José Luís Nunes Martins
A nossa vida melhoraria muito se em muitas horas da nossa existência de pressas fossemos capazes de ter alguns minutos de sossego. Um silêncio de tudo, por alguns segundos, é o suficiente para que uma quietude pura inunde todas as urgências aparentes e insufle em nós um sopro de vida.
Hoje debate-se muito a importância de um equilíbrio entre a vida profissional e a familiar, parecendo esquecer-se de que é essencial que cada um de nós tenha tempo para dedicar a si. Não para um qualquer egoísmo, mas para recuperar e para crescer, para se preparar e orientar. Para se deter e decidir por si. A fim de nunca ir para onde não se quer, só porque tudo nos parece fluir e empurrar para aí.
Hoje, os que demoram tempo parecem não ser adequados a este mundo de eficácias e eficiências, de premências, objetivos e lucros. Quem tem mais paz parece pouco comprometido com os resultados comuns. Como se fazer mais fosse fazer melhor. Como se trabalhar mais horas fosse ser mais produtivo.
Um dia, numa hora muito concreta, será tempo de nos despedirmos desta existência. O que teremos nós feito de bom com todas as horas que nos foram dadas? De quantos sonhos não concretizados teremos de nos separar, apenas porque gerimos mal os nossos dias e noites, indo atrás de rotinas e ideias sem grande sentido?
Há quanto tempo não tens uma conversa honesta contigo próprio?
Há quem seja forçado a ir abandonando as suas aspirações só porque nunca parou a sério para se encontrar e definir a sua vida de acordo com a sua vontade íntima, longe da pressão do que interessa aos outros, a que tantas vezes chamamos destino.
Quantos dos teus sonhos já deixaste morrer? Não eram importantes? Eram simples fantasias sem sentido nem impacto na tua felicidade?
Uma caminhada de uma hora faz muita diferença ao coração e às ideias, à vontade e aos apetites. É descanso. Repouso que devíamos ter por obrigatório. Não pelo bem que faz ao corpo, mas pela paz que dá ao espírito.
Quem não quer perder tempo pode, com facilidade, perder a vida nessa corrida incessante. De que nos importa fazer tudo o que é urgente se falhamos no cumprimento do essencial?
Estejas a fazer o que quer que seja, detém-te por um minuto, põe-te a caminho, separa-te de ti… Ao longe, vais ver-te muito melhor. Demora-te aí. Retorna depois à tua vida, que talvez não esteja onde estavas antes.