Instituição católica é uma das parceiras do plano de contingência da Câmara Municipal de Lisboa
Lisboa, 09 jan 2018 (Ecclesia) – A Câmara Municipal de Lisboa ativa hoje um plano de contingência a favor das pessoas em situação de sem-abrigo na cidade, devido ao frio, que conta com a participação da Comunidade Vida e Paz (CVP), cujo presidente apela à divulgação das medidas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Henrique Joaquim realçou que a prioridade será “motivar as pessoas que infelizmente ainda estão na rua a acederem aos centros de alojamento abertos para o efeito, ou no mínimo a protegerem-se nalgumas das estações de metro que também vão estar disponíveis”.
O presidente da CVP, instituição particular de solidariedade social, tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, lançou também um apelo a todas as pessoas da cidade, para que “se souberem ou conheçam alguém que esteja numa situação destas, de grande exposição ao frio, para que deem conta disso”, contactando a Comunidade Vida e Paz ou transmitindo essas indicações “diretamente para a autarquia”.
As informações serão depois encaminhadas para a rede de instituições envolvidas neste plano de contingência “e alguma das equipas de rua irá reforçar esse apoio, ou contactar a pessoa sem-abrigo em causa, caso ela não esteja já sinalizada”.
O Plano de Contingência para as Pessoas Sem-Abrigo Perante o Frio, da CM de Lisboa, é ativado esta quarta-feira a partir das 17h00, com a autarquia a abrir o Pavilhão Municipal do Casal Vistoso para as pessoas em situação de sem-abrigo poderem passar a noite e acederem a refeições quentes e a roupa mais adequada às baixas temperaturas que se estão a fazer sentir.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, está previsto um agravamento das condições meteorológicas ao longo dos próximos dias, com as temperaturas a poderem descer até aos 5 graus negativos em várias regiões do país.
Até que seja desativada a fase amarela do plano de contingência municipal vão estar disponíveis também várias estações de metro, abertas 24 horas por dia, para que as pessoas em situação de sem-abrigo se possam abrigar de forma mais efetiva: as estações do Oriente, Saldanha, Intendente, Rossio e Santa Apolónia.
A Câmara Municipal de Lisboa tem ainda abertos vários centros de acolhimento temporário, geridos por instituições parcerias, como o Centro de Abrigo da Graça, da responsabilidade da Fundação AMI; o Centro de Alojamento do Beato, sob a responsabilidade da Associação Vitae; e o Centro de Alojamento de Xabregas, a cargo do Centro Social do Exército da Salvação.
Segundo Henrique Joaquim, a Comunidade Vida e Paz tem acompanhado atentamente, “ao longo das últimas semanas”, esta onda de frio e as suas consequências, sobretudo através do “reforço da distribuição de agasalhos e mantas, além das refeições, para as pessoas que acompanha todas as noites”.
Fundada em 1989, a CVP apoia diariamente cerca de 450 pessoas sem teto na cidade, sem esquecer também aquelas que têm habitação, mas que são afetadas por outras carências, económicas ou de saúde, por exemplo, mas fazendo dos sem-abrigo uma prioridade.
O ponto principal é sempre procurar dar a estas pessoas soluções que permitam que elas saiam da rua e possam voltar a ser inseridas na sociedade.
“O nosso papel é estar lá o mais possível, e o mais próximo possível em termos de relação, para que a pessoa de facto acredite que é viável reverter a sua situação, porque viver na rua é uma situação que não é digna para nenhum ser humano”, frisou Henrique Joaquim, que admitiu que “esta altura de tempo mais rigoroso é sempre um pretexto acrescido para tentar que as pessoas aceitem esta ajuda”.
Atualmente, o plano em rede da autarquia de Lisboa envolve 28 entidades parceiras e tem permitido promover vários projetos, em áreas com a saúde – com destaque para uma campanha de vacinação contra a gripe durante o mês de dezembro – e da habitação, com a criação de mais espaços e infraestruturas de apoio.
O primeiro programa terminou no final de 2018, mas o objetivo da autarquia lisboeta é investir nos próximos anos pelo menos mais 5 milhões de euros em várias respostas para os sem-abrigo.
“Este tem que ser o caminho, tem que ser um programa específico, com ações concretas e plurianual, tem que haver uma continuidade porque a pobreza por natureza é estrutural e não pode ser combatida conjunturalmente”, lembrou Henrique Joaquim, que considerou, no entanto, que é possível fazer mais.
Por exemplo ao nível do acompanhamento das pessoas sem-abrigo com doença mental associada, no plano dos alojamentos temporários e sobretudo no que toca ao acesso à habitação.
“A habitação é uma resposta crucial porque não ter uma morada é um constrangimento brutal no acesso a todos os outros serviços de proteção social. A Câmara de Lisboa quer diversificar no próximo ano este tipo de projetos e é nisso que vamos continuar ativamente a colaborar”, sustentou o presidente da Comunidade Vida e Paz.
JCP