D. José Ornelas afirma que a pandemia ensinou a viver com menos, mas alerta que para alguns o menos é «quase nada»
Setúbal, 31 dez 2020 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou em entrevista à Agência ECCLESIA que o ano 2020 “foi mauzinho” por causa da pandemia, obrigou a fazer reajustes e a aprender a “viver com menos”, por vezes “quase nada”.
“Não tentemos fazer disto um discurso bonito! Não, o ano foi mauzinho… Experimentámo-lo, os que foram diretamente atingidos pelo vírus, mas também as outras consequências que todos sentimos, os que estavam perto deles, os assistiram e os que sofreram as consequências colaterais”, disse D. José Ornelas.
Para o bispo de Setúbal, o esforço provocado pelas consequências da pandemia capacitou para “encontrar soluções”, assumindo que há sempre espaços da sociedade e da vida de cada um “que têm de ser reajustados” e “tantas vezes com limitação”.
“Oxalá aprendamos alguma coisa com isto: que é possível viver com menos. Mas não queremos que esse menos signifique quase nada para alguns”, alertou D. José Ornelas.
O bispo de Setúbal lembrou as pessoas que ficaram sem emprego por causa da paragem da produção e do comércio e disse que “algo se tem feito” para “fazer convergir esforços de todo o mundo”, aproximando “pontos de partida muitos distantes” para encontrar soluções, como aconteceu na Europa.
D. José Ornelas referiu o caso da vacinação na Europa, “todos juntos”, alertando para “o resto do mundo” e para o facto de não se poder “deixar de lado os que não têm possibilidade comprar a vacina”, condenando quem possa estar a “fazer fortuna” e a “viver com a desgraça dos outros”.
O presidente da CEP considera que a Igreja Católica “aprendeu a viver” ao longo do último ano, em tempo de pandemia, e “isso não é pouco”.
“Nunca fizemos um decreto de fechar as Igrejas, mas dimensionar a manifestação da nossa fé às necessidades que o mundo tem”, afirmou, considerando o Natal, o nascimento de Jesus a experiência por excelência de “carência e de limitação”.
“O Menino vai nascer assim, não menos fecundo. Porque não nasce numa realidade preparada, mas que é sempre contingente, onde a mensagem do Evangelho encontra espaço no coração das pessoas, onde quer que seja”, sublinhou.
O presidente da CEP lembra que, no contexto da pandemia, “criaram-se coisas novas” para dar continuidade às iniciativas das comunidades, “não como substitutos de nada, mas o que era possível no momento”.
“Nós não vamos deixar de anunciar o Evangelho, não deixamos de ter as Igrejas abertas, porque a fé não se encerrou, nem o ser Igreja, nem o anúncio do Evangelho: mas isso tem de ser adaptado às condições em que vivemos”, afirmou o bispo de Setúbal.
A entrevista a D. José Ornelas pode ser acompanhada no programa Ecclesia que é emitido no último dia de 2020 e no primeiro de 2021 na Antena 1, pelas 22h45, e no dia 1 de janeiro de 2021 na RTP2, às 15h00.
PR