«As gerações mais novas já não conheceram, felizmente, realidades que eram de um atraso económico gritante» – Paulo Fontes
Lisboa, 24 abr 2024 (Ecclesia) – O diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da UCP afirmou que, antes do 25 de Abril de 1974, setores católicos participaram “na tentativa de modernizar” a sociedade portuguesa, ainda nas “estruturas do Estado Novo”.
“Os católicos, nomeadamente certos setores católicos militantes, estão aí, já de antes, estavam no Marcelismo, certos setores, hoje, muitas vezes, até apelidados tecnocráticos. Setores católicos que participaram na estrutura de Estado na tentativa de modernizar e fazer uma aproximação a um modelo económico diferente, a partir, ainda, das estruturas do Estado Novo”, assinalou Paulo Fontes, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O investigador acrescenta que estes responsáveis “se empenham, claramente, na mudança política”, recordadando os que estão na chamada ala liberal, como “Sá Carneiro, Miller Guerra, Magalhães Motta”.
Para o especialista, “seria muito interessante” perceber que, nessa movimentação, também há mulheres que afirmam “a sua liderança e participam nessas dinâmicas”.
Paulo Fontes observa que este tempo “é particularmente interessante, mas desafiante”, para aqueles que, “em nome do Cristianismo e em nome dos valores cristãos”, se procuram posicionar na sociedade dos nossos dias.
O historiador refere que, hoje, a democracia tem “imensos desafios”, e uma instituição como a Igreja “pode contribuir imenso para uma renovação do próprio chão democrático”.
A democracia constrói-se todos os dias e, para as Igrejas, que têm uma proposta específica e uma orientação ética também, isso obriga a colocar-se com humildade, no sentido de fazer propostas, mas de acolher a realidade e, a partir dela, procurar participar nas dinâmicas de mudança com os próprios protagonistas”.
O entrevistado assinala que o 25 de Abril de 1974 foi “de facto uma rutura na estrutura política do país”, na medida em que permitiu a transição de um regime político autoritário, ditatorial, “para um novo regime político que veio a ser o da democracia liberal, da democracia de tipo parlamentar”.
“Eu creio, que 50 anos, depois temos de reconhecer que houve um salto qualitativo muito forte em vários campos da vida social. Talvez as gerações mais novas já não conheceram felizmente realidades que eu diria que eram de um atraso económico gritante”, refere o historiador.
Paulo Fontes admite que pode “curar a compreender” como é que em 1974 ainda havia “meninos de pé descalço nas aldeias, a falta de habitação, um analfabetismo ainda persistente, a situação da mulher na sociedade completamente secundarizada”.
‘25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições’, é o título do livro lançado este mês, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974, com coordenação científica do Centro de Estudos de História Religiosa e edição da Agência ECCLESIA.
Para o diretor do CEHR, o 25 de Abril de 1974 pode ser situado “relativamente a um tema central da modernidade, que é o tema da liberdade”, com o qual a “Igreja Católica foi tendo movimentos de avanços e recursos”, mas a adesão plena ao sentido da liberdade e das liberdades modernas “fica positivamente estatuído com o II Concílio do Vaticano, com a Declaração Conciliar ‘Dignitatis Humanae’ (Dignidade Humana), de 1965”.
“No caso português, a mudança política foi também o reconhecimento e a possibilidade de se pôr em prática, esta visão mais aberta, digamos assim, de uma sociedade aberta, que o próprio II Concílio do Vaticano tinha aderido e que tinha proposto aos cristãos”, desenvolveu Paulo Fontes, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.
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