25 de abril: Historiadores comentam impacto da revolução na Igreja Católica em Portugal

Jorge Revez destaca «reconfiguração da identidade católica»

Lisboa, 25 abr 2014 (Ecclesia) – Os historiadores Luís Salgado Matos, João Miguel Almeida e Jorge Revez, comentaram para a Agência ECCLESIA o impacto que a revolução de 25 de abril de 1974 teve na estrutura da Igreja Católica em Portugal.

Luís Salgado Matos recorda “as tensões” que se multiplicaram entre o poder político e a Igreja “durante o período de transição” para a democracia, e que continuaram acesas nos anos seguintes, à volta de matérias “fraturantes” como “a legalização do aborto”.

40 anos depois, o equilíbrio entre as duas partes continua “todos os dias” a ter de ser reforçado, como uma rede que é “recosida”, para que “o conflito entre ambos” não se sobreponha à “colaboração”, salienta.

Segundo João Miguel Almeida, a “revolução dos cravos” veio dar corpo a “uma aspiração” de “liberdade” e a uma “esperança” de mudança que era partilhada por muitos católicos, que ao longo dos anos haviam “afrontado e resistido ao Estado Novo”.

Aquele investigador lembra a participação dos católicos nas várias “tentativas” que foram sendo feitas para “derrubar o regime”, como por exemplo “na revolta da Sé (1959) e no golpe de Beja (1962)”.

“O Concílio do Vaticano II (1962-1965) fortaleceu as razões da Igreja dos católicos que valorizavam o mundo e a quem a fé animava a um compromisso político”, destaca.

Já Jorge Revez dedica a sua reflexão aos chamados “vencidos do catolicismo”, crentes que, a seguir ao Concílio, colocaram grandes esperanças na reforma da Igreja, e inclusivamente na mudança de atitude da hierarquia católica face ao Estado Novo.

Ao não verem os seus anseios concretizados, muitos afastaram-se ou inspiraram outros a romperem os laços com a Igreja, como foi o caso do padre Felicidade Alves (1925-1998).

Na opinião do historiador, “esta temática não é apenas relevante para a compreensão da história do catolicismo português mas também para a forma como a sociedade portuguesa, através de inúmeros filões de renovação, reuniu condições para o lento processo de democratização que antecedeu e sucedeu o golpe militar de 1974”.

“A efervescência daquele período revela-nos uma reconfiguração da identidade católica, em especial o relevo que as questões da liberdade e da cidadania assumem para alguns destes homens e mulheres”, conclui.

JCP

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