Estando entre os géneros mais antigos do cinema e dos que a este mais se adapta na vertente do espectáculo lúdico, a ficção científica tem povoado com grande frequência as produções de variadas origens. Já em 1902 Georges Méliès se divertia e divertia o seu público com “A Viagem na Lua”, pequeno embrião dos grandes meios que permitiriam produzir, muito mais tarde, “2001: Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick. Esta última obra, mesmo tendo em conta um elevado conteúdo filosófico, era portadora de um enorme volume de informação, em boa parte sobre matéria já disponível mas ainda pouco acessível à generalidade das pessoas, mas também com projecções para o futuro passíveis de despertar o raciocínio, a avaliação e a separação do presumível e da pura fantasia. Recentemente, a tendência geral para os filmes sobre o futuro e as suas técnicas é o reciclar de ambientes e motivos já utilizados, com uma evidente prioridade do insólito e do impossível, abandonado-se uma construção narrativa com base na lógica e na extrapolação de acontecimentos genuínos. O exemplo mais recente desta via menos interessante chega-nos através de “Ultravioleta”, com a acção situada nos finais do Século XXI, que mais não é que um acumular de movimento, diferentes formas de luta, numa perspectiva totalmente lúdica, muito na linha dos jogos de vídeo e das longas séries televisivas de ficção científica. O essencial é a força de cada imagem, o seu impacto visual, com uma preocupação menor quanto ao significado que a mesma deveria prestar ao conjunto. É um cinema de impacto directo, que nada deixa na memória uma vez terminada a projecção. Um divertimento capaz, mesmo assim, de atrair o público dos filmes de acção, que se mostra suficientemente numeroso para viabilizar produções como estas, compensadas em geral na área do vídeo, hoje transferida para o suporte DVD. Francisco Perestrello