Lisboa, 11 abr 2014 (Ecclesia) – Maria Conceição Moita foi libertada a 26 de abril de 1974, após seis meses de prisão em Caxias, por participar em ações contra o regime, e partilhou com a Agência ECCLESIA as memórias da revolução.
Desde a manhã daquele dia, as palavras “derrubado” e “coragem” continuam a ecoar na cabeça da professora, que juntamente com o seu irmão Luís Moita integrava um grupo de ativistas cristãos e que viu finalmente o fim do seu cativeiro e o nascimento de uma nova era para o país.
“Foi uma libertação única. Era a minha libertação pessoal depois de uma situação de cativeiro; a libertação do meu país, que tanto desejava; o fim da ditadura e a conquista da palavra “liberdade” que faltava; e depois a libertação dos povos das colónias, uma luta onde estava particularmente implicada”, conta.
Muitos cristãos não compreendiam como é que os “frutos maravilhosos” que tinham surgido “do Concílio Vaticano II” (1962-1965) não tinham ainda chegado a Portugal “de uma maneira manifesta”.
Enquanto as encíclicas do Papa João XXIII e do seu sucessor Paulo VI “apontavam para a grande importância do desenvolvimento humano, da democracia e da vivência em liberdade”, em Portugal os cidadãos viam as suas liberdades “coartadas”.
Um grupo cada vez maior de cristãos” foi “tomando consciência destas realidades e ligando-se entre si”, num movimento que foi ganhando cada vez mais participantes, “de vários quadrantes e com várias sensibilidades políticas”.
“Houve pessoas e marcos de referência. Mas a tomada de consciência da situação em que se vivia aconteceu em grupo. Aí debatíamos e combinávamos como ajudar outros cristãos a tomar consciência destas realidades, concertávamos estratégias para ações concretas”, salienta Maria Conceição Moita.
Um dos acontecimentos mais marcantes na participação da docente no processo de luta pela liberdade foi a vigília na Capela do Rato, em Lisboa, entre 30 de dezembro de 1972 e 01 de janeiro de 1973.
Na missa vespertina do primeiro dia, que estava a ser celebrada pelo padre João Seabra Dinis, ela dirigiu-se aos microfones para desafiar os presentes a “dois dias de jejum completo, em solidariedade com as vítimas da guerra, como protesto contra a situação de guerra que se vivia em Portugal e contra a ausência de tomadas de posição da hierarquia católica condenando a situação da guerra”.
“Os acontecimentos da Capela do Rato tiveram muito impacto. Foram uma pedrada no charco muito grande, sobretudo pela possibilidade de discussão e debate que aconteceram durante todo o tempo, pela oração e pela enorme participação que teve”, salienta a professora, destacando uma mobilização que “não acabou no 25 de abril”.
Os 40 anos do 25 de Abril e relação dos católicos com a revolução de 1974 estão em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.
PR/JCP/OC