João Maldonado, jornalista da Renascença, e Carolina Berlim, do Departamento de Comunicação da Província Portuguesa dos Jesuítas, estendem o olhar aos acontecimentos significativos dos últimos meses

Lisboa, 29 dez 2025 (Ecclesia) – O fim do pontificado do Papa Francisco e a eleição de Leão XIV estão entre os acontecimentos na história o ano de 2025, que ficou marcado também pela vivência do Jubileu 2025 e voltou a ser ensombrado pela guerra.
“Sinto que muitos dos jovens hoje em dia sentiram que perderam ali um Papa muito importante, um Papa que lhes chamava muito ao coração”, afirmou Carolina Berlim, do Departamento de Comunicação da Província Portuguesa dos Jesuítas, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.
O Papa Francisco faleceu no dia 21 de abril, aos 88 anos de idade, pelas 07h35 locais (menos uma hora em Lisboa), na Casa de Santa Marta, onde residia, após um internamento de 38 dias no Hospital Gemelli, colocando fim a 13 anos de liderança da Igreja Católica.
O jornalista da Renascença João Maldonado considera que mudança de pontificado é o “acontecimento do ano” para todos os católicos bem como para o mundo inteiro.
“É algo muito, muito raro mudarmos de Papa, mudarmos um pontificado e acaba sempre por marcar o ano em que acontece”, reforça.
O jornalista recorda acontecimentos dos últimos meses de vida de Francisco, nomeadamente a abertura do Ano Santo 2025, a 24 de dezembro de 2024, a publicação da autobiografia “Sfera” (Esperança, em Portugal), em janeiro, e o agravamento do estado de saúde do pontífice nos meses que se seguiram.
João Maldonado destaca o dia da morte de Francisco, na segunda-feira, a seguir à Páscoa, como uma data com “enorme simbolismo para os católicos”, “o começo de uma nova vida”, e o processo que se seguiu com o início do Conclave, que teve a oportunidade de cobrir como jornalista em Roma.
“A expectativa durante esses dias acho que foi sempre a palavra de ordem, é muito giro olhar para trás e ver o que é que todos os jornais, não só os italianos, os portugueses, os internacionais, as apostas que sempre foram tentando fazer por esses dias em relação a quem poderia seguir como Papa”, refere, lembrando que Leão XIV não estava na listas iniciais.
A 8 de maio, o cardeal Robert Francis Prevost, até então prefeito do Dicastério para os Bispos, foi eleito como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.
“Acho que ninguém estava à espera que fosse àquela hora em que sai o fumo branco. Eu, no meu caso pessoal, até conto que eu tinha acabado de fazer um direto, até tinha já arrumado meio as coisas”, relata, explicando que, dada a quantidade de pessoas no local, à hora do anúncio, havia muito pouco acesso à internet.
“Apesar de toda a tecnologia em que estamos envolvidos, naquele momento nós não sabemos nada, de nada, sobre aquele cardeal, e mesmo assim há milhares, milhões de pessoas em todo o mundo que param tudo o que estão a fazer para ou ali irem presencialmente ou seguirem o acontecimento”, salienta.
Carolina Berlim evoca o momento em que que é anunciado o nome do novo Papa e se conhece a nacionalidade de Leão XIV: “O primeiro ambiente geral, foi ouvir esse nome e pensar, ‘ah, americano’, então houve quase uma ligeira desilusão”.
“Depois ele apresenta-se de uma forma um bocadinho diferente de Francisco, um bocadinho mais semelhante a Bento XVI, imediatamente as pessoas começam a fazer relações nas suas cabeças e assim um bocadinho a entrar em pânico, mas acho que é também belo vermos que o Papa Leão XIV é uma bonita continuação do Papa Francisco”, salienta.
“Não é uma cópia do Papa Francisco, porque também não era isso que a Igreja precisava neste momento”, acrescenta.
Sete meses depois da eleição de Leão XIV, Carolina Berlim e João Maldonado destacam a paz como o tema do pontificado, que esteve muito presente na primeira viagem internacional do pontífice, na qual visitou a Turquia e o Líbano (27 a 2 de dezembro).
“Acho que foi muito bonito ver e ler as imagens e as descrições de milhares de jovens que ali foram ver o Papa, não só do Líbano, mas que vieram também de outros países, como sa Síria, que naquele ambiente pesado conseguiram criar ali uma mini Jornada Mundial da Juventude, com muitos cânticos a fazer recordar uma JMJ”, indica.
Além destes acontecimentos, 2025 mostrou ser um ano de grande dinamismo para a Igreja Católica, que viveu o Jubileu 2025, dedicado à esperança, que levou milhares de grupos a Roma.
Carolina Berlim considera “muito poético” o facto de a eleição de um novo Papa ter acontecido num ano “especialmente dedicado à unidade da Igreja”.

No campo político, Portugal foi chamado às urnas duas vezes, primeiro nas eleições legislativas, em maio, e depois nas eleições autárquicas, em outubro, tendo o ano terminado com a campanha eleitoral para as presidenciais.
“Deve ser dos poucos anos na história da democracia em Portugal que isto acontece. E mesmo noutros pontos da Europa acho que é difícil encontrarmos casos assim”, mencionou João Maldonado, que defende que os atos eleitorais de 2025 mostraram polarização e que faz falta encontrar “pontos comuns”.
Carolina Berlim concorda que se ouvem cada vez mais “vozes polarizadas” que intimidam as “vozes moderadas”: “Penso que na cabeça das pessoas talvez tenha-se instituído muito esta ideia de que ou é preto ou é branco. …] E, de facto, a moderação não é isso. A moderação implica um bocadinho mais de discernimento. Acho que o discernimento é fundamental para qualquer cristão que queira votar”.

Em 2025, a guerra continuou a dominar a atualidade, tendo o som da armas continuado a ecoar em vários pontos do mundo.
O jornalista da Renascença João Maldonado observa que o cessar-fogo não chega devido à “falta de pontes”, à falta de ambição pela paz, a que se aliam o “negócio das armas”, da tecnologia e da inteligência artificial.
“O papel de cada um de nós primeiro é acompanhar estes conflitos com muita oração e com muita tristeza como o Papa também o faz, portanto seguimos o nosso pastor, mas por outro lado também percebermos que não podemos justificar nem normalizar nas nossas cabeças estes conflitos só porque eles não estão a acontecer aqui perto de nós”, disse carolina Berlim.
PR/LJ/OC
