A celebração da Ceia do Senhor, marca o início festivo do Tríduo Pascal e desenvolve-se através de ritos e sinais cheios de significado, na hora da instituição da Eucaristia.
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13,1).
No decorrer da Ceia “levantou-se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos. Alguns não concordaram que Jesus lhes lavasse os pés, entre eles Simão Pedro, que disse nunca o consentirei. Jesus respondeu-lhe: “se não te lavar os pés não terás parte comigo”. Jesus quis dizer aos discípulos que lavar os pés é algo que está intimamente ligado ao serviço aos outros, amando-os como irmãos. Cristo ensina-nos que a Eucaristia é alimento espiritual e partilha do pão, mas é também um serviço para cuidar dos pobres, dos doentes e dos marginalizados da sociedade. Ao chegar a hora de Jesus ser glorificado, diz aos seus discípulos: “Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13,15).
Jesus durante a ceia institui a Eucaristia e ofereceu a Deus sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo e o seu Sangue. Deixou-nos o exemplo para que nós também como Ele possamos servir os irmãos nas suas necessidades, principalmente os mais indigentes. Jesus deu-nos o exemplo para fazermos tudo o que Ele nos mandou. O rosto dos pobres tornou-se o de Jesus, que se esconde naqueles que cuidamos e com quem partilhamos a vida e o pão.
A primeira leitura recorda-nos o modo como o povo de Israel recebeu instruções para preparar, celebrar e testemunhar a Páscoa. Naqueles dias o Senhor disse a Moisés e Arão na terra do Egito: “Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano”. Ao receberem “um cordeiro por família” celebravam a Páscoa fazendo memória da libertação do Egito. “Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituição perpétua” (Ex 12,14). O povo de Israel celebrou a sua primeira Páscoa na esperança de passar da terra da escravidão do Egito para a terra Prometida.
Foi neste contexto, que Jesus celebrou a festa da Páscoa com os seus discípulos e Se entregou ao Pai como oferta agradável por nós e por toda a humanidade. Ao celebramos a memória da Ceia de Jesus no cenáculo com os seus discípulos, recordamos os seus gestos e as sus palavras de bênção. No decorrer da ceia, Jesus tomou o pão, abençoou-o e deu aos seus discípulos dizendo: “Tomai todos e comei, isto é o meu Corpo entregue por vós, fazei isto em memória de mim”. No fim da ceia tomou o cálice com vinho abençoou-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: “Tomai todos e bebei, este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da Nova e Eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados, fazei isto em memória de mim”( 1 Cor 11, 23-26).
Estas palavras de São Paulo na segunda leitura, revelam o mistério daquela noite inesquecível para Jesus. O testamento de Jesus e as suas palavras mostram-nos como a comunidade primitiva de Jerusalém foi fiel à celebração da Eucaristia, como memorial do que Jesus fez e celebrou com os seus discípulos.
O povo de Israel ao celebrar esta festa transmitia também de geração em geração o ritual da Páscoa, ajudando as novas gerações a receber e a acolher a riqueza da herança que lhes foi dada por Deus. Sempre que a Igreja faz memória das palavras de Jesus e da sua entrega total ao Pai no decorrer da ceia Pascal, celebra a Eucaristia como sacramento que anuncia a morte do Senhor e a Sua ressurreição, até que Ele venha.
Jesus Cristo está presente na Santíssima Eucaristia por amor ao seu povo em busca da salvação. Ao comtemplar Jesus no Santíssimo Sacramento do altar, fonte perene de graça e de misericórdia vislumbramos a meta espiritual, que todos os batizados devem alcançar.
Jesus lava os pés aos seus discípulos e entrega-lhes o cuidado e o serviço dos pobres. É um gesto de amor, de partilha e de serviço ao próximo.
Ele deu-nos o exemplo para fazermos nós também o mesmo aos nossos irmãos. “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Dou-vos um mandamento novo para que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos”. Jesus entregou-nos como regra de ouro o mandamento novo do amor com tudo o que implica o serviço aos irmãos mais pobres.
No gesto de lavar os pés aos discípulos, Jesus dá-se todo aos seus e entrega-lhes simultaneamente o cuidado dos pobres com sentimentos de compaixão e misericórdia. A Igreja tem como missão fazer da comunidade dos crentes um lugar de acolhimento para cuidar dos mais pobres e necessitados da sociedade.
Jesus pede-nos gestos fortes de serviço e de caridade no compromisso com o próximo. “O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos é a Mim o fazeis” (Mt 25,40).
A Igreja celebra e vive a Eucaristia em íntima união com Jesus e manifesta na partilha do pão com os pobres e os famintos o seu maior tesouro.
No mistério da Eucaristia a Igreja vislumbra o caminho que deve percorrer para servir e cuidar dos pobres, ensinando os cristãos a partilhar o pão com os mais carenciados. Pedimos que as instituições da Igreja, os Centros Sociais Paroquiais, a Cáritas, as Misericórdias e os grupos de pastoral social saibam estar junto dos pobres, cuidando deles com verdadeiro espírito evangélico, solidário e fraterno. Com o aumento da pobreza no mundo de hoje pedimos aos governantes e aos responsáveis das instituições internacionais, para que unidos partilhem os bens necessários para diminuir a pobreza no mundo.
Cuidemos dos pobres, porque Jesus cuidará de nós e nos dará o pão em abundância. O gesto de Jesus na multiplicação dos pães e dos peixes mostra a sua proximidade e atenção às necessidades das pessoas. À luz deste mistério fez o discurso sobre o Pão da Vida, dizendo: “Eu sou o Pão Vivo descido do Céus, quem comer deste Pão viverá eternamente”.
O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes revela-nos que Jesus veio para dar a vida ao mundo e matar a fome aos famintos. Vivamos intensamente o mistério da Eucarística e levemos Jesus aos pobres, aos doentes e aos mais fragilizados deste mundo.
Peço a Jesus a graça de os cristãos aprenderem a olhar para o nosso mundo empobrecido com um coração fraterno de modo a partilhar em cada dia o pão com aqueles que experimentam a pobreza.
A celebração da Eucaristia mistério de comunhão é o testemunho da fé das nossas comunidades e assenta na vivência da iniciação cristã. Neste Ano Pastoral dedicado à Eucaristia, ajudemos a renovar a nossa Diocese, fazendo de cada comunidade um oásis espiritual.
Como tantos Santos deixemo-nos apaixonar pela Eucaristia e tornemo-nos verdadeiros apóstolos de Jesus escondido, como dizia São Francisco Marto, a beata Alexandrina de Balasar e o beato Carlo Acutis. Imitemos São Francisco Marto no amor a “Jesus escondido” no sacrário e sejamos verdadeiramente amigos de Jesus e dos pobres, partilhando com eles os nossos bens materiais e espirituais.
Imitemos a Beata Alexandrina de Balasar no seu amor a Jesus na Eucaristia, que com paixão se entregou ao amigo, que saciava toda a sua fome mesmo no meio dos seus sofrimentos e provações. Imitemos o Beato Carlo Acutis no amor, na devoção e na confiança a Jesus na Santíssima Eucaristia, a quem chamava a “auto- estrada” da sua vida espiritual.
Sejamos cristãos de oração e reparação diante de Jesus na Eucaristia.
Jesus está vivo no Santíssimo Sacramento do altar, no sacrário, verdadeiro Pão Vivo descido do céu, envolvido na luz do mistério da Eucaristia. Jesus deixa-me aproximar de Ti para te adorar, amar, comungar e entregar a minha vida.
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente com todo o meu ser, a minha fé, as minhas forças e a minha caridade. Ó Jesus, eu vos adoro e desejo no mistério do Santíssimo Sacramento. Ó Jesus, eu vos louvo e vos amo no Santíssimo Sacramento do altar, Pão Vivo descido dos Céus. Ó Jesus, eu quero fazer-vos companhia no sacrário para que não sintas mais abandono e desprezo. Dai-me a graça de ser um instrumento de adoração e reparação em todos os sacrários da nossa Diocese de Viseu, onde continuais à espera do fervor e da oração de muitos cristãos.
Ó Sagrado Banquete em que se recebe Cristo e se comemora a Sua paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória. Ámen!
Viseu, 14 de abril de 2022
+ António Luciano, Bispo de Viseu