30 anos de reflexões cristãs

CRC celebrou três décadas de vida Criado em 1975, por um grupo de leigos cristãos para analisar a realidade do país nos seus diversos sectores, o Centro de Reflexão Cristã (CRC) celebrou trinta anos de vida no passado dia 3 de Dezembro. Apesar das circunstância serem diferentes do tempo da fundação este organismo quer continuar a fazer este tipo de intervenção. “Isto apesar das mudanças verificadas nas últimas três décadas” – garantiu o presidente do CRC, Guilherme de Oliveira Martins. Ao fazer referência às mudanças operadas, Guilherme de Oliveira Martins cita a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. Ao longo destes trinta anos, o CRC tem reflectido sobre variados assuntos. As célebres «conferências de Maio» são um exemplo da actividade deste organismo. Num painel reflexivo, realizado em 2003, sobre “A Cultura da Responsabilidade”, o arquitecto António Freitas Leal, na altura presidente do CRC, disse à Agência ECCLESIA que “o sentido da responsabilidade foi-se diluindo com as várias instituições e com o aparecimento do Estado Providência” Nesta iniciativa salientou-se também “os aspectos chocantes da globalização que irá, a prazo, mudar o esquema de relação entre os povos”. Com a redução dos recursos energéticos, os povos pobres “ou menos evoluídos ficarão cada vez mais atrasados”- referiu António Freitas Leal. Um ano depois, a economista Manuela Silva e a escritora Lídia Jorge foram as convidadas do Centro de Reflexão Cristã para o segundo colóquio do ciclo que se intitula: “Sete Pecados Sociais – Sete Sinais de Esperança”. A dicotomia “consumismo/participação solidária” foi o ponto de partida para um encontro que pretendia, de acordo com Guilherme Oliveira Martins, presidente do CRC, “a perspectiva que esquece a dimensão humana e que põe em primeiro lugar os bens materiais e contrapor a capacidade das pessoas terem uma perspectiva solidária do outro”. As intervenções sublinharam também a necessidade de a sociedade “intervir activamente” no sentido de alterar as situações de desigualdade que se detectam no nosso meio e a apetência do consumo pelo consumo. Manuela Silva falou do consumismo não apenas como “um pecado”, na interpretação tradicional da Doutrina Social da Igreja, mas como “uma doença da sociedade e do funcionamento da economia”, enquanto que a escritora Lídia Jorge falou em “disfunção social”. A acção solidária de “todas as pessoas de boa vontade” foi a receita para construir uma sociedade regida por novos valores. Com realização do Euro 2004 em Portugal, O CRC também abordou a questão futebolística e alertou para os perigos da mercantilização do desporto. Cada vez mais o desporto “é um negócio” que necessita de ter protagonistas e “leve gente aos estádios” – disse à Agência ECCLESIA António Paulino, vice-presidente do CRC. José Couceiro, um dos conferencistas, abordou a questão do doping no desporto e o investimento feito nestas substâncias na Europa de Leste antes da queda do Muro de Berlim. “Um mascaramento e uma questão política para ganharem aos ocidentais” – disse aos presentes. O verdadeiro sentido de Desporto desapareceu porque “nós não gostamos de desporto mas sim que a nossa equipa ganhe”. No sentido de alterar estas situações, os oradores foram unânimes: “promoção da prática desportiva e não dar tanto valor mediático” aos resultados. Quando nos aproximávamos a passos largos do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, realizado em Lisboa, no passado mês de Novembro, o CRC dedicou umas «Conferências Maio» ao encontro de Deus na cidade. A participação “excedeu as expectativas” o que demonstra que o CRC está a voltar à “vitalidade” de outrora – acentuou Guilherme de Oliveira Martins. “A cidade como espaço de solidariedade” foi o tema de uma das conferências. A falta de solidariedade “é uma realidade”, o que levou Nuno Teotónio Pereira, o orador de uma conferência, a referir que “existem guetos na própria cidade: os guetos dos ricos e dos pobres”. Sinais que demonstram a falta de solidariedade entre as pessoas. Este panorama tem de ser alterado – referiu Guilherme de Oliveira Martins – “para uma cidade mais hospitaleira” onde os “gestos de aproximação” sejam superiores aos “gestos de egoísmo”. Depois da morte de Deus, proclamada por Nitzsche, “é preciso compreendermos qual o sentido e o alcance dessa proclamação. Não se trata da morte do fenómeno religioso trata-se sim da necessidade de distinguir a esfera religiosa e a esfera filosófica e compreender que o mundo contemporâneo responde por caminhos diferentes e de formas diversas à interpelação da fé e à interpelação religiosa” – disse. Como o mundo actual vagueia por novas águas, Guilherme de Oliveira Martins salienta que um dos projectos do CRC “é o diálogo entre pessoas de fé e pessoas que não têm fé entre os que têm religião e os que não têm religião”. O Centro de Reflexão Cristã (CRC) dedicou o seu ciclo de colóquios de 2005 sobre o tema “Gaudium et Spes. Revisitação 40 anos depois”. Um debate em torno da Constituição Pastoral do Vaticano II sobre a Igreja no mundo actual que foi estruturado em três momentos: “Esperanças e Angústias do Homem no Mundo”; “A Igreja e a Vocação da Pessoa Humana” e “Papel da Igreja no Mundo Contemporâneo”. Reflexões no ano em que o II Concílio do Vaticano celebra duas décadas. Ainda no ano 2005, as «conferências de Maio» abordaram a temática da “Boa Nova na Cidade Moderna”. Quando tomou posse como presidente do CRC, Guilherme de Oliveira Martins, em entrevista à Agência ECCLESIA referiu que ao aceitar a presidência do CRC “fi-lo a partir de um projecto que é a presença dos cristãos na sociedade e essa presença dos cristãos na sociedade obriga-nos a empenharmo-nos em gestos e em iniciativas que suscitem a tomada de consciência de que uns dependemos dos outros”. Ao longo destes trinta anos o CRC tem ajudado os cristãos a empenharem-se na sociedade.

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Agência ECCLESIA

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