300 investigadores nacionais e estrangeiros reunidos em Braga A sessão de abertura do Congresso Internacional de Filosofia ficou ontem marcada pelo testemunho de Lúcio Craveiro da Silva, que recordou as dificuldades de organização, durante o Estado Novo, do I Congresso Nacional de Filosofia. A intervenção do jesuíta acabou por dar o mote à iniciativa mundial, que reúne, na FacFil, mais de 300 investigadores nacionais e estrangeiros. Estes pretendem delinear, até amanhã, as “perspectivas para o século XXI” do pensamento filosófico. A propósito, o presidente do Conselho Cultural da Universidade do Minho referiu que, em 1955, o I Congresso Nacional «marcou o início de um novo ciclo», que reuniu, pela primeira vez, as Faculdades nacionais de filosofia. O ex-reitor da UM contou que «as entidades oficiais da época ficaram surpreendidas com a iniciativa, dada a dificuldade que se tinha em controlar um evento deste tipo, que surgiu no seio da UCP». «Aliás, uma nota do Ministério da Educação proibia que os professores do ensino oficial interviessem numa universidade particular», explicou o académico, acrescentando que, «em Portugal, existem dificuldades habituais na promoção destas iniciativas ». Antes da intervenção de Lúcio Craveiro da Silva, o coordenador do Congresso também pautara o seu discurso por um tom crítico, afirmando que dá a impressão de que «a filosofia e as humanidades caíram num estado de crise». «É preciso inserir novamente na nossa cultura o vigor espiritual que só uma filosofia clarividente e equilibrada poderá trazer», defendeu João Vila-Chã, que lamentou, por isso, «a ausência dos mais altos responsáveis pelos destinos da política educativa e cultural portuguesa ». Apesar disso, o responsável não deixou de avisar que «as entidades da nobre arte do pensamento deste país não estão a dormir, nem sequer desanimadas». Ao justificar a pertinência e a dinâmica do Congresso, o professor universitário avisou que «é urgente, num esforço de inter-disciplinaridade, desenvolver caminhos novos na actividade filosófica » em Portugal. Esta opinião foi corroborada pelo director da FacFil, Alfredo Dinis, que chegou a classificar a promoção do evento como «um acto de coragem», devido às circunstâncias mencionadas acima. O reitor da UCP foi mais longe ao dizer que «a internacionalização do Congresso é a expressão do caminho que a Católica pretende trilhar, através do diálogo com todas as civilizações e culturas do mundo». Manuel Braga da Cruz fez votos para que «a iniciativa contribua para a afirmação pública da filosofia no âmbito da cultura e na formação intelectual dos universitários». De seguida, a investigadora da Universidade espanhola de Valência, Adela Cortina, proferiu uma conferência, subordinada ao tema “ética do desenvolvimento: uma exigência de justiça”, e, à tarde, Paul Gilbert, da Universidade Gregoriana de Roma, abordou a “violência, verdade, justiça”. O dia terminou com o primeiro simpósio do Congresso, sobre os pensadores Emmanuel Mounier e Emmanuel Levinas, que foram alvo das apreciações de Carlos Diaz, do Instituto Mounier, e Roger Burggraeve, da Universidade Católica de Lovaina. Inter-culturalidade em debate O Congresso prossegue hoje com uma conferência sobre “filosofia e interculturalidade: uma relação necessária para pensar o nosso tempo”, proferida pelo filósofo cubano Raul Fornet-Bettancourt. O investigador da Universidade de Aachen, na Alemanha, pretende fazer um balanço do estado actual da cultura filosófica predominante, para, num segundo momento, apresentar a necessidade de transformar a filosofia interculturalmente, para que possa estar à altura dos problemas actuais. Às 16h00 começa a palestra “Mounier: para uma ontologia da pessoa”, proferida por Virgílio Melchiorre, docente da Universidade Católica de Milão. O segundo simpósio do Congresso arranca, às 18h45, com uma abordagem ao pensamento de Karl Rahner e Bernard Lonergan, a cargo dos especialistas Thomas Sheehan, da Universidade norte- americana de Stanford, e Frederick Lawrence, do Boston College. Os trabalhos terminam, às 21h30, com a apresentação dos “Desafios do Conceito de Pessoa para o Direito do Século XXI”, por Marcelo Rebelo de Sousa. A palestra acontece no âmbito da comemoração do 60.º aniversário da “Revista Portuguesa de Filosofia”.
