Padre José Rodrigo Mendes, vice-reitor
O Seminário de São Paulo em Almada está em festa e assinala na próxima Terça-feira os 75 anos da sua fundação com uma sessão solene presidida por um antigo aluno, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.
O Seminário de Almada, actualmente Seminário Maior da Diocese de Setúbal, procura, como todos os Seminários, desempenhar o melhor possível o seu fundamental papel na formação de futuros padres.
O tamanho e a qualidade das suas instalações, permitem-lhe estar também ao serviço da formação de padres e leigos que o desejem. Mas o quadro geográfico em que se insere e a história de quase 450 anos das suas instalações, dão-lhe uma especificidade que marca profundamente aqueles que por aqui passam.
D. José Policarpo, que aqui foi seminarista, intitula assim o texto que enviou para o livro comemorativo: “um seminário que nos tocava o coração”, e confessa que foi com alguma emoção que aceitou escrever esse texto. Manuel de Sousa Coutinho que, há cerca de 400 anos, também por aqui amadureceu a vocação que o levaria a tornar-se Frei Luís de Sousa, deve ter sentido uma emoção parecida. Escreve assim na “História de S. Domingos”: O sítio “he no mais alto do monte e pendurado sobre o mar (…) senhor de hum tão fermoso, e tão bem assombrado horizonte, que confiadamente, e sem parecer encarecimento, podemos afirmar que não há outro tal em toda a redondeza da terra”…
Deixando de parte a história do convento, eis, resumidamente, as balizas da história deste Seminário que agora celebra os seus 75 anos. Em Provisão de 18 de Outubro de 1935, o Senhor Cardeal Cerejeira comunicava aos seus diocesanos: «É com a mais viva alegria que vimos dar-vos oficialmente uma grande notícia, a qual será escrita com letras de oiro na história do Patriarcado – a da solene abertura, no próximo domingo, 20 de Outubro, do novo Seminário de S. Paulo de Almada (…) que confiamos à especial guarda do Apóstolo das gentes, com os olhos postos em Deus. É acontecimento que reputamos dos mais importantes do nosso Pontificado por mais longo que seja».
Foi assim que a, 20 de Outubro de 1935, abriu o Seminário de Almada com grande solenidade litúrgica e forte cobertura da imprensa. Neste primeiro ano lectivo (1935/1936), frequentaram o Seminário 41 seminaristas dos 4º e 5º anos (actualmente 8º e 9º). A Equipa Formadora era constituída por Mons. Cónego Francisco Maria Félix – reitor, Padre António de Campos – vice-reitor e, ainda como formadores, os Padres José da Costa de Oliveira Falcão, António Mendes Serrano, Tomás de Aquino Miranda e António Augusto de Azevedo Pires. Foi seu primeiro director espiritual o Padre José Amaro que, quase centenário, me dizia há momentos ao telefone: “vivi aí os melhores dez anos da minha vida!”
O antigo convento dominicano de S. Paulo de Almada, fundado por Frei Francisco Foreiro em 1569, e a respectiva quinta de cerca de 10 hectares, tinham sido arrematados em praça pública três anos antes pelo Padre José da Costa Oliveira Falcão e doados ao Patriarcado para instalação de um Seminário. As obras de restauro e adaptação só terminariam a 6 de Janeiro de 1938, altura em que o edifício atingiu as suas dimensões actuais. Foram dirigidas pelo conhecido arquitecto Pardal Monteiro e, para as pagar, muito ajudou o contributo da grande comunidade portuguesa no Brasil, bem como de muitos outros fiéis.
Quando, a 25 de Janeiro de 1986, se celebraram as bodas de ouro da fundação do Seminário sob a Presidência de Sua Eminência D. António Ribeiro, tinham frequentado o Seminário de Almada 1944 alunos, dos quais 338 foram ordenados sacerdotes. Desses, quatro foram ordenados bispos: D. Francisco Antunes Santana (1974), D. João Alves (1975), D. José da Cruz Policarpo (1978) e D. Albino Mamede Cleto (1983). Antes tinha já sido ordenado bispo o primeiro vice-reitor do Seminário.
A 16 de Julho de1999, o Patriarcado de Lisboa entregou à Diocese de Setúbal o edifício do Seminário e respectiva quinta, conforme estava previsto na Bula “Studentes Nos”, de 16 de Outubro de 1975, pela qual o Papa Paulo VI criou a nova diocese. O assunto foi tratado entre D. José da Cruz Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa e o primeiro Bispo de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, mas o Seminário foi já recebido por D. Gilberto C. dos Reis, segundo Bispo de Setúbal. Os seminaristas do já criado Seminário Diocesano de Setúbal vieram então viver para o Seminário de Almada. E assim, aquele que até aí tinha sido Seminário Menor e, a partir de 1970, Seminário Vocacional, tornou-se Seminário Maior. Quando, em 2009, celebrou os seus dez anos de Seminário Maior, tinham-no frequentado, nesse lapso de tempo, 23 seminaristas, dos quais 17 tinham sido ordenados presbíteros.
Herdeira de tão preciosa herança, a Diocese de Setúbal e a actual equipa formadora do Seminário de Almada, não podiam deixar de tudo fazer para assinalar devidamente esta data. Por isso, desde 20 de Outubro, está patente uma Exposição nos claustros seiscentistas do Seminário, evocando a sua abertura. Mas o dia grande da comemoração será a 25 de Janeiro próximo, festa da Conversão do Apóstolo de S. Paulo, dia da tradicional Festa do Seminário. Nesse dia o Seminário de Almada reúne em convívio e acção de graças, os antigos professores e alunos que quiserem comparecer. Pontos fortes do Programa: lançamento do livro: “Nos setenta e cinco anos do Seminário de Almada – um roteiro histórico-artístico”; conferência do Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa; Eucaristia; jantar-convívio; recital de música litúrgica por Rão Kyao, que servirá para lançamento nacional do CD “Sopro de Vida”.
Padre J. Rodrigo Mendes, vice-reitor