2024: O Ano do Papa

Sínodo, nova encíclica e maior viagem internacional são marcas de meses com momentos inéditos

Cidade do Vaticano, 17 dez 2024 (Ecclesia) – Francisco assinala hoje o seu 88.º aniversário, depois de 12 meses marcados por acontecimentos como o Sínodo ou várias visitas inéditas, incluindo a maior viagem internacional do atual pontificado.

2024 começou ainda marcado pelos conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia, tendo o Papa assinalado o segundo aniversário da invasão russa e, mais tarde, os mil dias da guerra no Leste da Europa, pedindo “uma solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura”.

A tradicional mensagem ‘Urbi et orbi’, à cidade e ao mundo, depois da Missa de Páscoa, evocou as vítimas dos muitos conflitos no mundo, apelando a “uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia”.

“Além disso, faço novamente um apelo para que seja garantido o acesso da ajuda humanitária a Gaza e insisto, uma vez mais, na pronta libertação dos reféns sequestrados a 7 de outubro e num cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza”, referiu Francisco.

A 28 de abril, a Bienal de Arte de Veneza recebeu, pela primeira vez, a visita de um Papa; simbolicamente, o pavilhão da Santa Sé está situado na prisão feminina de Giudecca, onde a viagem começou, junto das reclusas e dos artistas envolvidos na instalação.

Foto: Vatican Media

“Seria importante que as diferentes práticas artísticas se constituíssem, por toda a parte, como uma espécie de rede de cidades-santuário, trabalhando em conjunto para libertar o mundo das antinomias sem sentido e vazias que procuram impor-se no racismo, na xenofobia, na desigualdade, no desequilíbrio ecológico e na aporofobia, esse neologismo terrível que significa fobia dos pobres”, declarou o pontífice.

O ano de 2024 fica marcado pela proclamação oficial do próximo Jubileu, com o tema da esperança, cuja Porta Santa vai ser aberta na Basílica de São Pedro, a 24 de dezembro.

“É de esperança que precisamos… Todos precisamos dela! E a esperança não desilude… Não o esqueçamos! Dela necessita a sociedade em que vivemos, muitas vezes imersa apenas no presente e incapaz de olhar para o futuro”, assinalou o Papa, na proclamação solene da bula de convocação, a 9 de maio.

No mesmo mês, Francisco visitou a cidade italiana de Verona, saudando os 12 mil participantes na iniciativa ‘Arena da Paz’, na qual duas pessoas concentraram as atenções: Maoz Inon, de Israel, cujos pais foram mortos pelo Hamas; e Aziz Sarah, da Palestina, cujo irmão foi morto por soldados israelitas.

No final de maio, milhares de crianças dos cinco continentes responderam ao convite do Papa para um encontro inédito: a sua primeira Jornada Mundial: um encontro de festa, com atenção ao sofrimento dos mais novos, como as crianças da Palestina e da Ucrânia.

A 7 de junho, os jardins do Vaticano voltaram a receber, 10 anos depois, uma oração pela paz na Terra Santa, gesto simbólico, que Francisco quis repetir num contexto de guerra, em Israel e na Palestina, para manter vivo o sonho da paz.

“A todos, crentes e pessoas de boa vontade, gostaria de dizer: não deixemos de sonhar com a paz nem de construir relações pacíficas! Diariamente rezo para que esta guerra acabe, de uma vez por todas”, disse.

Uma semana depois, mais de 100 comediantes e humoristas de todo o mundo, incluindo os portugueses Joana Marques, Maria Rueff e Ricardo Araújo Pereira, estiveram com o Papa, num encontro inédito, para falar sobre a importância do riso.

No mesmo dia, Francisco tornou-se o primeiro Papa a participar numa cimeira do G7, onde quis falar dos temas da paz e da inteligência artificial.

“Precisamos de garantir e proteger um espaço de controlo significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana”, apelou.

“Dignidade infinita” é o título da declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé, fruto de cinco anos de trabalho, que passa em revista o magistério papal das últimas décadas sobre temas que vão da guerra à pobreza, da violência contra os migrantes à violência contra as mulheres, do aborto à maternidade de substituição e à eutanásia, abordando ainda a ideologia do género e a violência digital.

A 29 de junho, na solenidade de São Pedro e São Paulo com metropolitas de todo o mundo, incluindo D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, receberam o pálio, uma insígnia litúrgica de honra e jurisdição, sendo desafiados a “construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas”.

Já no dia 7 de julho, o Papa deslocou-se a Trieste, para encerrar a 50.ª Semana Social dos Católicos na Itália; junto à fronteira com a Eslovénia, deixou uma referência aos que se seguem a Rota dos Balcãs, procurando na Europa uma vida melhor.

“Trieste é uma daquelas cidades que têm a vocação de reunir povos diferentes: em primeiro lugar porque é um porto, e um porto importante, e depois porque está na encruzilhada entre a Itália, Europa Central e os Balcãs. Nestas situações, o desafio para a comunidade eclesial e civil é saber conjugar abertura e estabilidade, acolhimento e identidade”, declarou.

Foto: Lusa/EPA

A maior viagem internacional do atual pontificado aconteceu entre 2 e 13 de setembro – 44 horas de voo, percorrendo mais de 32 mil quilómetros, levaram Francisco à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.

12 dias marcados por apelos ao diálogo e respeito pelo ambiente, bem como pelos banhos de multidão em Díli, onde milhares de pessoas ocuparam ruas, celebrando fé católica e identidade nacional.

“Nunca esquecerei os vossos sorrisos”, disse Francisco aos timorenses, na primeira visita de um Papa ao país desde a sua independência.

De 26 a 29 de setembro, o Papa realizou a sua 46ª viagem internacional, ao Luxemburgo e Bélgica, marcada pelas sombras da guerra e crise de abusos sexuais, na Igreja belga.

A 24 de outubro, Francisco publicou a quarta encíclica do pontificado, ‘Dilexit nos’ (amou-nos), em que alerta para um mundo sem “coração”, preso ao consumo e à violência.

O Papa alerta para um “forte avanço da secularização”, considerando que este visa “um mundo livre de Deus”.

A encíclica, escrita originalmente em espanhol, foi publicada na reta final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos e identifica “comunidades e pastores concentrados apenas em atividades exteriores, em reformas estruturais desprovidas de Evangelho, em organizações obsessivas, em projetos mundanos, em reflexões secularizadas, em várias propostas apresentadas como requisitos que, por vezes, se pretendem impor a todos”.

Foto EPA/Lusa

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorreu no mês de outubro, encerrou três anos de trabalho promovidos por iniciativa do Papa Francisco, procurando projetar a Igreja Católica para uma nova relação com a sociedade.

O documento final, que o Papa entregou a toda a Igreja, de imediato, aborda temas como o papel das mulheres e os processos de decisão, o combate e prevenção dos abusos sexuais ou a reconfiguração das comunidades católicas, com novos ministérios e o fim de um modelo piramidal.

“Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo, talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor”, disse Francisco, na Missa conclusiva.

Mais tarde, o Papa viria a publicar uma “nota de acompanhamento” do documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, sublinhando o seu valor como “magistério” pontifício e a necessidade de implementação nas comunidades católicas.

A passagem de testemunho entre Lisboa e Seul marcou a celebração do Dia Mundial da Juventude, perante o Papa, a 24 de novembro.

A 7 de dezembro o décimo consistório do pontificado reforçou o colégio responsável pela eleição do sucessor de Francisco; perante 21 novos cardeais e outros responsáveis dos cinco continentes, o Papa denunciou tentações de poder e de divisão que podem afetar as comunidades católicas.

“Caros irmãos, fareis a diferença seguindo as palavras de Jesus que, ao falar da competição corrosiva deste mundo, diz aos discípulos: não deve ser assim entre vós. Não deve ser assim entre vós. É como se Ele estivesse a dizer: segui-me, sigam o meu caminho e serão diferentes; sigam-me e serão um sinal luminoso numa sociedade obcecada pela aparência e pela busca dos primeiros lugares”, declarou, na cerimónia a que presidiu no Vaticano.

Depois de uma viagem à Córsega, no último domingo, com o olhar posto no Mediterrâneo, as atenções viram-se agora para a abertura das Portas Santas na Basílica de São Pedro, a 24 de dezembro, e dois dias depois, num gesto inédito, dentro de uma das prisões de Roma.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; o religioso jesuíta foi criado cardeal por São João Paulo II a 21 de fevereiro de 2001.

A 13 de março de 2013, o então arcebispo de Buenos Aires foi eleito como sucessor de Bento XVI, assumindo o inédito nome de Francisco; é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e também o primeiro pontífice sul-americano.

OC

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Agência ECCLESIA

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