25 de Abril: «Precisamos de rever de novo a nossa democracia e os perigos estão aí à vista» – D. José Ornelas

Presidente da CEP alerta para a crise social crescente e para a dificuldade em «gerir o país»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 30 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que é necessário “rever” a democracia, disse que há perigos que “estão á vista” e fala em “dificuldade” em gerir o país

“Não tenho dúvida nenhuma da dificuldade que é gerir um país neste momento”, afirmou D. José Ornelas em entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, estendendo as dificuldades também a quem tem de “gerir a Igreja”.

Referindo-se ao 25 de abril de 1974, o bispo de Leiria-Fátima disse que “é sempre uma data muito importante”, acrescentando que a construção da democracia não se fez só nesse dia.

“Um padre italiano que tinha vivido o tempo do fascismo dizia-me: Ornelas, uma revolução é um dia muito bonito, vocês vão recordar sempre, mas agora é que começa a questão de construir a democracia”, afirmou.

“A revolução fez-se, com pouco custo de sangue, mas depois é preciso construir a democracia e isso não está feito de um dia para o outro, levou tempo”.

Para o presidente da CEP, os primeiros anos “foram cruciais” para a construção democrática e Portugal teve “gente à altura”.

“Hoje, com a mudança radical deste mundo, com as dificuldades que nós temos e com a evolução também geoestratégica que está em curso, nós precisamos de rever de novo a nossa democracia e os perigos estão aí à vista”, alertou.

D. José Ornelas sustentou que a “democracia está formalmente consolidada, ninguém pensa voltar para o fascismo”, mas há movimentos na sociedade que não deixam de preocupar.

O presidente da CEP advertiu que “a corrupção, a situação de desencanto da população, isto pode ser muito grave para a democracia” e mostra-se preocupado com o facto dos jovens não terem “apetência para se comprometer na política”.

Questionado sobre a utilização de citações bíblicas para defender ideias políticas, por líderes políticos portugueses, D. José Ornelas afirmou que “toda a gente tem o direito de fazer a sua leitura segundo a ideia que tem até da sua própria fé”, lembrando que era dito erradamente que a guerra em África tinha o objetivo de “defender a fé e o império”, assim como que “Nossa Senhora abençoa aqueles que vão para a guerra e para aquela guerra.

“É muito fácil as pessoas deixarem-se ajustar por critérios que são de regresso ao passado e dizer ‘estávamos muito melhor antes’. A manipulação da fé é trágica”, advertiu.

O presidente da CEP alertou para as dificuldades sociais no país e disse que é necessário “encontrar boas soluções” para ir ao encontro de “injustiças” que motivam manifestações de diferentes setores profissionais.

“A minha questão é saber o que é que se põe na ordem das prioridades: resolver os problemas do país e ceder aqui e ali porque é o país que está em causa ou encontrar simplesmente a lógica do meu partido, a lógica da minha corporação, a lógica do meu sindicato, a lógica do meu patrão ou o que for?”, questionou.

D. José Ornelas sublinhou que “o objetivo da política” é “encontrar caminhos de convergências para que os problemas sejam resolvidos e que não fiquem franjas da população sempre deixadas para trás”.

Na entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, após ter sido reeleito como presidente da CEP, D. José Ornelas alertou também para as dificuldades das Instituições Particulares de Solidariedade Social, “particularmente aquelas que estão ao serviço de pessoas com dificuldades económicas”.

PR

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Agência ECCLESIA

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