Superior provincial dos Espiritanos testemunhou presença da doença na Cidade da Beira
Beira, Moçambique, 01 abr 2019 (Ecclesia) – O superior provincial da Congregação do Espírito Santo em Moçambique alertou hoje para a situação dramática das populações da Beira que, depois de atingidas pelo ciclone Idai, sofrem agora com o espectro de uma epidemia de cólera.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre Alberto Tchindemba destaca o “medo” das pessoas, que esta situação se “possa alastrar” a toda a região e agravar ainda mais o quadro negro deixado pela catástrofe natural que se abateu sobre Moçambique.
De acordo com os últimos dados divulgados pelas autoridades moçambicanas, o ciclone Idai provocou pelo menos 518 mortos e 1641 feridos, e mais de 146 mil pessoas ficaram sem teto, estando agora instaladas em centros de acolhimento.
Foi numa dessas casas de apoio “a pessoas que perderam tudo” que o padre Alberto Tchindemba pôde ver o perigo de uma nova tragédia.
“Neste centro que visitei esta manhã já aconteceram casos de cólera e falaram-me de um óbito, de um senhor que morreu com essa doença, não o conseguiram ajudar. Contaram-me também que outra pessoa tinha acabado de ser levada para o hospital, para a tentarem tratar”, relata o sacerdote.
De acordo com aquele responsável, o governo moçambicano já colocou em marcha uma “campanha de vacinação” por causa do perigo de cólera, e também de “sensibilização” das populações, “para que tenham cuidado com a água que bebem e com tudo aquilo que vão consumindo”.
A falta de bens essenciais, principalmente de alimentos e água potável, e a ausência de saneamento básico, aumentam o risco de propagação das doenças.
“Há realmente fome. E não podemos contar com as culturas dos campos, pois ficou tudo arrasado”, sublinha o padre Alberto Tchindemba.
No meio das dificuldades, a Igreja Católica na região, bem como várias instituições ligadas a outras confissões religiosas, vão fazendo o que podem para ajudar as pessoas mais necessitadas.
“A Igreja Católica tem feito um trabalho gigantesco na distribuição de alimentos, através da Cáritas, de uma organização e mobilização feita através das paróquias. O que chega é canalizado para a Cáritas Diocesana da Beira e a partir dali os párocos vão buscando os bens para atenderem às necessidades das suas paróquias”, explica o superior provincial dos Espiritanos.
Em termos das necessidades de habitação, estas também são “enormes” – as autoridades estimam que o ciclone Idai terá destruído quase 60 mil casas.
“O que encontrei na Cidade da Beira é uma situação triste, com muitas casas devastadas, muitas casas sem teto, outras caídas”, atesta o padre Alberto Tchindemba, que enaltece o “movimento solidário” que se tem verificado, com muitas pessoas a tentarem “ajudar aqueles que mais precisam”.
“Aqui vemos a importância do prego, do martelo, da chapa”, salienta aquele responsável, que se confessa também chocado com o cenário que encontrou.
“É triste ver como a natureza é capaz de se enfurecer e causar os danos que causou”, desabafa.
O superior provincial da Congregação do Espírito Santo viajou de Nampula diretamente para a Beira, onde chegou este domingo à noite, e vai permanecer na região até dia 13 de abril.
Questionado sobre a importância da visita do Papa Francisco a Moçambique, no próximo mês de setembro, para o esforço de recuperação do país, o padre Alberto Tchindemba frisou a “alegria” que esta notícia trouxe às comunidades moçambicanas e sobretudo às vítimas desta catástrofe.
“Sabemos que o Papa Francisco é alguém muito solidário, muito próximo dos pobres, um Papa que tem feito um trabalho extraordinário a favor da justiça e da paz, e esta visita vai também ajudar a dar mais solidez a esta nação, será realmente um balão de oxigénio para todos”, perspetivou o sacerdote.
JCP