Bento XVI em férias de silêncio e reflexão

Bento XVI explicou ontem que as férias são indispensáveis para fazer face ao frenesim do mundo contemporâneo, de modo a permitir restaurar as forças do corpo e da mente. “No mundo em que vivemos, torna-se quase uma necessidade poder retemperar o corpo e o espírito, especialmente para quem habita na cidade, onde as condições de vida, muitas vezes frenéticas, deixam pouco espaço ao silêncio, à reflexão e ao contacto relaxante com a natureza”, disse na primeira oração do Angelus, enquanto Papa, recitada nos Alpes italianos. O Papa dirigia-se a cerca de 8 mil peregrinos reunidos perto do seu local de férias, na localidade de Combes de Introd, onde chegou no passado dia 11 de Julho. “As férias são, além disso, dias nos quais se pode dedicar mais tempo à oração, à leitura e à meditação sobre o significado profundo da vida, no contexto sereno da própria família e dos mais próximos”, acrescentou. As primeiras palavras de Bento XVI, aos pés do Mont Blanc, foram a recordação de João Paulo II, o seu “querido predecessor”, que durante vários anos passou férias no mesmo local. Esta lembrança do Papa polaco foi sublinhada com aplausos pelos peregrinos. O Papa sublinhou que o tempo de férias oferece ainda a oportunidade de gozar os “espectáculos da natureza”, que considerou “um livro maravilhoso, tanto para os mais velhos do que para crianças”. “Em contacto com a natureza a pessoa reencontra a sua justa dimensão, descobre-se criatura, mas ao mesmo tempo, única, capaz de Deus porque interiormente aberta ao infinito. Impelida pelo pedido de sentido que urge no coração, ela percebe no mundo que a circunda a chancela da bondade e da providencia divina e quase naturalmente abre-se ao louvor e á oração”, indicou. Bento XVI não esqueceu, por outro lado, as próximas Jornadas Mundiais da Juventude, na Alemanha, dirigindo-se em especial aos jovens: “vemo-nos todos em Colónia”. Este primeiro encontro público de Bento XVI com a população do Vale de Aosta que mostrou ao Papa uma grande simpatia com o seu caloroso acolhimento, foi uma ocasião para um agradecimento à Igreja local, representada pelo bispo D. José Anfossi. Em conclusão, Bento XVI dirigiu uma oração a Maria para que ensine ao homem de hoje “o segredo do silêncio que se torna louvor, do recolhimento que dispõe á meditação, do amor pela natureza que floresce em agradecimento a Deus”. Após os primeiros meses de “exigente serviço pastoral”, o Papa agradeceu a Deus a pausa de verão, que está a ser aproveitada, segundo os relatos dos seus mais próximos colaboradores, para a escrita, longas caminhadas e um pouco de música, ao piano. Estes dias servem, igualmente para estudar e preparar alguns documentos – segundo o cardeal Tarcisio Bertone, Arcebispo de Génova que o visitou há alguns dias, Bento XVI está a redigir o seu primeiro livro como Papa. “O Papa fecha-se no seu quarto e escreve até à hora de almoçar. À tarde faz longas caminhadas nas redondezas da casa”, revelou Navarro-Valls, porta-voz do Vaticano que acompanha as férias de Bento XVI. Nos dias de férias já passados, o Papa saiu do chalé onde se aloja para dar alguns passeios pelos caminhos do monte Pileo, a 1644 metros de altitude, onde chega de automóvel por estradas secundárias. Deste modo evitou ser visto por fiéis, curiosos, fotógrafos e jornalistas, ao contrário do seu antecessor, João Paulo II, que costumava passar entre turistas e habitantes da aldeia, que iam à região para saudá-lo. Ontem, contudo, após a recitação do Angelus, o Papa passou vários minutos a saudar dezenas dos peregrinos presentes, após ter manifestado, na sua alocução, proximidade para com os doentes, os que sofrem e com os operários das empresas do Vale de Aosta, que atravessam uma grave crise. Posteriormente, de surpresa, visitou durante a tarde o pequeno museu de Les Combes, dedicado a João Paulo II, que foi inaugurado em 1996.

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