Igual dignidade, igualdade de direitos

Que sejam respeitados os direitos individuais, sociais e políticos da mulher em todas as nações – Intenção Geral do Santo Padre, confiada ao Apostolado da Oração, para Abril 1. Dignidade humana. O ponto de partida desta reflexão é o reconhecimento da igual dignidade de todos os seres humanos. Da rejeição desta igualdade originária brotam todas as formas de discriminação: em função do sexo, da cor, da raça, da religião, das opções políticas – é quase infindável a lista de «razões» capazes de levar à discriminação. No caso da mulher, o reconhecimento da sua dignidade de pessoa humana – igual em dignidade e, portanto, em direitos, ao homem – tem sido um doloroso caminho, percorrido com lentidão ao longo de séculos. Ainda hoje, são muitas as formas de discriminação que as mulheres enfrentam, mesmo quando já viram legalmente reconhecidos e afirmados os seus direitos: na família, no emprego, na política, na rua… a discriminação surge, ou pode surgir, de modo mais ou menos subtil, mas sempre detestável. 2. Caminhos equívocos. A luta pela afirmação da igual dignidade de homem e mulher e da igualdade de direitos é, não apenas legítima, mas também justa e eticamente inquestionável. Aqueles e aquelas que se empenham nesta luta merecem, pois, a gratidão das sociedades e de todas as pessoas de boa vontade. Convém, no entanto, não confundir planos. Uma coisa é afirmar a igual dignidade do homem e da mulher; outra bem diferente é negar a especificidade de cada um e a respectiva complementaridade. Uma coisa é empenhar-se para que a igualdade de direitos entre mulher e homem seja cultural e legalmente reconhecida; outra bem diferente é estabelecer «quotas» para a realização desta igualdade, como se tudo não passasse de uma questão de percentagens. Uma coisa é defender a liberdade de escolha do modo de vida por parte das mulheres; outra bem diferente é a opção por um feminismo totalitário, fundado na ideologia do «género», que rejeita qualquer diferenciação de papéis entre homem e mulher, considerada mero produto cultural de sociedades machistas. Na maior parte dos países – nuns mais, noutros menos – há ainda um longo caminho a percorrer para que a igual dignidade da mulher e do homem seja reconhecida e praticada. Mas a escolha de caminhos equívocos para afirmar esta igualdade não favorece a causa, antes pelo contrário. 3. À imagem de Deus. A afirmação da igual dignidade de todos os seres humanos faz parte do património mais original da tradição bíblica. Logo no início, afirma-se a criação do homem e da mulher «à imagem e semelhança de Deus» (cf. Gn 1, 26-27) – e a bênção de Deus é para ambos, por igual. Esta afirmação originária teve, certamente, que «incarnar» nas culturas de cada tempo e o seu alcance apenas seria plenamente intuído com o decorrer dos séculos. No seguimento de Jesus, o cristianismo desempenhou um papel notável na melhor compreensão das consequências da revelação bíblica sobre a «imagem de Deus» e a igual dignidade de homem e mulher daí resultante. Mesmo assim, foram necessários séculos para esta compreensão ter consequências práticas. E, hoje, a maior parte das organizações que lutam pelos direitos da mulher ignoram ou rejeitam a importância da tradição judaico-cristã nesta questão. Em muitos casos, consideram mesmo o cristianismo (e a Igreja Católica, em particular) um obstáculo a ser removido, se quiserem atingir os fins que se propõem. 4. Cumprir o Evangelho. Mais em actos do que em palavras, Jesus foi para as mulheres do seu tempo como nenhum outro «rabi» se atreveria a ser. Pôs em causa o adquirido pela cultura judaica do tempo relativamente à relação entre homem e mulher e, mesmo, a tradição legal e religiosa considerada de origem divina e dada por Moisés ao povo de Israel. Entre os seus amigos e discípulos havia várias mulheres, muitas das quais citadas pelo nome, como é o caso de Marta e Maria, irmãs de Lázaro, em casa de quem se recolhia (cf. Jo 11-12). E foi ao ponto de pôr em causa publicamente o preceito segundo o qual as adúlteras deveriam ser apedrejadas (cf. Jo 8, 1-11). Aos cristãos, no seguimento do seu Senhor e Mestre, não deve, portanto, ser estranha a tarefa de, nos ambientes onde vivem, a começar pela família e pela Igreja, afirmar a igual dignidade entre homens e mulheres e promover o respeito pelos direitos da mulher. Não se trata tanto de fazer discursos e teorizar sobre o assunto, trata-se antes de viver no quotidiano as atitudes e os ensinamentos de Jesus, fazendo-os permear as sociedades e as culturas. Deste modo se cumprirá o Evangelho e se ajudará a mudar comportamentos e mentalidades sobre os quais nenhuma lei, por mais perfeita, consegue agir em profundidade. Elias Couto

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Agência ECCLESIA

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