Cardeal Saraiva Martins apela ao reconhecimento das raízes cristãs do Continente e diz que há lugar para o Islão O Cardeal português D. José Saraiva Martins defendeu hoje que a Europa só subsistirá se “voltar às origens”, reconhecendo o papel fundamental do Cristianismo na construção da União Europeia. “As raízes da Europa são, sem dúvida, cristãs. O Cristianismo deu forma à Europa, imprimindo-lhe alguns valores fundamentais”, assegurou. Na “lectio academica” que proferiu em Lisboa, ao receber o d Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Lusíada, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos dissertou sobre o futuro do Velho Continente, após o “não” ao Tratado Constitucional da França e da Holanda, bem como do falhanço da cimeira dos chefes de Estado e de Governo dos “25”. “A Europa do futuro é a Europa do homem, isto é, que não se reduza a um grande espaço económico, mas que tenha uma alma, um sopro e uma espiritualidade. Penso numa Europa que não seja privada de referências morais. Esta era, de facto, a Europa sonhada e concebida pelos pais fundadores e pela qual se bateram até ao fim: é preciso ter a força e a coragem para dizer, hoje, que as coisas não estão exactamente assim”, salientou D. José Saraiva Martins. “Eu não excluiria que, em parte, o ‘não’ da França e da Holanda se tenha devido ao facto de não haver uma alusão às raízes cristãs, porque isso é escandaloso”, disse aos jornalistas. “Esta crise não é o funeral da Europa, é uma pausa que pode ser benéfica para repensar todo este processo”, declarou. Para o futuro, o Cardeal português espera que seja redigida uma nova Constituição, na qual “se reconheça a História”, assegurando que “a Igreja continuará a fazer o que tem feito até agora, procurando fazer ver que deveria ter sido feita referência no Preâmbulo do Tratado às raízes cristãs da Europa, porque é a História”. “A gente pode gostar ou não do facto, mas o Cristianismo não pode ser negado”, aponta. Na sua intervenção, o Cardeal Saraiva Martins fizera questão de sublinhar que “a afirmação das raízes cristãs da Europa não significa a exclusão de outras religiões e, portanto, do Islão”. Defesa da vida O Cardeal português foi confrontado com uma questão relativa à discussão sobre o aborto em Portugal, referindo que “a vida é sagrada, desde o início até ao fim, e o embrião é já uma vida”. Na sua intervenção após receber o Doutoramento, D. José Saraiva Martins afirmou que “a identidade europeia está também no matrimónio e na família”, defendendo “o matrimónio monogâmico entre homem e mulher”. Interrogado sobre se, nestas palavras, haveria uma crítica às recentes decisões do Governo espanhol, o Cardeal explicou que falou “em princípios” e não em casos concretos. A questão das adopções de crianças por casais homossexuais também preocupa o membro da Cúria Romana, que considerou “horrível que uma criança tenha dois pais ou duas mães”. Questionado se em Portugal poderia acontecer o mesmo que em Espanha, D. Saraiva Martins mostrou-se “optimista”, esperando que no nosso país sejam defendidos “os valores fundamentais”.
