Encontro dos bispos com o Papa e segunda sessão do Sínodo foram temas que marcaram atualidade eclesial
Lisboa, 27 dez 2024 (Ecclesia) – O início do período de apresentação formal dos pedidos de compensação financeira, para vítimas de abuso, foi um dos factos que marcou o ano da Igreja Católica em Portugal, assinala o presidente do episcopado.
“Há de continuar sempre, porque este foi um arranque de um processo”, refere à Agência ECCLESIA D. José Ornelas.
O bispo da Diocese de Leiria-Fátima aponta à construção de “uma cultura de respeito, uma cultura de defesa das crianças e dos jovens, adolescentes particularmente, e de todas as pessoas vulneráveis, para que possam viver na Igreja como um lugar de segurança e de acolhimento”.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) admite que esta questão “mexeu dramaticamente” com a Igreja e a sociedade.
“Ninguém se pode demitir deste trabalho de construção de uma mentalidade nova que penetre até cada família e cada instituição da sociedade, porque é aí onde se encontram as maiores ocasiões de abuso”, aponta.
A Conferência Episcopal Portuguesa vai receber até 31 de março de 2025 os pedidos de compensação financeira de vítimas de abusos sexuais por membros do clero ou em instituições eclesiais.
Continuamos a dizer que o trabalho está a ser feito, e é isso o mais importante, na mentalização e na formação de pessoas que possam colaborar para evitar novos casos e também os saibam resolver, quando eventualmente algum aconteça”.
A entreposta abordou a visita ‘ad Limina’, o encontro dos bispos portugueses com o Papa e as instituições da Santa Sé, que decorreu em maio, com o balanço da JMJ 2023, em Lisboa, e a análise de outras dinâmicas em curso, como “o da transformação pastoral e sinodal da Igreja”.
O presidente da CEP aponta ainda a importância do Jubileu convocado pelo Papa e que se começou a viver na última noite de Natal.
“Neste mundo problemático onde vivemos, como Igreja, estamos chamados a viver, a criar e a anunciar um projeto, um sonho de paz, um sonho de fraternidade, um sonho de solidariedade”, sustenta.
D. José Ornelas espera que este seja “um ano de esperança”.
“Não se espera sentado, espera-se ativamente construindo e é isso que hoje nós celebramos. Celebramos uma esperança, antecipadamente, estamos sempre a construir um futuro em cada geração – a Igreja é chamada a isso, a defender este planeta, a criar condições para que todos aqueles que nele vivem possam encontrar uma solução para os seus problemas e viver em paz”, assinala ainda.
O bispo de Leiria-Fátima foi um dos representantes da CEP na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cuja segunda sessão decorreu no mês de outubro, no Vaticano.
Rita Sacramento Monteiro, do Conselho Editorial do ‘Ponto SJ’, projeto dos Jesuítas em Portugal, destaca que a “fase de conclusões” é importante para dar continuidade à dinâmica desejada pelo Papa.
“Penso que se começou outro processo, mais experiencial, de vivermos e de nos reconhecermos como Igreja, todos, a Igreja de hoje, chamados a anunciar o Evangelho”, disse à Agência ECCLESIA.
“Somos todos chamados a viver o nosso lugar na Igreja, a fazer parte das respostas pastorais, da participação das decisões da vida da nossa comunidade, da vida da Igreja local, regional, nacional e da Igreja universal, a estar atentos, atentos às palavras do Papa, atentos ao que o Espírito diz em cada um de nós”, prossegue.
A entrevista aponta como “grande desafio” a passagem de uma Igreja mais vertical para “relações mais horizontais, colaborativas e participativas”.
“É a nossa missão, compromete-nos a todos, desde as estruturas às pessoas que estão nas comunidades”, reforça.
Olhando para o futuro, Rita Sacramento Monteiro destaca a necessidade de “criar espaços que sirvam essa mudança”.
“Se as relações agora são mais horizontais, como é que nós participamos, como é que nós nos continuamos a ouvir, o que é que na nossa comunidade já emergiu que é importante endereçar, quem é que pode e deve participar e não consegue hoje participar na nossa comunidade, como é que se criam esses espaços para a participação?”, questiona.
O Programa ‘70X7’ destaca no próximo domingo cinco acontecimentos que marcaram a Igreja Católica e a sociedade, em Portugal e no mundo, em 2024, – a guerra, o Sínodo dos Bispos, os incêndios, os 50 anos do 25 de Abril e a visita ‘Ad Limina‘ dos bispos portugueses -, através da análise e comentário de cinco entrevistados, pelas 17h35, na RTP2.
HM/OC