Responsáveis indicam «imperativo» de denunciar «situações anómalas e não compagináveis com os princípios e os valores da Igreja Católica»
Évora, 04 dez 2019 (Ecclesia) – A Comissão Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de Évora está preocupada com o despovoamento da região alentejana e a simultânea chegada de migrantes para trabalhar na agricultura que carecem de “acolhimento” e acompanhamento.
“No que ao despovoamento diz respeito, foi analisado o enquadramento sociocultural, económico, educacional, infraestrutural, político e religioso, no passado e na atualidade, tendo em vista identificar as razões pelas quais as pessoas saíram e saem da região”, afirma a CJP de Évora num documento apresentado hoje em conferência de imprensa.
A recém-criada comissão na Arquidiocese de Évora lembrou que, no passado, o êxodo da população “deveu-se sobretudo à busca de melhores salários e condições sociais” e, paralela e cumulativamente, também se verificou “um forte índice de emigração, na perspetiva de busca de uma melhor expectativa de vida e estabilidade familiar”.
“Independentemente das políticas e dos incentivos que vierem a ser criados, dificilmente se reverterá o despovoamento que se verifica na atualidade e, as antigas e atuais gerações de cidadãos nacionais, dificilmente voltarão em massa às suas origens”, acrescenta o documento.
Sobre a chegada de migrantes à região alentejana para trabalhos agrícolas, a CJP de Évora acompanha uma realidade que não é “só a nível sazonal, mas também a título permanente”, provenientes “fundamentalmente” do Brasil, mas também dos países de Leste da Europa, como a Roménia, Moldávia, Ucrânia, e também da Ásia: Índia, Paquistão, Nepal.
A Arquidiocese de Évora alerta para a existência de tráfico de pessoas, “com exploração das mesmas, quer por máfias dos seus países de origem, quer pelas entidades empregadoras”.
“Acolher e integrar” da melhor forma possível os migrantes que escolhem o Alentejo para viver e trabalhar é o repto da Igreja que pode ser “um parceiro privilegiado neste acolhimento” através de um “acompanhamento próximo da realidade laboral e social”, prestando assim, ajuda na integração.
A CJP, convocando a Cáritas na partilha das preocupações mas também das respostas, a dar para um “acolhimento mais caloroso humano e fraterno possível”, sublinha a necessidade de ajudar na aprendizagem da língua portuguesa, do “apoio escolar e sanitário”, bem como no fornecimento de informações sobre “direitos dos migrantes”.
Como repto final, a CJP afirma que é necessário denunciar “situações anómalas e não compagináveis com os princípios e os valores da Igreja Católica e da boa convivência entre pessoas”, propondo a “agilidade dos processos” e “pressão junto de entidades que possam influenciar a decisão ao mais alto nível do Estado e das instituições públicas com responsabilidades nestes domínios” de forma a serem criadas medidas para um “rápido processo de integração”.
A Comissão evidencia o “acompanhamento de perto” que a Igreja deverá manter para perceber o que “pode eventualmente vir a fazer no futuro”.
A 29 de junho, o arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, aprovou a constituição da comissão que tem como objetivo “assessorar e aconselhar” sobre assuntos relacionados com a justiça e a paz que “ocorram fundamentalmente dentro da área geográfica correspondente à arquidiocese”.
HM/LS/CB/PR