Proposta «nasceu» nas redes sociais e difundiu-se por todo o país
Lisboa, 02 abr 2020 (Ecclesia) – As famílias católicas de Portugal estão a ser desafiadas a colocar uma Cruz à porta de casa, como forma de assinalar a Semana Santa e a Páscoa, nesta fase de isolamento social.
A família Nunes da Silva, residente em Lisboa, teve conhecimento da iniciativa, “partilhada por amigos” e aceitou o desafio para viver este “tempo de forma diferente”.
“Na prática temos de ganhar consciência, neste rebuliço do trabalho em casa, nesta fase de isolamento, perdemos o foco do que é essencial e isto é recentrar na Semana Santa”, explica Maria. à Agência ECCLESIA.
A família é composta pelos pais, Maria e Tomás, e por duas filhas, Teresa e a Maria do Carmo, de oito e quatro anos, a que todos os dias “lembram a Semana Santa”.
“Não é mais do que parar um bocadinho, explicar às miúdas, incentivar e ter uma componente lúdica, para se divertirem, e não verem a Semana Santa como algo muito pesado, mas como um tempo positivo na nossa vida”, refere Maria Nunes da Silva.
Neste tempo de isolamento social, em que os pais estão a trabalhar em casa, Teresa e Maria do Carmo, preparam a cruz que, em domingo de Ramos, irá para a varanda.
“A Teresa tem adorado, com oito anos, está a viver a Páscoa de maneira diferente, com um sacrifício de deixar os doces de lado e está a cumprir à risca, a mais pequena, Maria do Carmo, vai a reboque da irmã”, partilha a mãe.
Maria Nunes da Silva referiu ainda que este tempo de quarentena tem servido para a família ganhar um “hábito novo”, conseguindo ter tempo para rezar antes das refeições, já que estão todos juntos e esta “cruz ganha outro significado”.
Já pomos no Natal o estandarte e agora vamos pôr uma cruz na varanda porque ser católica é uma coisa boa, não há vergonha e até pode ser que dê algum ânimo a alguém e haja algum católico que esteja numa janela, veja, e pense que vai fazer também”.
O padre Eduardo Mendes, pároco no Sabugal, Diocese da Guarda, viu esta iniciativa nas redes sociais, resolveu partilhar e apressou-se a fazer uma cruz, “para dar o exemplo”.
“Apesar de não ser uma iniciativa minha, foi sendo partilhada de forma extensiva, tendo milhares de gostos e partilhas”, diz à Agência ECCLESIA.
O sacerdote defende que a iniciativa vai marcar esta Páscoa, com um gesto visível que “ajude a viver, leve a rezar e a viver melhor”.
“A fotografia que eu partilhei na rede social Facebook é a porta da casa paroquial e a cruz é a minha que colocarei na porta no Domingo de Ramos, uma cruz trazida da Terra Santa, que escolhi para colocar, por todo o simbolismo que tem”, justifica.
Num meio rural e interior , com população envelhecida, como o arciprestado do Sabugal, onde tem a responsabilidade de seis paróquias, o padre Eduardo Mendes sabe que as “pessoas não têm redes sociais”, onde não tem havido contacto com as pessoas mas já todas vão sabendo da iniciativa.
Já na Diocese de Coimbra, na paróquia de Alvaiázere, uma das regiões muito fustigadas pelos casos de Covid-19, o padre André Sequeira “apanhou” a iniciativa nas redes sociais.
“Uma vez que não podemos viver da melhor forma esta época, esta é uma iniciativa muito boa para passar o conteúdo da Páscoa, partilhar o florir da Cruz é a alegria da ressurreição”, diz à Agência ECCLESIA.
Com a partilha nas redes sociais foi dando a conhecer aos paroquianos o desafio que foi logo “bem aceite” e já tem o feedback de muitas famílias que preparam a sua Cruz.
“Vivermos agora com mais tempo, em casa e em família, podemos ter tempo para a oração e, porque não, para a construção desta cruz?”, pergunta.
O padre André Sequeira, a regressar de um funeral, “momento sempre difícil”, confessava que “ainda não tinha pensado na forma” de fazer a sua cruz.
“A casa paroquial vai ter uma cruz, mas ainda não sei de que forma vou fazer mas vou personalizar… E quero que os meus paroquianos vão partilhando fotografias das suas cruzes, como esta mensagem de fé e esperança, em tempos de provação, em que não podemos desanimar”, conta.
“No próximo Domingo, Domingo de Ramos, todos colocarmos uma cruz na porta de nossa casa (varanda, portão ou outro sítio visível), que aí permanecerá toda a Semana Santa. No Domingo de Páscoa enfeitamos essa cruz com flores, assinalando, desta forma, a alegria da Ressurreição de Cristo”, explicava o desafio que também chegou à Agência ECCLESIA.
Vários bispos têm sugerido esta iniciativa como forma simbólica de assinalar a Semana Santa, face à suspensão das celebrações comunitárias da Missa; no domingo de Páscoa, os sinos das igrejas de várias dioceses vão tocar festivamente, para assinalar a ressurreição de Jesus.
SN/OC