Paquistão: Ser Cristão, no olhar de um jovem de apenas 16 anos de idade
“Estou sempre com medo…”
Tem nome de herói mas é apenas um jovem assustado. Robin Mahanga tem 16 anos, vive em Karachi e sabe que a sua vida será, muito provavelmente, semelhante à dos seus pais, dos seus vizinhos, dos seus amigos. Não é fácil, para um jovem, imaginar-se como um cidadão quase sem direitos, numa condição de inferioridade, refém de ameaças, de violência. Não é fácil ser-se Cristão num país onde a vida vale pouco…
Não é o Robin dos Bosques mas Karachi parece uma floresta cheia de perigos onde sobreviver é um desafio quotidiano. Robin Mahanga tem 16 anos, estuda num colégio católico e sabe que por ser Cristão a sua vida está em risco. Tem apenas 16 anos mas já olha para o mundo, para o futuro como se fosse muito mais velho, como alguém resignado, sem esperança. Como alguém com medo. Uma das maiores ameaças que se fazem sentir sobre os Cristãos é a Lei da Blasfémia. Uma lei que permite acusar alguém, mesmo sem provas, de ter ofendido o Corão ou insultado o profeta Maomé, é uma ameaça permanente contra as minorias religiosas. E os Cristãos, que são apenas cerca de 2 por cento da população total do país, têm sido vítimas disso. Asia Bibi, condenada à morte por ter bebido apenas um copo de água de um poço é o símbolo maior dessa lei iníqua. Robin Mahanga sabe disso e tem medo. Robin tem medo porque dois amigos já experimentaram na pele o amargo sabor dos dedos da acusação e as consequências disso para as suas vidas. Raja e Noman eram apenas dois jovens, como ele, com sonhos, com projectos de vida que se desmoronaram por completo por causa de acusações sem sentido que lhes fizeram. “Raja já foi meu vizinho. Era já um estudante universitário e os seus colegas fizeram falsas alegações contra ele. Disseram que desonrou o livro sagrado do Islão e que teria dito disparates… Por causa disso, teve que abandonar a faculdade. Hoje, trabalha numa fábrica e deixou de ter um futuro brilhante.” Raja será operário, não irá destoar da maioria dos Cristãos do seu país. Pobres, tantas vezes analfabetos, resta-lhes varrer as ruas, limpar sarjetas, o trabalho nos campos. São duplamente perseguidos, por causa de serem cristãos e pela pobreza a que estão confinados.
Comentários ofensivos
O outro amigo de Robin é Noman. Andava no oitavo ano quando alguns colegas começaram a dizer que ele teria feito comentários ofensivos sobre o Islão. De nada lhe valeu desmentir essas acusações. Foi de imediato expulso da escola. Ficou com o oitavo ano. “Estou sempre com medo de me tornar uma vítima da lei da blasfêmia ou de a minha família sofrer por causa disso”, diz Robin Mahanga. “Não quero ficar no Paquistão. Como Cristãos, não somos respeitados pelos muçulmanos, que nos discriminam, falando de nós com termos como ‘bhangies’ ou ‘choarhy’, que significa que os Cristãos são pessoas cujo único trabalho é o de limpar sarjetas. Somos considerados os membros mais baixos da sociedade, pessoas com as quais os muçulmanos não podem sequer comer ou beber.” Para além da ameaça que se faz sentir sobre a comunidade cristã, o Paquistão vive dias agitados com constantes atentados terroristas e uma presença cada vez mais evidente de grupos radicais que se têm vindo a expandir desde o vizinho Afeganistão. Robin vive em Karachi com os pais e os irmãos. Pertencer a uma minoria religiosa no Paquistão pode ser perigoso mas Robin encara o dia-a-dia, apesar disso, com confiança. Com uma confiança que só a fé consegue explicar. “Apesar de tudo, sempre tenho esperança e fé em Deus. Ando sempre com um Terço comigo. Quando estou com medo rezo sempre.” Não é fácil, para um jovem, imaginar a sua vida inteira como um cidadão quase sem direitos, reduzido a uma condição de inferioridade, refém de ameaças. Não é fácil ser Cristão num país onde a vida vale pouco… A não ser que se ande com um Terço no bolso…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt