Jornadas de Estudo do Centro de Estudos de História Religiosa, da UCP, olha para complexidade das correntes religiosas perante o regime salazarista com expetativa de «envolver» públicos mais jovens
Lisboa, 23 fev 2023 (Ecclesia) – A comissária da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril destacou hoje a importância de novos estudos sobre a “mobilização católica” no “derrube da ditadura”, avançando para lá da reflexão já publicada.
“Este aspeto não é demasiado conhecido, sobretudo do grande público. Temos um conjunto de estudos muito interessantes sobre algumas figuras da Igreja, quer da hierarquia, quer do laicado, que se envolveram em contestação contra o regime, em períodos anteriores – encontramos referências ao bispo do Porto, mas a partir dos anos 60, a contestação da Igreja mudou por motivos vários e características novas. Esta iniciativa permite recentrar e chamar a atenção para a necessidade de desenvolver estudos que nos permitam percecionar qual o lugar, o papel e a importância dessa mobilização católica na preparação para o derrube da ditadura”, disse Maria Inácia Rezola à Agência ECCLESIA.
A ressponsável explicou a necessidade de se perceber que o derrube da ditadura começou antes de 1974, sendo essencial conhecer os seus atores e protagonistas.
“Uma das preocupações das comemorações é recordar que a preparação do que vai ser o 25 de abril, o derrube da ditadura, começou muito antes. Se nesse processo destacamos o papel do movimento estudantil é fundamental conhecer também, quer no âmbito desse movimento como em outros, o papel que os católicos tiveram”, sugere.
O Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) iniciou hoje as jornadas de Estudo centradas nas «Correntes Religiosas diante da descolonização», procurando a análise sobre a “complexidade” do processo que mostrou “participantes da religião quer na oposição como no combate pelo regime”, indicou a historiadora Rita Mendonça Leite.
“Sabemos que diante desses processos que normalmente são tomados mais na natureza politica, vamos avaliar e analisar, sobretudo, os participantes na área da religião, que participaram ativamente na dinamização desses processos, quer a favor de alguns deles quer contra outros. De um lado e de outro estiveram presentes. Isso acontece no campo do catolicismo, a religião mais influente nesse período, mas também com outras correntes cristãs, no campo do protestantismo e noutras confissões religiosas, como a comunidade islâmica, vão estar em análise”, concretizou a diretora-adjunta do CEHR.
A historiadora explica que as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril são uma “oportunidade para se olhar para o valor da história, o exercício de rigor” que “não está restrito a um passado longínquo” e deve ser entregue as gerações mais novas, nascidas em democracia.
“O centro é de investigação é de âmbito académico mas é nosso objetivo operar a transferência de conhecimento, ou seja, fazer chegar o nosso trabalho junto da opinião pública, dos jovens que não viveram o 25 de Abril e que vão compondo o seu conhecimento com diversos patamares”, refere.
As Jornadas de Estudo acontecem em parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, que tem a preocupação de envolver as novas gerações, não apenas no exercício da história no reconhecimento que o país se constrói continuamente, sendo necessário “redescobri-lo e perspetivá-lo”.
As comemorações tiveram início em 2022 e vão estender-se até 2026, ano em que se irá assinalar os 50 anos das primeiras eleições autarquias, “essenciais para o processo democrático”, centrou a comissária.
Nesse “arco temporal”, caberá ainda a celebração dos 40 anos da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia, datas que convidam a pensar no futuro do país.
“O envolvimento dos mais jovens é um elemento central que se pretende com as comemorações. Elas têm de ter um âmbito nacional, têm de dar voz e espaço a diferentes correntes para que se consiga construir um diálogo construtivo. E em todos este processo os jovens podem e devem ser a peça central”, sublinha Maria Inácia Rezola.
LS