2022: O ano em que o Papa chorou (c/vídeo)

Guerra na Ucrânia, viagens internacionais e reforma interna da Igreja marcaram atividade de Francisco, nos últimos meses

Lisboa, 17 dez 2022 (Ecclesia) – O Papa, que completa hoje 86 anos de idade, viveu os últimos meses do seu pontificado num contexto marcado pelo que já qualificou como “terceira guerra mundial”, com preocupação particular pela Ucrânia.

A violência no leste da Europa marcou dezenas de intervenções de Francisco, desde 24 de fevereiro, quando começou a invasão da Rússia, levando-o mesmo a chorar, em público, ao recordar as vítimas da guerra, durante uma homenagem à Imaculada Conceição, no centro de Roma.

O Papa, que ponderou uma visita a Kiev e Moscovo, adiada até agora, escreveu uma carta ao povo da Ucrânia, e já abriu as portas do Vaticano para eventuais negociações.

Perante o possível cenário de tragédia nuclear, Francisco fez uma intervenção inédita, a 2 de outubro, na recitação do ângelus, que dedicou exclusivamente a este conflito, com apelos na primeira pessoa aos presidentes da Rússia e da Ucrânia.

A 25 de Março, o Papa uniu Fátima e o Vaticano num dia histórico, marcado pela consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria.

A oração pela paz foi presidida na Cova da Iria por um representante pontifício, o cardeal Konrad Krajewskim e, na Basílica de São Pedro, pelo próprio Francisco.

Depois de um dia de jejum pela paz, a 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, a guerra voltou a marcar presença na celebração da via-sacra no Coliseu de Roma: a cruz foi transportada, como previsto, por Irina e Albina, amigas e migrantes na Itália, naturais da Rússia e da Ucrânia.

No dia de Páscoa, Francisco recordou as vítimas do conflito, em particular as crianças, na sua mensagem ‘Urbi et Orbi’.

Quatro viagens internacionais em 2022

Barém, 03-06 de novembro

O Papa regressou à Península Arábica como “peregrino da paz e da fraternidade”, para deixar mensagens em favor do diálogo entre as religiões, vivendo dias de festa junto da comunidade católica local.

Cazaquistão, 13-15 de setembro

Francisco associou-se ao VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais, assinando a declaração comum pela rejeição da violência e do fundamentalismo religioso.

Canadá, 24-30 de julho

Foto: Lusa/EPA

A viagem apostólica ao Canadá, a mais longa de 2022, foi uma visita histórica, de seis dias marcados pelo ‘mea culpa’ de Francisco, perante representantes indígenas, pelos abusos cometidos no passado.

Malta, 02-03 de abril

Depois de Lampedusa e de Lesbos, o Papa cumpriu em Malta uma nova etapa de peregrinação ao encontro dos migrantes e refugiados que atravessam o Mediterrâneo, em busca de um futuro melhor.

Francisco teve de adiar a sua viagem a África, devido a problemas de saúde que cancelaram a celebração do Corpo de Deus e uma visita a Florença.

Na Itália, o Papa passou por Aquila, Matera e Assis, onde se encontrou com os jovens da Economia de Francisco.

A 25 de outubro, Francisco voltou ao Coliseu de Roma para encerrar o encontro inter-religioso pela paz, promovido pela comunidade de Santo Egídio.

Em novembro, o Papa visitou Asti, no norte da Itália, terra natal dos seus pais, que emigraram para a Argentina após a I Guerra Mundial.

Outro momento em destaque foi 10.º Encontro Mundial das Famílias, que decorreu em Roma, de 22 a 26 de junho, com ligação às dioceses dos cinco continentes.

Em 2022, Francisco presidiu a um consistório em que criou o primeiro cardeal de Timor-Leste e promoveu um encontro geral do Colégio Cardinalício, para debater a reforma da Cúria Romana.

Nos nove anos de início solene do seu pontificado, a 13 de março de 2022, o Papa promulgou a esperada nova constituição ‘Praedicate evangelium’ (Pregai o Evangelho), que propõe uma Cúria mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior protagonismo para os leigos e leigas.

Entre as novas lideranças, destaca-se a escolha do cardeal português D. José Tolentino Mendonça como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.

Antes, o pontífice tinha decidido reforçar as competências de bispos e conferências episcopais, para promover uma “descentralização saudável” na Igreja.

Além de duas cerimónias de canonização, Francisco proclamou como beato o Papa João Paulo I.

Ainda este ano, o Papa anunciou a decisão de estender a décima sexta Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, até 2024, e lançou o Jubileu 2025.

Em janeiro, o Domingo da Palavra ficou para a história: pela primeira vez, o Papa instituiu no ministério de leitor e de catequista leigas católicas, de quatro continentes.

Internamente, o ano fica marcado pelo documento sobre a Liturgia, que visou o fim das “polémicas” neste campo, apresentando a reforma do Concílio Vaticano II como referência para todas as comunidades.

A conferência da ONU sobre o clima, COP 27, também esteve nas preocupações dos últimos meses, com Francisco a pedir decisões concretas.

Foto: Lusa/EPA

O Papa concedeu várias entrevistas, em que abordou, entre outros temas, a crise provocada pelos abusos sexuais de menores, na Igreja, reafirmando a política de tolerância zero.

Francisco é o primeiro inscrito na Jornada Mundial da Juventude, de 1 a 6 de agosto de 2023, e divulgou este ano a mensagem que vai orientar o encontro de Lisboa.

OC

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.

Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o.”

O cardeal de Buenos Aires seria eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e também o primeiro pontífice sul-americano.

Vaticano: Papa celebra 86.º aniversário com presentes para padre, sem-abrigo e empresário, escolhidos como exemplo de quem se dedica aos mais pobres

Partilhar:
Scroll to Top