22 anos em Moçambique

Chamo-me Maria Inocência Azinheiro Costa e pertenço à Congregação das Missionárias Dominicanas do Rosário. Sou Missionária em Moçambique há 22 anos, a maior parte deles vividos numa nossa missão na zona sul, num bairro rural da cidade de Maputo.

Somos uma Congregação que tem como Carisma "a Evangelização dos mais pobres onde a Igreja mais nos necessite". Esta é a experiência gratificante, que estamos a viver este ano, em que como Congregação, celebramos o jubileu dos 50 anos da nossa presença e missão entre o bom povo Moçambicano.

Como seguidoras do ideal das primeiras Irmãs, no ano de 1991, abrimos uma nova comunidade – missão no Bairro de Mahotas, a cerca de 20km de Maputo -, onde trabalhamos com as pessoas mais pobres e excluídas, como compromisso evangélico do seguimento de Jesus.

Assim, ao falar da minha experiência missionária, mesmo quando vá em primeira pessoa, é sempre falar da experiência de uma pequena comunidade de Irmãs, que vivemos entre o povo mais simples, partilhando com eles a vida e a fé, comungando das suas alegrias e tristezas, dos seus sonhos e dos seus fracassos… fazendo com eles a experiência dos muitos milagres quotidianos que a vida nos oferece…

Não é fácil em poucas palavras expressar a riqueza do que tenho vivido ao longo destes anos… Embora na mesma zona geográfica foi muito, bom e diversificado, o que tenho vivido.

Desde o trabalho de formação com a Mulher dentro das Cooperativas Agrícolas, em que cerca de 10 mil mulheres camponesas trabalhavam juntas, comprometidas em construírem um futuro para elas e seus filhos, passando pelo "ajudar a nascer" das "associações de sobrevivência" das mulheres nas comunidades cristãs, durante os longos anos de guerra, em que "a fome gerava criatividade produtiva e solidária", até à partilha espontânea da Palavra de Deus de uma mamã ou vovó, nas Celebrações da Palavra ao Domingo, com uma fé e sabedoria que nos fazem "estremecer de alegria "e louvor a Deus, porque "esconde estas coisas aos grandes e as revela aos humildes", tudo me ajudou a descobrir e a amar a riqueza interior do povo africano e pelo que acabo de referir, particularmente da mulher africana que, para sempre, me "ganharam" o coração…

 

Paz e democracia

Dentro da riqueza desta experiência dos primeiros anos, não posso deixar de mencionar a esperança vivida nos Acordos de Paz em 1992 e as primeiras eleições livres em 1994. Quanto anseio de dignidade e de participação de um povo, quanta sede de aprender a votar, quanto empenhamento das comunidades cristãs em colaborar para que todos pudessem e soubessem usufruir desse direito tão fundamental do ser pessoa…

Os anos passaram, muitas outras conquistas, como foi o sedimentar de uma democracia, que se bem ainda incipiente, permitiu a liberdade de expressão e pensamento, fomentou a participação na "coisa pública", e sobretudo consolidou a " fome de formação" a todos os níveis que sempre caracterizou o moçambican@.

Infelizmente, é verdade também, que muitas das esperanças dos primeiros anos de paz, promissoras de progresso, de dignidade, de melhoria das condições de vida, de emprego, de habitação, de escola, de saúde e de igualdade de oportunidades entre todos, caíram muito por terra… A pobreza extrema em que vive mais de metade do povo Moçambicano, com a constatação da fome em todas as Províncias, aliadas à pandemia da Sida, que dizima os nossos jovens, pais e mães de família, gerando diariamente centenas de órfãos, deixando bebés sem mãe ao nascer, crianças entregues a si mesmas, ou no melhor dos casos, entregues a avós velhinhas e sem recursos… são hoje duras "dores" por que está passando a maioria das famílias moçambicanas…

Mas apesar disso, e ainda que sinta que são precisas muitas mais mãos, cabeças e corações juntos, a sentir e a agir, desde a solidariedade e o voluntariado nacional e internacional, até ao compromisso activo dos moçambican@s e de todos os que nos sentimos sê-lo, creio e confio, que o povo de Moçambique tem futuro. Continuo a acreditar na crença básica que sustenta a nossa vida de seguidoras de Jesus de Nazaré: " a Vida sairá sempre vencedora…"

Esta é a experiência nuclear da nossa fé que suporta e dá um sentido novo ao quotidiano do nosso estar entre e com este povo…

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