entre os santos dirige-se com maior frequência a Santo António, de Lisboa.