«É importante que seja claro para todos que os maus tratos não são tolerados», frisa o padre Filipe Martins
Lisboa, 24 out 2018 (Ecclesia) – A Província Portuguesa da Companhia de Jesus está a implementar nas suas obras e instituições sociais um sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis.
De acordo o padre Filipe Martins, responsável nacional por este projeto, o objetivo é “apostar na prevenção”, depois dos casos de abusos sexuais que abalaram a Igreja Católica, mas também na erradicação deste género de situações e na responsabilização das pessoas envolvidas.
É neste sentido que esta nova ferramenta, que começou a ser implementado em cerca de 30 instituições jesuítas, inclui “também um sistema de tratamento de denúncias e suspeitas que possam surgir”, acrescenta o sacerdotes em declarações ao portal “Ponto SJ”.
Para padre Filipe Martins, é fundamental passar a mensagem de que “os maus tratos não são tolerados, e que qualquer suspeita ou queixa será convenientemente tratada segundo procedimentos claros e conhecidos”.
Isto quer dizer também que todo e qualquer caso que encerre “possibilidade de crime” será tratado “com recurso às autoridades”.
Além de Portugal, o novo sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis (SPC) está a ser implementado nas várias Províncias jesuítas espalhadas pelo mundo, segundo a linha estabelecida pelo Padre Geral dos Jesuítas, e na esteira dos apelos feitos pelo Papa Francisco.
Para que “a questão dos abusos sexuais, que durante decénios aconteceram quase impunemente na Igreja de muitos países”, não volte a acontecer.
“É importante que colaboradores e voluntários sejam formados numa ‘cultura do bom trato’, que não só evita todo o tipo de maus tratos nas nossas instituições, como os capacita a sinalizar outros contextos em que eles acontecem”, frisa o padre Filipe Martins.
Aquele responsável acrescenta no entanto que se existem “um conjunto de comportamentos” que devem ser evitados, por potenciarem situações “inapropriadas”, a essência da missão da Igreja junto dos mais vulneráveis e carenciados não pode ser cerceada.
“O que se pretende é restringir o contacto afectivo inapropriado. Quanto ao contacto afectivo que é apropriado, que sem ambiguidades ajuda na relação, no cuidado e no desenvolvimento dos menores ou pessoas vulneráveis em causa, é claramente para manter e para potenciar, já que é uma das dimensões fundamentais das relações saudáveis e do cuidado”, apontou.
No âmbito do desenvolvimento deste novo sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis, foi dada formação a cerca de 900 colaboradores e voluntários ligados às várias obras e instituições sociais dos jesuítas.
O manual SPC, que estrutura e desenvolve este sistema, já está online e pode ser descarregado através da página www.jesuitas.pt/spc, da Província Portuguesa da Companhia de Jesus.
No total, este projeto envolveu cerca de seis meses de trabalho, com o envolvimento de uma equipa multidisciplinar de 10 pessoas.
Recorde-se que em 2012 a Conferência Episcopal Portuguesa publicou também várias diretrizes relativas aos casos de abusos sexuais de menores.
“Não é necessário tomar medidas excecionais, porque elas estão bem vincadas, numa linha de prevenção, de proteção, numa linha de atenção àqueles que foram prejudicados”, referiu recentemente o padre Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.
JCP