Tony Neves
O Natal está cheio de ‘lugares comuns’. Uns parecem-me positivos e a manter (‘Festa da Família’, ‘Missa do Galo’, ‘Fraternidade’, ‘Paz’…), outros são, para mim, dispensáveis (‘luzes’, ‘prendas’, ‘consumismo’, ‘frio’ –na Europa e América do norte – , ‘calor’ -na África e América latina… -, ‘pai natal’…). Para mim, o importante é focar no essencial e, nesse sentido, o Natal é uma Pessoa: Jesus Cristo que nasceu em Belém e continua a nascer nos corações que a Ele se abrem.
A Mensagem do Natal assenta neste Menino que nasce pobre, abandonado, desprezado, mas, ao mesmo tempo, amado, visitado, aclamado, adorado. No Natal do ano passado, o Papa Francisco fez, na basílica de S. Pedro, uma homilia muito profunda de onde retirei a minha mensagem de Natal para este ano: ‘Vamos a Belém(…). O caminho ainda hoje é difícil: é preciso superar os cumes do egoísmo, evitar escorregar nos precipícios da mundanidade e do consumismo. Quero chegar a Belém, Senhor, porque é lá que me esperas. E dar-me conta de que Tu, colocado numa manjedoura, és o pão da minha vida’.
Tanto se tem falado das periferias e margens e, por isso, é bom recuperar o Retiro Espiritual que o Cardeal Tolentino Mendonça orientou ao Papa e à Cúria, no ano passado. Lá, quando falava da figura de Cristo, lembrou: ‘O Papa Francisco mobiliza o cristianismo para uma saída até às periferias, recordando que o próprio Jesus é um homem periférico. Jesus não foi um cidadão romano – não pertenceu ao primeiro mundo de então – nem integrou a elite judaica (…). A periferia está assim no ADN cristão, pois aproxima-o do seu contexto originário e do seu programa. (…). A vitalidade do projecto cristão joga-se nas periferias. (…). Para a Igreja, a periferia não é um problema, mas um horizonte – não se cansa de dizer o Papa Francisco. (…). A Igreja do século XXI assumirá a sua identidade periférica e desafiar-nos-á a descobrir as periferias como novos endereços de Deus. O cristianismo tem aí um encontro marcado com o futuro’.
É mesmo isso. O Natal marca a entrada de Cristo encarnado na história e mostra as grandes opções de Deus que exige de todos um estilo de vida simples e pobre, desprendido das coisas deste mundo, muito preso aos que vivem nas periferias e margens das nossas sociedades. Por isso, a solidariedade e a fraternidade são valores grandes do Natal e, sem eles, esta festa perderia boa parte do seu sentido e da sua profundidade de mensagem.
O Cardeal Tolentino, poeta e biblista, também escreveu um texto que me marca: ‘Natal presente’. Diz: ‘O Natal envolve-nos tanto, porque no olhar frágil e terno de Jesus-Menino reencontramo-nos nós próprios e sentimos, mais profundamente, aquilo que a nossa vida é chamada a ser. Ao olhar de um adulto, facilmente conseguimos escapar. Mas quando este Deus-Criança nos olha, a verdade é que ficamos desarrumados das nossas certezas, pois percebemos que temos andado longe, adiado e complicado o segredo da vida, que afinal é tão simples’.
Desejo a quantos me leem e ouvem um Natal cheio da Ternura do Menino. Haja Paz e haja GPSs atualizados que nos levem directamente ao Presépio!