Gente do mar agradeceu ao Senhor dos Navegantes

Milhares de pessoas de todo país rumaram, ontem, até às Caxinas, em Vila do Conde, para participar na imponente procissão do Senhor dos Navegantes, uma das maiores a nível nacional. O director do Apostolado do Mar considera que esta procissão é o rosto visível de uma acção de graças e de um agradecimento da gente do mar à ajuda e amparo divino recebido ao longo de todo o ano. O padre Carlos Lopes refere que, apesar de haver um espírito comum, as manifestações de fé dos pescadores têm um colorido diferente conforme a região. A grandiosidade e imponência da procissão do Senhor dos Navegantes – uma das maiores do país – que se realizou ontem na paróquia das Caxinas, em Vila do Conde, não deve ser entendida como um luxo ou como um gasto supérfluo. Ela é o rosto visível de uma acção de graças e de um agradecimento da gente do mar à ajuda e amparo divino recebido ao longo de todo o ano. Esta é a leitura feita pelo padre Carlos Lopes ao acontecimento que junta milhares de pessoas nas Caxinas, muitas delas provenientes de outras comunidades piscatórias de Norte a Sul do país. Aquele sacerdote, que pelo terceiro ano presidiu à procissão, referiu ao Diário do Minho que «as manifestações de fé dos pescadores têm todas um colorido diferente, de acordo com a região do país». Por isso, salienta que uma festa religiosa no Algarve ou no Minho são indubitavelmente diferentes porque, embora o espírito do povo pescador seja comum, a forma de sentir e viver é própria a cada uma das zonas. «Aqui no Minho, as imagens são as maiores porque o povo sente a necessidade de ver e tocar e não olha a esforços para expressar o seu agradecimento e louvor a Deus e a Nossa Senhora», sublinhou o padre Carlos Lopes. Uma das características que o director nacional do Apostolado do Mar destaca na comunidade paroquial das Caxinas é o facto de todos se mobilizarem para aquela celebração de acção de graças a Nosso Senhor dos Navegantes. «Aqui, nas Caxinas, a alegria que envolve esta manifestação pública da fé católica não é comparável com outras que se realizam pelo país», frisou o sacerdote. Para o padre Carlos Lopes, «no Minho há menos respeito humano ou vergonha em assumir a fé e sair pela rua expressando-a». De acordo com o presbítero, esta característica, nas Caxinas está ligada com o «espírito mais afoito do pescador desta zona, obrigado todos os dias a enfrentar um mar mais agitado que noutras paragens», acostumado também às dificuldades do dia-a-dia. O padre Domingos Ferreira Araújo, pároco das Caxinas e arcipreste de Vila do Conde, garantiu ao DM que ontem estava presente na festa do Senhor dos Navegantes «muita gente ligada ao mar, desde Vila Praia de Âncora até à Fuzeta». Aquele sacerdote referiu ainda que a procissão do Senhor do Navegantes é uma das maiores do país em número de andores (16 no total) com a dimensão que têm. No que se refere à extensão da procissão, o pároco das Caxinas não duvida que aquele cortejo religioso seja «o maior do país». Com os seus 500 figurantes, andores, bandas de música, entre outros participantes, o padre Domingos Ferreira Araújo adianta que a procissão se estende por cerca de um quilómetro e 100 metros, «cerca de metade do percurso que é de dois quilómetros e 200 metros», acrescentou. Senhora da Bonança e Senhor dos Navegantes A abrir a procissão vai o andor com a imagem de Nossa Senhora da Bonança. Este ano, foi a embarcação “Ajudado Por Deus” que teve a responsabilidade de transportar aquele andor cuja imagem, por si só, pesa 380 quilos. Nada que assuste os homens de José Carlos Craveiro, armador e mestre daquela embarcação. Ao DM aquele mestre salientou que «é sempre um privilégio levar um andor» naquela procissão. Um facto que deixa os seus homens orgulhosos. Embora este ano lhe tenha tocado a tarefa de levar a Senhora da Bonança, José Carlos Craveiro refere que nos últimos anos o “Ajudado Por Deus” já levou o andor do Senhor dos Navegantes por seis vezes e que aquela era a segunda vez que levava o andor mais pesado na procissão. Quanto à festa «é com orgulho que a vemos crescer de ano para ano», sustenta aquele mestre, acrescentando que se não fosse por devoção, aquela tradição já teria acabado. Este ano coube ao barco “Régio Mar”, de Mário Fangueiro, a tarefa de transportar em ombros o andor do Senhor dos Navegantes, o último da procissão. Também aquele mestre e armador referiu que tal tarefa «não é entendida como um título » mas não deixa de ser «um orgulho e até vaidade » para si e para os seus homens. Mário Fangueiro referiu ainda que já não é necessário qualquer ensaio para integrar a procissão, uma vez que ela já faz parte das suas vidas há muito tempo.

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