Igreja: Papa define abusos como «monstruosidade» e reafirma «tolerância zero»

Francisco aponta à JMJ 2023 e deixa conselho aos católicos portugueses: «abram a janela»

Cidade do Vaticano, 04 set 2022 (Ecclesia) – O Papa disse que os abusos na Igreja Católica são uma “monstruosidade”, reafirmando a política de “tolerância zero” com os culpados por estes crimes.

“O abuso de homens e mulheres da Igreja — abuso de autoridade, abuso de poder e abuso sexual — é uma monstruosidade”, referiu Francisco em entrevista à TVI/CNN Portugal, divulgada este domingo.

“Um sacerdote não pode continuar a ser sacerdote se é abusador. Não pode. Porque é doente ou um criminoso, não sei (…). O sacerdote existe para encaminhar os homens para Deus e não para destruir os homens, em nome de Deus. Tolerância zero. E não se pode parar, nisso”, prosseguiu.

O Papa citou uma conversa com responsáveis do Brasil, segundo os quais 3% dos abusos sexuais acontecem no contexto da Igreja, recusando a ideia de que o celibato esteja ligado a este tipo de comportamentos.

“O abuso é uma coisa destrutiva. Humanamente diabólica. Porque nas famílias não há celibato e também acontece”, indicou, lamentando que os casos de abuso se “ocultem” no contexto familiar, escolar ou desportivo.

“Não nego os abusos, mesmo que fosse um só, é monstruoso”, acrescentou.

Francisco falou de uma “cultura do abuso” que se espalhou na sociedade, apontando o dedo a filmes pornográficos.

Quando falamos de abuso, eu diria que é preciso ter esta visão de conjunto. Procurar que não se escondam as coisas, porque nalguns setores, como na família, tende-se a ocultar. E, depois, agarremos na percentagem que nos diz respeito e vamos ao combate”.

O Papa admitiu que sofre com os casos de abusos que lhe apresentam.

“Sofro, mas é preciso enfrentar isso”, assumiu.

A conversa abordou a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que Lisboa vai receber de 1 a 6 de agosto de 2023.

“Eu penso ir. Vai Francisco ou João XXIV. Mas o Papa vai”, afirmou, sorrindo.

Questionado sobre a “palavra” que considerava necessária para o percurso da Igreja Católica em Portugal, até à JMJ 2023, o Papa aconselhou a abrir janelas.

“Olhem para a janela e perguntem se a tua vida tem uma janela aberta. Se não tiverem, abram-na o quanto antes. Não tenham vistas curtas. Saibam que estamos a caminhar para o futuro e que há um caminho. Não se fechem”, apelou.

“Abram a janela. Vejam além do nariz. Olhem, abram, olhem para o horizonte. E alarguem o coração”, disse ainda.

A entrevista completa é transmitida segunda-feira à noite na CNN Portugal.

OC

Francisco abordou ainda a situação “deveras trágica” na Ucrânia, assumindo de novo a vontade de visitar Kiev e Moscovo, que só deve acontecer após a viagem ao Cazaquistão, 13 a 15 de setembro, por causa dos problemas num joelho que limita a mobilidade do pontífice.

O Papa diz que tem procurado chegar aos presidente da Ucrânia e da Rússia, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin.

“Tenho mantido o contacto por telefone. E faço o que posso. E peço a toda a gente que faça o que puder. Entre todos podemos fazer alguma coisa”, realçou.

 

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