35 anos de missão em Madagáscar

Pe. Luís Alberto Dinis, Dehoniano

Perante a realidade de tantos portugueses que deixavam a sua terra e a sua família e partiam para outros países para trabalhar, à procura duma vida melhor, eu colocava-me esta questão: “E eu que digo que Cristo é o meu Salvador, não terei a coragem de me pôr ao Seu serviço, numa terra onde a Igreja não tem sacerdotes suficientes para celebrar a fé e para evangelizar?”  Foi por isso que, em 1984, fiz o pedido para ir para a missão dehoniana em Madagáscar.

Cheguei a Madagáscar a 6 de outubro de 1988, dois anos após a minha ordenação sacerdotal. Os confrades, que já lá estavam há alguns anos, acolheram-me com alegria e facilitaram a minha integração na nova cultura. Fiz o curso de língua e cultura malgaxe. Depois, inseri-me na realidade da missão de Ambohimanga, diocese de Mananjary, da qual D. Alfredo Caires, um dos três primeiros dehonianos portugueses que, em 1982, chegaram a Madagáscar, é bispo desde março de 2001. Nesta diocese dediquei-me ao contacto com as pessoas, visitando a pé os cristãos nas aldeias dispersas pela floresta, sendo normalmente acompanhado pelos catequistas responsáveis pela zona pastoral. Eram os cristãos dessas aldeias que me acolhiam nas suas casas. Por vezes chegava a aldeias onde não havia cristãos, mas pouco a pouco, as pessoas despertavam para a fé e assim se estruturava uma nova comunidade cristã.

Em 2000 fui trabalhar para a parte central de Madagáscar, no planalto, onde os dehonianos possuem três seminários e duas grandes paróquias. Esta zona é a mais populosa e a mais desenvolvida no aspeto social, económico e religioso, tendo à volta de 35% de católicos e 30% de protestantes. Na parte costeira da ilha, a percentagem de cristãos é muito mais baixa.

Em 2013 voltei novamente para a floresta, na grande missão de Ifanadiana, a primeira missão dehoniana em Madagáscar. Visitava as comunidades cristãs uma ou duas vezes por ano, durante a semana. Quatro vezes ao ano, aos sábados e domingos, os cristãos dessas comunidades juntavam-se nos 10 grandes centros pastorais e aí havia catequese, preparação e celebração do batismo de crianças, de jovens e de adultos, primeira comunhão, casamentos, encontros de movimentos laicais…. Estive nesta missão até dezembro de 2023, altura em que regressei a Portugal.

Nestes 35 anos de missão em Madagáscar pude constatar a grande diferença de mentalidade entre as pessoas que seguem as crenças tradicionais e os cristãos que vivem a dinâmica da fé. Os não-cristãos vivem com medo de tudo: dos castigos dos antepassados, da natureza, da doença, dos fantasmas, da morte… Os cristãos, ao invés, acreditando em Deus-Amor, têm uma visão da vida que os pacifica e os faz viver felizes e serenos. Além disso, são pessoas abertas ao progresso social e ao desenvolvimento e comprometidas na construção de uma sociedade melhor. O ensino nas escolas do governo e da Igreja ajuda a libertar as pessoas da ignorância e dos medos. A fé cristã em Madagáscar, em apenas 150 anos de evangelização, contribuiu muito para o desenvolvimento integral das pessoas e para um modo sadio de ver Deus, os antepassados, as relações sociais, o domínio da natureza, a saúde e a vida após a morte.

Tenho confiança que os 31 confrades sacerdotes e 35 jovens religiosos dehonianos malgaxes estão capacitados para levar por diante as responsabilidades da Congregação nos domínios da evangelização direta, do acompanhamento dos cristãos, da formação dos candidatos dehonianos e no serviço social à sociedade, sobretudo nas escolas e na universidade fundadas pela Congregação.

Pe. Luís Alberto Dinis, Dehoniano

Em Parceria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24) 

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