25 de Abril: O anúncio aos bispos

Mons. Feytor Pinto diz que Igreja Católica queria solução para «país que estava em rutura profunda»

Lisboa, 25 abr 2014 (Ecclesia) – O monsenhor Vitor Feytor Pinto foi porta-voz, junto dos bispos portugueses, da revolução de 25 de abril de 1974, e recorda a forma “serena” mas “interventiva” como a Igreja Católica viveu a queda do regime.

“A Igreja em Portugal nesse momento ficou com uma grande paz porque o que aspirava era que se encontrasse uma solução para um país que estava em rutura profunda”, sublinha o sacerdote, em declarações à Agência ECCLESIA.

Eram cerca de sete horas da manhã quando o monsenhor Feytor Pinto, na altura a realizar trabalho pastoral em Lisboa, telefonou para Fátima onde os bispos portugueses estavam reunidos em plenário.

Em conversa com D. Júlio Tavares Rebimbas, então bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa, o sacerdote explicou o que estava a acontecer na cidade, onde as tropas estavam a prepara-se para depor o presidente Américo Tomás e colocar no poder o general Francisco da Costa Gomes.

Convocado para ir sem demora para Fátima, o monsenhor Vitor Feytor Pinto recorda que, no caminho, teve de passar “um ninho de metralhadoras” onde a sua sorte foi o responsável pela unidade ser um “antigo aluno” dos tempos de professor na Diocese da Guarda.

A reunião da Conferência Episcopal, presidida por D. Manuel de Almeida Trindade, bispo de Aveiro, começava às 10h00 e ficou marcada por uma análise aos novos desenvolvimentos que chegavam da capital.

“Foi interessante que o bispo das Forças Armadas, D. António dos Reis Rodrigues, disse logo que podíamos aguardar com serenidade porque o general Costa Gomes era católico, um homem de confiança e que poderia fazer bem a ponte para um novo Governo”, recorda.

A Conferência Episcopal tinha resolvido, no dia anterior, que dois membros do organismo iriam até ao Cartaxo, ao encontro de D. Manuel Vieira Pinto, bispo que “tinha sido expulso de Moçambique por causa suas posições muito claras em defesa da liberdade”.

Apesar do clima de turbulência, a viagem foi levada em diante, com o monsenhor Feytor Pinto a acompanhar D. Maurílio Gouveia, na altura auxiliar de Lisboa, e D. João Saraiva, bispo de Coimbra.

Padre há 50 anos e com quase três décadas de entrega à coordenação da Pastoral da Saúde em Portugal, o monsenhor recorda a forma como a Igreja interveio no processo de transição entre o regime ditatorial do Estado Novo e a implantação da democracia, sobretudo “através dos leigos”.

Como assistente nacional da Junta Central de Ação Católica, o sacerdote de 82 anos testemunhou a forma positiva como os membros daquele órgão encararam a mudança, com “a esperança de que o desmoronar do regime permitisse reequilibrar as relações entre as pessoas e que elas pudessem sentir a liberdade a que tinham direito”.

O professor Jorge Miranda, que teve um papel decisivo na elaboração da Constituição Portuguesa de 1976, e o político António Sousa Franco, que nesse mesmo ano assumiu o cargo de secretário de Estado das Finanças, eram dois dos elementos que constituíam a direção da Junta Central.

“Era um grupo interessantíssimo que entrou na vida ativa política e que ajudou a equilibrar muita coisa que sem os valores cristãos talvez não se tivesse equilibrado”, conclui o padre Vitor Feytor Pinto.

JCP

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Agência ECCLESIA

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