2012, ano para a história da Arquidiocese de Braga

D. Jorge Ortiga, arcebispo bracarense, apresenta à Agência ECCLESIA os projetos e objetivos da Igreja Católica perante a realização das Capitais Europeias da Cultura (Guimarães) e da Juventude (Braga), que incluem iniciativas em ligação com a Santa Sé, durante este ano, deixando votos de que surge um novo dinamismo entre os fiéis da região

Agência ECCLESIA (AE) – Na diocese de Braga estão a decorrer dois acontecimentos de nível europeu: Guimarães – Capital Europeia da Cultura e Braga – Capital Europeia da Juventude. A igreja bracarense está envolvida nestes projetos?

D. Jorge Ortiga (JO) – Desde o início que a arquidiocese se ofereceu para promover determinadas iniciativas que ficassem integradas nos dois acontecimentos. Há um conjunto de projetos feitos, para este ano, excecionalmente. Já elaborei uma mensagem de saudação aos jovens para Braga e aos membros da cultura para Guimarães. Esta – traduzida em espanhol e em inglês – encontra-se nas nossas igrejas como um gesto de acolhimento a quem nos procura.

 

AE – E, concretamente, para os jovens?

JO – Olhando para a juventude e todo o dinamismo da pastoral juvenil, centralizámos, em Braga, atividades com outra ênfase, no sentido de mostrar uma juventude que, estando ligada à Igreja, está comprometida com os variados problemas. Já se realizou o Fórum da Pastoral Juvenil e as jornadas de Teologia abordaram também esta temática. Na Semana Santa vamos realizar uma Via-Sacra para jovens e de jovens. A celebração do Dia Diocesano da Juventude será em Braga e, nessa mesma altura, teremos a presença de um conjunto internacional – sediado em Itália – «Gen Rosso». No dia 15 de abril dará um espetáculo mas, antes, trabalhará com os jovens universitários.

Este ano, o Festival JOTA será feito em Braga e que junta diversas bandas de jovens com mensagem cristã.

Nesta diocese, os escuteiros têm uma grande expressão e a abertura do ano escutista (segundo domingo de setembro) será também aqui. Nessa altura, teremos mais de 15 mil jovens presentes na cidade de Braga.

 

AE – Este ano, os jovens terão uma atenção permanente?

JO – Na mensagem da Quaresma deste ano alertei para isso e disse que «é necessário estar atento aos jovens».

 

AE – Em Braga, as celebrações da Semana Santa são um verdadeiro cartaz turístico e cultural?

JO – Foi reconhecida como interesse nacional ao nível do turismo. Este acontecimento não é apenas de Braga, mas está ao serviço do mundo. Mesmo neste clima com alguma austeridade e de redução de custos, não deixará de ter o brilho que sempre teve. O povo sabe participar, viver e mostrar aquilo anima, diariamente, a sua vida: a fé cristã. A alma deste povo está marcada pela mensagem de Cristo.

 

AE – Esta marca cristã tem consequências no quotidiano deste povo?

JO – Nesta diocese procura-se fazer com que o cristianismo seja capaz de influir nos diversos ambientes sociais. Fazer com que a fé seja compatível com qualquer domínio da ciência. Tentamos fazer com que este divórcio entre fé e cultura (como falou o Papa Paulo VI) desapareça. O Papa Bento XVI tem insistido e maravilhosamente manifestado que é possível a convivência da fé com a cultura.

 

AE – E a ligação que a diocese está a fazer com a capital da cultura?

JO – Estamos a prosseguir o inventário das igrejas de Guimarães, centro histórico da cidade. Fizemos um roteiro turístico onde propomos uma oferta do património cultural de Guimarães. Há algumas manifestações de património imaterial que iremos desenvolver com outra intensidade, nomeadamente a célebre «Ronda da Lapinha» (peregrinação a um santuário que fica perto da Penha).

 

AE – Estas são de âmbito estritamente religioso. E a promoção do diálogo com os agentes da cultura que não partilham a mesma fé?

JO – Em novembro, dias 26 e 27, realiza-se o «Pátio dos Gentios», um espaço de diálogo entre o pensamento católico e outros modos de pensar. Estamos a elaborar o programa e, em princípio, a temática será a «Dialética». Estará presente o cardeal Gianfranco Ravasi (presidente do Conselho Pontifício da Cultura) e também algumas personalidades do estrangeiro e nacionais ligadas à área do pensamento.

 

AE – Nos tempos que correm, este diálogo entre crentes e não crentes é fundamental?

JO – Temos de nos sentir em relação permanente de diálogo e, porventura, de confronto de ideias, mas mostrar que é possível conviver em harmonia apesar dos pensamentos diferentes. Não é o facto de alguém se considerar laico, indiferente, agnóstico ou ateu militante que impede uma convivência fraterna. Tudo isso é secundário porque o bem da humanidade é que interessa.

 

AE – Será dada alguma relevância à criação artística?

JO – Teremos muitas exposições e concertos. Em Guimarães, sei que há grupos corais que estão a trabalhar nessa área e organizar concertos nas igrejas durante este ano. Há uma preocupação muito grande de não se desligar dessa dimensão cultural.

 

AE – Nas festividades religiosas e nos dias santos, a diocese terá outro tipo de programação?

JO – São celebrações que a diocese celebra com muito entusiasmo e muita devoção, mas estes dois acontecimentos farão com que nos possamos comprometer mais. Por exemplo, as «Procissões dos Passos» que acontecem em variados locais da diocese são vividas com intensidade e, este ano, estarei na cidade de Guimarães.

 

AE – O «Dia de todos os Santos» e o «Dia dos fiéis defuntos» são datas onde a transcendência se manifesta também de forma bem visível.

JO – São manifestações de fé no país inteiro, mas o facto da celebração dos fiéis defuntos ser no dia seguinte, não tem facilitado a vivência da grande festa: Dia de todos os Santos. Este não é apenas um problema de Braga, mas talvez se dê menos importância à festa de todos os santos e se preste mais atenção aos fiéis defuntos. Talvez a festa de todos os santos necessitasse de ser celebrada com mais devoção e profundidade, naquilo que ela é e naquilo que significa: O apelo à transcendência.

 

AE – A devoção mariana é outra característica do povo português e, concretamente, na diocese de Braga.

JO – Braga é povoada por um conjunto de santuários e a grande maioria são marianos. Ocasião para mostrar uma grande fé a Nossa Senhora. Os dias ligados a Nossa Senhora – 15 de agosto, 8 de dezembro e os trezes, particularmente de maio e outubro – são autênticas manifestações de fé.

O rito bracarense que não está morto, embora não esteja suficientemente organizado, tem um cunho mariano muito grande. Está marcado por uma grande devoção a Nossa Senhora.

 

AE – Com estes dois acontecimentos na diocese, não seria a altura ideal de tirar o rito bracarense «da gaveta» e dá-lo a conhecer melhor aos cristãos?

JO – Já se falou nisso, mas é complicado. No entanto, na Semana Santa temos o cuidado de integrar esse rito na celebração.

 

AE – Neste cunho cultural que lugar ocupa o livro religioso?

JO – Temos uma livraria diocesana, no entanto se a situação económica fosse diferente queríamos potencializá-la melhor com outro tipo de oferta e outra qualidade. No fundo, dar-lhe outra dimensão, mas tudo isto em colaboração com a Universidade Católica.

 

AE – Com estas iniciativas, o ano 2012 ficará na história da diocese de Braga?

JO – Queríamos que estas fossem para nós um exame de consciência, não apenas para bater com a mão no peito, mas para tirar algumas conclusões que façam parte do ritmo da vida quotidiana da diocese.

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